Com a aproximação da Black Friday, varejistas e empresas de serviços digitais elevam o nível de atenção: além de ser uma das datas de maior movimentação no comércio eletrônico, o período se transformou em um verdadeiro “pico de estresse” para os sistemas de segurança digital. O ambiente de compras por impulso, volume elevado de transações e operações sob pressão cria o cenário ideal para ataques, golpes e fraudes em escala.
Segundo levantamento da LexisNexis Risk Solutions, cada R$ 1 perdido em fraude gera um prejuízo real de R$ 3,59 para as empresas, quando somados custos operacionais, judiciais e danos à reputação. O impacto, portanto, vai muito além do financeiro, atinge confiança, conversão e credibilidade das marcas.
Para entender como o crime digital evoluiu e quais estratégias as empresas precisam adotar para mitigar riscos, a reportagem entrevistou Marcelo Sousa, VP de Produto da Caf.
Black Friday no radar: fraudes mais sofisticadas e consumidores mais vulneráveis
Marcelo Sousa explica que, durante a Black Friday, o comportamento dos usuários muda e os criminosos se adaptam rapidamente a esse fenômeno. “A cultura dos grandes descontos deixa as pessoas mais excitadas e menos desconfiadas. É muito mais fácil embutir links fraudulentos e ofertas irreais”, afirma.
Enquanto em dias comuns o consumidor tende a desconfiar de preços “bons demais para ser verdade”, na Black Friday há uma expectativa legítima por descontos agressivos. Com isso, a barreira psicológica de proteção cai e golpes como phishing, smishing e fraudes de identidade encontram terreno fértil.
Além disso, a combinação de pressa, compras impulsivas e plataformas sobrecarregadas aumenta a superfície de ataque.
“A urgência do ‘é só hoje’ ou ‘últimas unidades’ baixa a guarda do usuário. E os criminosos usam exatamente esse estado emocional para camuflar golpes entre milhares de ofertas reais”, explica o executivo.
Fraude como serviço: a profissionalização do crime digital
Um dos pontos mais preocupantes apontados por Sousa é a transformação da fraude em uma verdadeira indústria. “Hoje existe o que chamamos de ‘fraude as a service’. Grupos vendem cursos, kits, mentoria e ferramentas para quem quer entrar nesse mundo”, detalha.
A facilidade de acesso a tecnologias avançadas, especialmente soluções de inteligência artificial, permitiu que golpistas produzissem páginas, mensagens e documentos quase indistinguíveis dos legítimos.
Há dez anos, golpes exigiam conhecimento técnico elevado. Hoje, qualquer pessoa mal-intencionada pode adquirir ferramentas “prontas”, que automatizam ataques, clonam comunicações e exploram vulnerabilidades.
Criminosos já operam com tecnologia comparável à das empresas
Outro ponto crítico é a simetria tecnológica entre criminosos e empresas. Se antes companhias tinham vantagem por acesso a ferramentas robustas, o cenário mudou. “Com IA barata e computação em nuvem acessível, até um fraudador iniciante consegue ferramentas poderosas”, afirma Sousa.
A diferença é que empresas precisam seguir normas e legislações, como a LGPD, o que limita sua atuação. Já fraudadores não têm qualquer restrição legal, e isso acelera ataques.
Ainda assim, Sousa reforça que as empresas possuem vantagem estratégica: inteligência integrada, múltiplas camadas de proteção e conhecimento profundo sobre padrões de comportamento.
“O ponto central é: não existe mais ‘bala de prata’. Se a empresa depender de uma única camada de defesa, em algum momento vai falhar”, alerta.
Fricção na jornada x segurança: é possível equilibrar?
Uma das maiores dificuldades para o varejo é equilibrar proteção e experiência do usuário. Barreiras excessivas reduzem conversão; barreiras insuficientes aumentam o risco de fraude.
Mas esse equilíbrio já é possível graças a tecnologias de análise comportamental e verificações silenciosas.
“Hoje conseguimos verificar dados nos bastidores, em milésimos de segundo, sem atrapalhar a jornada. Só aplicamos fricção pesada, como biometria facial, quando há sinais claros de anomalia”, explica Sousa.
A estratégia é separar o “joio do trigo”, usuários conhecidos e comportamentos legítimos passam por fluxos rápidos; transações estranhas enfrentam camadas adicionais de autenticação.
Confiança virou ativo estratégico na Black Friday e empresas precisam liderar essa comunicação
Além do impacto financeiro, há um efeito emocional crescente no consumidor, que teme cair em golpes e, por isso, hesita em finalizar compras online.
“Hoje, reputação e confiança são ativos. Empresas precisam falar de segurança, educar o consumidor e explicar o motivo das validações. Isso reduz a ansiedade e aumenta a conversão”, afirma Sousa.
Instituições financeiras, varejistas e marketplaces passaram a investir em conteúdo de orientação e em campanhas sobre uso seguro de plataformas, movimento que tende a se intensificar.
Inteligência, velocidade e múltiplas camadas: o que define a nova defesa antifraude
De acordo com Marcelo Sousa, a nova era da prevenção exige três pilares:
- análise comportamental em tempo real;
- inteligência artificial para detectar padrões anômalos;
- múltiplas camadas de autenticação calibradas por risco.
Todas essas etapas precisam ocorrer em milésimos de segundo, sem comprometer a experiência do usuário idôneo.
A Black Friday como teste definitivo para a segurança digital
A conclusão do especialista é direta, a Black Friday deixou de ser apenas uma data comercial. Tornou-se o maior teste de estresse anual para a segurança digital.
“Criminosos estão mais organizados, mais rápidos e mais tecnológicos. Mas empresas também estão. A diferença estará na capacidade de usar dados e IA para prever e bloquear ataques antes que aconteçam”, finaliza Sousa.
Para consumidores e empresas, o recado é o mesmo: informação, inteligência e preparo são as melhores defesas em um ambiente onde golpes evoluem tão rápido quanto as ofertas.
















