Os quatro governadores que se apresentam – ou são apresentados – como pré-candidatos à presidência da república em 2026 têm diante de si um dilema: precisam do apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro para destravar o processo eleitoral; mas, ao mesmo tempo, sabem que a importância relativa de Bolsonaro está diminuindo (em pesquisa recente do Instituto Quaest, 55% dos brasileiros acham que sua prisão domiciliar é “justa”).
Embora exista uma rejeição crescente em relação ao ex-presidente, ele não pode ser descartado imediatamente pelos pré-candidatos, especialmente no caso de Tarcísio de Freitas. Enquanto Ronaldo Caiado, Ratinho Jr. e Romeu Zema têm uma carreira política independente do bolsonarismo, Tarcísio ocupa o Palácio dos Bandeirantes por insistência do ex-capitão, que trabalhou fortemente por sua candidatura em 2022.
Mas isso não quer dizer que o governador paulista seja um bolsonarista da gema. De perfil técnico e um estilo político apaziguador, ele guarda mais semelhanças com o centro do que com a direita mais extremada. Volta e meia, é verdade, o governador dá acenos aos bolsonaristas. Mas, no dia a dia, está mais próximo da personalidade de Gilberto Kassab do que de Jair Bolsonaro.
Ocorre que, neste momento, os quatro governadores ainda esperam ser ungidos por Bolsonaro – embora os parlamentares de centro já tenham rifado o ex-presidente e entendido (com razão ou não) que Bolsonaro, neste momento, mais atrapalha do que ajuda.
Mas vamos dizer que o ex-presidente escolha logo um dos quatro nomes para ser o seu candidato em 2026. Na continuidade da campanha, é bem possível que Bolsonaro seja esquecido ou pouco lembrado. Com exceção, obviamente, do momento em que o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal chegar ao fim. Nos últimos meses, todos os governadores que postulam a presidência fizeram questão de dar declarações alinhadas com o conservadorismo. Mas, para vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vão precisar mostrar distância de Bolsonaro e afagos ao centro.
Essa estratégia tiraria votos destes candidatos? Não necessariamente. Os eleitores de direita podem até não gostar de uma aproximação com o centro. Mas vão votar em qualquer um que antagonize com Lula no segundo turno, não importa o quão moderado esse candidato tiver sido na etapa inicial campanha.
Nos últimos dias, os eleitores perceberam que Tarcísio voltou ao jogo, depois de algumas semanas de desânimo. Mas, para ganhar a atenção do público, terá de se afastar aos poucos do ex-presidente. Isso não quer dizer que deva haver um rompimento. Não, muito pelo contrário. A última coisa que o governador paulista precisa é ganhar a pecha de traíra. Portanto, quem vai dar o tom nos próximos dias é o próprio Bolsonaro. O ideal seria vê-lo atuar de forma discreta em relação ao processo eleitoral. Mas, convenhamos, esse não é o estilo do ex-presidente.
Portanto, senhoras e senhores, o jogo está aberto e vai ficar ainda mais indefinido antes de apontar um cenário mais previsível. Até lá, haja coração.