O Ray Dalio, um dos maiores gestores do mundo, voltou a chamar atenção para os rumos da política e da economia dos Estados Unidos. Em declarações recentes, ele comparou a postura do governo Donald Trump a movimentos autocráticos do início do século XX, destacando riscos de tarifas comerciais, interferência política no Banco Central e impactos sobre a confiança internacional no país.
A crítica de Ray Dalio reacendeu o debate entre gestores e analistas de Wall Street sobre os efeitos de médio e longo prazo das medidas de Trump. Para ele, além do risco de elevação de custos para empresas e consumidores, a credibilidade das instituições americanas pode ser comprometida caso o cenário se prolongue.
Qual o peso das declarações de Ray Dalio?
O economista Bruno Corano, em entrevista à BM&C News, avaliou que as falas de Ray Dalio não podem ser ignoradas. “Eu não posso questionar o sucesso dele de forma alguma. Ele criou o maior hedge fund do mundo. Na crise de 2008, surfou a onda enquanto os mercados caíam”, destacou. Segundo Corano, o peso de nomes como Dalio ou Jamie Dimon está justamente na capacidade de influenciar percepções de mercado sempre que fazem declarações contundentes.
No entanto, Corano pondera que, apesar das críticas, o risco de uma “perda absoluta de credibilidade” dos Estados Unidos é limitado pelos próprios ciclos políticos. “Mais três anos, o Trump sai. E mesmo que entre um republicano, não vai ter as mesmas características. A tendência é que a maior parte das pessoas elegíveis seja minimamente mais ponderada”, afirmou.
Divisão de visões em Wall Street
A avaliação de Dalio também expõe uma divisão entre gestores. Parte de Wall Street prefere manter a máxima de “never bet against America” (nunca aposte contra os Estados Unidos), enquanto outra leva em consideração os riscos de erosão da hegemonia americana diante de políticas mais intervencionistas. Para Corano, essa divergência reflete não apenas leituras distintas sobre Trump, mas também diferentes estratégias de atuação no mercado global.
Embora reconheça sinais autocráticos no governo americano, Corano não acredita que isso se traduza em um colapso estrutural. “Concordo em partes com o Ray Dalio, mas não chegaria a sentenciar o comprometimento dos Estados Unidos. Antes que a casa caia, as pessoas no poder vão mudar”, afirmou. O economista destacou ainda que a polarização política atual pode ser vista como um ápice de extrema-direita, mas que o sistema institucional americano tende a limitar os efeitos mais duradouros.
O que esperar dos próximos anos?
A visão de Dalio reforça preocupações sobre volatilidade, tensões comerciais e incertezas regulatórias. Já a análise de Corano sugere que o impacto pode ser mais contido, dado o caráter temporário dos ciclos eleitorais. Nesse cenário, investidores seguem atentos às próximas movimentações de Trump e às possíveis consequências para a economia global.
Enquanto Ray Dalio projeta alertas sobre riscos sistêmicos, analistas como Bruno Corano destacam que o sistema político americano ainda funciona como contrapeso. A combinação entre declarações fortes e ciclos curtos de poder deve manter os mercados em estado de atenção, mas sem confirmar, por ora, uma ruptura estrutural.
















