O Banco Central divulgou nesta segunda-feira (10) o Boletim Focus, e as projeções do mercado financeiro para os principais indicadores econômicos do país permaneceram praticamente inalteradas. A mediana das estimativas para o IPCA de 2025 foi mantida em 4,55%, refletindo a percepção de estabilidade do cenário inflacionário no curto prazo. Já a previsão para o PIB segue em 2,16%, sem alteração em relação à semana anterior.
Esse comportamento reforça a leitura de que o mercado ainda espera uma política monetária contracionista por mais tempo. A expectativa para a taxa Selic no fim de 2025 permanece em 15%, o que indica que os analistas veem pouca margem para cortes no curto prazo.
Para os anos seguintes, a projeção segue em assim:
- 2026 – 12,25%;
- 2027 – 10,50%;
- 2028 – 10%.
O economista Maykon Douglas destaca que todos os principais indicadores se mantiveram estáveis em relação à edição anterior, com destaque para a inflação. “Inclusive as expectativas mais longas (2027 e 2028) para o IPCA, que estavam caindo em conjunto desde meados de outubro“., avalia.
Inflação segue controlada segundo o Focus, mas mercado monitora próximos meses
As expectativas para a inflação dos próximos anos continuam ancoradas. O mercado projeta 4,20% para 2026, 3,80% para 2027 e 3,50% para 2028, o que mantém a perspectiva de convergência gradual para o centro da meta. No curto prazo, o Focus aponta que o IPCA deve variar 0,15% em outubro, 0,22% em novembro e 0,50% em dezembro, resultando em uma inflação suavizada de 4,08% nos últimos 12 meses.
Nesse contexto, o IGP-M, índice de referência para contratos e aluguéis, apresentou leve ajuste negativo para 2025, passando de -0,20% para -0,22%. Para os próximos anos, as estimativas seguem em 4,08% para 2026, 4,00% para 2027 e 3,86% para 2028. Apesar da estabilidade, os analistas avaliam que a desaceleração da atividade global e a volatilidade cambial podem influenciar a trajetória dos preços no fim do ano.
Como o mercado enxerga o crescimento do PIB
As projeções para o crescimento econômico também se mantêm sem grandes revisões. O PIB de 2025 deve avançar 2,16%, sustentado pelo consumo das famílias e pela retomada gradual do investimento. Para 2026, o indicador está em 1,78%, seguido por 1,88% em 2027 e 2% em 2028. Segundo analistas, o equilíbrio entre juros altos e inflação controlada deve continuar limitando o ritmo de expansão da economia, mas o país pode se beneficiar de uma agenda de investimentos em infraestrutura e energia.
Além disso, o setor externo tende a continuar contribuindo positivamente, com exportações ainda robustas e fluxo constante de capital produtivo. O desafio, no entanto, permanece na melhora do ambiente fiscal e na previsibilidade das políticas públicas, que são fatores determinantes para destravar novos investimentos.
Cenário fiscal e dívida pública continuam no radar, segundo o Focus
As projeções fiscais seguem sem grandes alterações, mas ainda inspiram cautela. O resultado primário deve fechar 2025 com déficit de 0,50% do PIB, o mesmo nível estimado na semana anterior. Para os próximos anos, o mercado projeta déficit de 0,6% em 2026, seguido de melhora para 0,40% em 2027 e 0,14% em 2028. A trajetória indica uma expectativa de ajuste gradual, mas que ainda depende do desempenho da arrecadação e do controle das despesas obrigatórias.
A dívida líquida do setor público é outro ponto de atenção. A mediana das projeções mostra avanço de 65,8% do PIB em 2025 para 70,1% em 2026, chegando a 73,8% em 2027 e 76% em 2028. Mesmo sem grandes revisões, o mercado observa com preocupação o ritmo de crescimento do endividamento, que pode pressionar o custo de financiamento e influenciar as expectativas de longo prazo.
O que esperar para o câmbio e o cenário externo
O dólar deve permanecer estável, com projeção de R$ 5,41 para o fim de 2025 e R$ 5,50 nos anos seguintes. A balança comercial tende a encerrar o ano com superávit de US$ 62 bilhões, enquanto o déficit em conta corrente deve alcançar US$ 72,1 bilhões. O Investimento Direto no País (IDP) foi mantido em US$ 70 bilhões para 2025 e 2026, subindo para US$ 71,4 bilhões em 2027 e US$ 75 bilhões em 2028, refletindo estabilidade na confiança do investidor estrangeiro.
Por outro lado, o ambiente internacional ainda pode afetar essas projeções. O avanço dos juros nos Estados Unidos e as incertezas fiscais domésticas podem aumentar a volatilidade cambial. Enquanto isso, a expectativa por novas medidas do governo brasileiro para conter gastos e reforçar o superávit segue como ponto-chave para o comportamento do real.
Ata no radar do mercado
O novo boletim indica que o mercado financeiro adota uma postura de cautela antes da divulgação da ata do Copom, marcada para esta terça-feira (11). O documento deve detalhar os argumentos que levaram o colegiado a manter a Selic em 15%, reforçando o compromisso de segurar a inflação mesmo em meio à desaceleração do crescimento. “A ata será importante para calibrar, por exemplo, como (e se) o Comitê incorporou alguma das medidas econômicas do governo em seus cenários e como os membros enxergam a evolução da sinalização futura“, avalia Maykon Douglas.
Ele destaca a importância da continuação da queda nas expectativas mais longas, pois é lá que se encontra o horizonte relevante de política monetária. “A reancoragem adicional é necessária para que o Copom comece a cortar os juros no ano que vem“, avalia.
O que esperar para os próximos dias?
O consenso entre os economistas é de que o cenário de estabilidade nas projeções reflete um período de observação. O mercado aguarda novas sinalizações fiscais e uma eventual melhora na atividade econômica antes de revisar suas apostas. Nesse sentido, o Focus desta semana reforça a percepção de uma economia em compasso de espera, com inflação sob controle, juros altos e uma confiança que ainda depende de maior previsibilidade política e fiscal.
- IPCA 2025: 4,55%
- Selic 2025: 15%
- PIB 2025: 2,16%
- Câmbio: R$ 5,41
- Dívida Pública: 65,8% do PIB
Com esse conjunto de dados, o Boletim Focus reforça que a economia brasileira segue em trajetória de estabilidade, ainda que em um ambiente de juros elevados e crescimento moderado. O próximo passo dependerá da comunicação do Banco Central e da capacidade do governo de garantir um ajuste fiscal crível para sustentar a confiança do mercado nos próximos meses.