A pauta de segurança pública voltou ao centro do debate nacional e ganhou contornos de disputa ideológica. Enquanto narrativas se enfrentam, especialistas alertam que o crime já opera como economia organizada com faturamento estimado em R$ 400 bilhões por ano. Nesse cenário, a ação do Estado, a atuação do Judiciário e a influência de facções se cruzam e afetam diretamente a vida do cidadão e o ambiente de negócios.
No Painel BM&C apresentado por Paula Moraes, os especialistas Roberto Dumas, Bruno Musa e Rodrigo Marinho analisam o tabuleiro. Eles apontam que as operações recentes no Rio de Janeiro reacenderam a discussão sobre protagonismo federal e limites de competência. Além disso, emergem questões que tocam o bolso do brasileiro como perda de competitividade, evasão tributária e custo privado de segurança que desloca recursos da produtividade.
O crime como variável macroeconômica: os impactos na segurança pública
Segundo os convidados, o crime organizado impacta preços, oferta e logística ao capturar cadeias inteiras de valor. Dumas lembra perdas históricas de distribuidoras de energia por furtos e fraudes estruturadas por milícias. Por outro lado, o risco de transporte e o encarecimento de seguros inibem a circulação de mercadorias e elevam custos ao consumidor final.
Entre os números citados na conversa aparecem a estimativa de R$ 136 bilhões em evasão de impostos ligada a fraudes como a operação carbono e um efeito direto sobre empregos com algo em torno de 370 mil postos atingidos. Enquanto isso, crimes cibernéticos e golpes financeiros somariam prejuízos superiores a centenas de bilhões, pressionando empresas e famílias e ampliando o chamado risco Brasil.
Segurança pública em alerta: Brasil caminha para um narcoestado
Parte do debate gira em torno da classificação de facções como grupos terroristas e suas consequências institucionais. Dumas sustenta que os elementos de coerção territorial e captura de poder político se aproximam da definição de terrorismo. Musa acrescenta que, do ponto de vista de precificação, boa parte desse risco já está no preço dos ativos e nas decisões de seguro e logística de empresas que evitam rotas mais expostas.
Rodrigo Marinho defende que a descentralização das operações de combate mostrou resultados e critica propostas que concentram a pauta na União. Além disso, argumenta que proibições regulatórias em segmentos como cigarros eletrônicos abrem espaço para mercados totalmente dominados pelo ilícito, criando concorrência desleal e erosão de base tributária.
Quem dita as regras no Brasil hoje?
No campo institucional, os entrevistados apontam o avanço do protagonismo do Supremo e questionam sua presença operacional em temas de segurança. Nesse sentido, afirmam que o equilíbrio entre poderes deve ser preservado para garantir legitimidade das ações. Por outro lado, pesquisas de opinião citadas no programa indicam apoio majoritário de moradores de áreas vulneráveis a incursões policiais, o que recoloca o foco na recuperação de territórios e no direito de ir e vir.
O consenso do Painel é que a efetividade depende de três pilares:
- Sustentação social para ações de retomada de áreas capturadas pelo crime.
- Um Judiciário capaz de punir de forma célere e de assegurar permanência de lideranças criminosas fora de circulação.
- Um desenho de políticas que reduza brechas regulatórias e fiscais exploradas por redes ilícitas.
Quais medidas podem reduzir o custo do crime na economia?
Para além da resposta policial, o debate sugere que um pacote integrado de medidas econômicas, regulatórias e institucionais pode reduzir os incentivos ao crime. Além disso, políticas de concorrência e de simplificação tributária ajudam a fechar portas para a informalidade estrutural e para a captura de cadeias logísticas. Enquanto isso, cidades e estados que melhoram governança e fiscalização tendem a sinalizar menor risco a investidores.
As medidas para reduzir o custo do crime:
- Fortalecer investigações financeiras e responsabilizar devedores contumazes que financiam redes ilícitas
- Harmonizar regulação para evitar proibições que empurrem mercados inteiros ao controle do crime
- Garantir coordenação entre inteligência estadual e federal com metas claras e avaliação contínua
- Reforçar recuperação de ativos e confisco patrimonial para asfixiar o caixa do crime
- Ampliar proteção a cadeias críticas como energia logística e telecomunicações
Impactos imediatos para empresas e investidores
Empresas expostas a rotas de alto risco enfrentam prêmios de seguro mais altos e restrições operacionais. Nesse sentido, a precificação de ativos incorpora custos de proteção e perdas potenciais de receita. Por outro lado, ambientes com segurança mais previsível atraem capital produtivo e melhoram o perfil de emprego local, reforçando a arrecadação e a capacidade fiscal de estados e municípios.
Para investidores, o recado do painel é objetivo. Monitorar sinais institucionais, estabilidade regulatória e eficácia no combate ao crime ajuda a calibrar risco setorial e regional. Além disso, setores de utilidade pública logística e varejo em regiões sensíveis podem mostrar desempenho distinto conforme a evolução das políticas de segurança e de justiça criminal.
O debate conduzido por Paula Moraes aponta que segurança pública deixou de ser apenas tema policial e passou a ser variável determinante de produtividade, competitividade e bem estar. Enquanto isso, crime organizado expande sua presença na economia real e testa a resiliência das instituições. A combinação de ação territorial, reformas legais e coordenação entre poderes define se o país recupera espaços perdidos e reduz o custo do crime sobre famílias empresas e investimentos.