O mercado de títulos dos Estados Unidos voltou a chamar atenção nas últimas semanas com a disparada das taxas de juros de longo prazo, reflexo direto da percepção de risco fiscal crescente. A taxa do título de 30 anos atingiu níveis não vistos em mais de duas décadas, o que acendeu um alerta entre investidores sobre a sustentabilidade da dívida americana.
Para o economista Vandyck Silveira, o cenário sinaliza que os EUA podem estar rumando para uma reprecificação da dívida, trocando papéis longos por curtos, mais caros e de vencimento acelerado. “A maturidade da dívida está sendo reduzida. Eles estão rolando dívida longa por dívida curta e mais cara. Isso não se sustenta por muito tempo”, afirmou em entrevista à BM&C News.
Fiscal no radar: risco de default é descartado, mas monetização da dívida preocupa
Apesar da tensão nos mercados sobre o fiscal, Silveira descarta a possibilidade de calote (“default”) por parte dos EUA. Para ele, o risco maior está em outro ponto: a monetização da dívida. “Não acredito em default, mas sim em inflação estruturalmente elevada como forma de diluir o passivo. Falar em inflação a 2% nos próximos anos é promessa vazia”, avaliou.
Com déficits altos e recorrentes, a tendência é de aumento contínuo da dívida pública americana. Em 2023, segundo o economista, mais de US$ 8 trilhões em títulos venceram, forçando o Tesouro a emitir novos papéis — agora, com juros mais altos.
Inflação persistente, desvalorização do dólar e os impactos no fiscal
A pressão sobre a dívida e a reprecificação dos ativos têm reflexos diretos sobre o dólar. Vandyck Silveira aponta que a moeda americana já vem perdendo força frente ao euro e ao real, o que acaba tendo um efeito secundário positivo para o Brasil. “Sem essa desvalorização, o câmbio estaria próximo de R$ 6. A queda do dólar ajudou o Brasil a segurar parte da inflação via importados”, explicou.
Ainda assim, ele alerta que essa pode ser a única benesse para o Brasil em meio à deterioração fiscal dos EUA.
O impacto não se limita às fronteiras americanas. Silveira reforça que os Estados Unidos são o centro do investimento global, e que juros elevados afetam diretamente a capacidade de crédito e consumo — responsáveis por cerca de 75% do PIB norte-americano. “Os EUA vivem de crédito. Se esse crédito encarece, o mundo inteiro sente. O risco é de uma desaceleração global relevante”, afirmou.
Na visão do economista, o atual quadro aproxima os Estados Unidos de uma realidade semelhante à brasileira, com desequilíbrio fiscal crônico e dificuldades para manter crescimento sustentável sem recorrer ao endividamento constante.
















