O Brasil mantém uma relação ambígua com suas estatais. Ao mesmo tempo em que convive com empresas públicas deficitárias, resiste a discutir privatização como instrumento de eficiência e reorganização do papel do Estado.
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Jorge Lima, essa hesitação tem custo econômico elevado e ajuda a explicar por que o país segue crescendo pouco, mesmo em um ambiente global favorável.
“O Estado brasileiro acumula funções demais e entrega resultado de menos”, afirmou o secretário em entrevista à BM&C News.
Na avaliação de Lima, a discussão sobre privatização precisa ser tratada como uma agenda econômica, não ideológica.
“A pergunta não é se o capital é público ou privado. A pergunta é: funciona? Entrega serviço com qualidade? Gera produtividade?”, disse.
Estatais: exemplos de ineficiência estrutural
Os Correios são um dos exemplos mais emblemáticos citados pelo secretário. A estatal registra prejuízos recorrentes e depende de soluções de curto prazo para manter o fluxo de caixa, sem atacar as causas estruturais da ineficiência. Para Lima, insistir em manter a empresa sob controle estatal significa perpetuar um problema conhecido.
“Se existe um caso claro de ineficiência estrutural, ele está nos Correios. O mundo inteiro resolveu isso há décadas”, afirmou.
Segundo o secretário, a privatização permitiria ao governo concentrar esforços em áreas essenciais, como saúde, educação e segurança, além de reduzir a necessidade de aportes recorrentes.
“O Estado precisa focar no que é indelegável. Operar empresa de logística não é uma dessas funções”, disse.
BNDES também é exemplo de ineficiência
A crítica se estende ao modelo de atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para Lima, historicamente o banco atuou mais como sustentação de grandes empresas maduras do que como indutor de produtividade e inovação.
“O crédito público no Brasil ficou concentrado em poucos setores e empresas, muitas vezes servindo como amortecedor de ineficiências”, afirmou.
Na avaliação do secretário, o modelo adotado por São Paulo aponta um caminho alternativo. O Estado direcionou sua agência de fomento para pequenas e médias empresas, com foco em geração de emprego, inovação e dinamização regional.
“É nesse segmento que estão os ganhos marginais de produtividade. Apostar apenas em grandes grupos não destrava o crescimento”, disse.
Lima defende que o BNDES poderia cumprir papel semelhante em escala nacional, desde que com critérios claros de eficiência, acompanhamento de resultados e foco em setores com potencial de crescimento.
“Crédito sem disciplina e sem meta não gera desenvolvimento. Gera dependência”, afirmou.
Estatais e a ambiguidade do modelo brasileiro
O secretário também argumenta que a resistência à privatização está associada a uma visão distorcida sobre perda de controle e arrecadação. Segundo ele, existem múltiplos modelos possíveis, desde a privatização total até estruturas híbridas, com o Estado mantendo participação minoritária e recebendo dividendos.
“Privatização não é um modelo único. O erro é tratar o tema como tabu”, disse.
Para Lima, o debate precisa ganhar centralidade no ciclo eleitoral que se aproxima.
“O Brasil chega a 2026 com um Estado grande, caro e pouco eficiente. Se não houver disposição para rever esse modelo, o país continuará usando estatais e bancos públicos como muleta para esconder problemas estruturais”, afirmou.
Na visão do secretário, privatizações, reforma do crédito público e redefinição do papel do Estado são peças de uma mesma agenda: produtividade.
“Não se trata de vender ativos por vender. Trata-se de criar um Estado que funcione, que entregue e que permita ao país crescer mais do que 8% em dez anos”, concluiu.













