O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que somente abrirá mão de sua pré-candidatura à Presidência da República se o pai, Jair Bolsonaro, estiver livre e apto a participar das eleições de 2026. A declaração foi dada em entrevista ao programa de TV, neste domingo (7), e marca a primeira sinalização pública das condições para uma eventual saída da disputa.
“Meu preço é justiça. E não é só justiça comigo, é justiça com quase 60 milhões de brasileiros que foram sequestrados, estão dentro de um cativeiro nesse momento junto com o presidente Jair Messias Bolsonaro. Então, óbvio que não tem volta. A minha pré-candidatura à Presidência da República é muito consciente”, disse o senador.
Questionado sobre a possibilidade de desistir caso haja anistia ao pai e a outros condenados pelos atos de 8 de janeiro, Flávio reforçou que sua condição envolve ver o ex-presidente novamente no processo eleitoral. Jair Bolsonaro cumpre pena em regime fechado e permanece inelegível pelas regras da legislação eleitoral.
Flávio Bolsonaro tem primeira agenda pública e articulações no Centrão
Na manhã deste domingo, Flávio participou de um culto evangélico em Brasília, no primeiro compromisso público desde que anunciou sua entrada na corrida presidencial. Durante a saída, afirmou que “existe uma possibilidade de não ir até o fim”, mas insistiu que há um “preço” e que está disposto a negociar.
A partir desta segunda-feira (8), o senador inicia uma série de conversas com lideranças políticas, incluindo Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP), Antonio Rueda (União Brasil), Marcos Pereira (Republicanos) e Rogério Marinho (PL). Segundo ele, o objetivo é apresentar seu projeto político e ouvir a avaliação das siglas.
“Agora é trazer as pessoas certas para o nosso lado. Nesse primeiro momento, vamos conversar, sem compromisso de absolutamente nada, para que todos possam trocar impressões e ouvir da minha boca o projeto que vamos colocar no papel”, afirmou.
Na terça-feira (9), Flávio pretende visitar novamente o pai para alinhar a estratégia e acompanhar as reações ao anúncio de sua pré-candidatura.
Recepção entre aliados
A decisão de lançar o nome de Flávio como pré-candidato foi recebida com reservas entre aliados de direita e dirigentes do Centrão. Interlocutores próximos ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, avaliaram de forma discreta o anúncio, enquanto lideranças partidárias afirmam que o movimento pode ser provisório e parte de um processo interno da família Bolsonaro.
Nos bastidores, líderes partidários afirmam que Flávio enfrenta desafios para ampliar sua base para além do eleitorado tradicional do bolsonarismo. Parte do Centrão avalia que, sem uma definição mais clara até março do próximo ano, siglas podem optar pela neutralidade no início da corrida eleitoral.
Reação do mercado financeiro
O anúncio repercutiu também no mercado financeiro. Na sexta-feira (5), dia em que a pré-candidatura foi divulgada, o Ibovespa despencou, em movimento atribuído por analistas ao aumento da incerteza eleitoral. Flávio classificou a reação como natural e disse acreditar que haverá mudança na percepção conforme sua candidatura for detalhada.
“Eles fazem uma análise precipitada, no meu ponto de vista, porque a partir do momento que eu tenho a possibilidade, com essa exposição, de conhecerem um Bolsonaro diferente, mais centrado, que conhece a política e Brasília e que vai querer pacificar o país”, afirmou.
Para Anderson Nunes, sinalização não altera o cenário eleitoral de 2026
Segundo o analista político Anderson Nunes, o anúncio de Flávio Bolsonaro deve ser lido, neste momento, apenas como um “balão de ensaio”, já que a movimentação é considerada precoce e tende a perder força no período de festas e férias.
Para ele, a sinalização serve mais para elevar o “preço político” em eventuais negociações do que para consolidar uma candidatura real. Nunes avalia que a presença de Flávio na disputa favoreceria o presidente Lula, que teria vantagem em um confronto direto, e destaca que o mercado financeiro já reagiu negativamente ao movimento: “o recado está na Bolsa”, disse, citando alta do dólar, pressão nos juros e deterioração da curva.
Na sua visão, nada muda para o cenário de 2026 neste momento, e o nome mais consolidado à direita continua sendo o do governador Tarcísio de Freitas.
Flávio Bolsonaro é o mais habilidoso de Jair e não menos competitivo que Tarcísio
Já o advogado e especialista em análise política Guilherme Favetti avalia que a escolha de Flávio Bolsonaro representa “uma reação direta de Jair à pressão pelo nome de Tarcísio”.
“Flávio é o filho mais habilidoso politicamente de Bolsonaro e o que melhor navega na articulação necessária, portanto, o mais capaz de fazer alianças”, avalia Favetti.
Para ele, qualquer nome ungido pelo ex-presidente chegará ao segundo turno e será o adversário de Lula, independentemente das preferências do mercado, que vinha se alinhando ao governador paulista.
“A indicação de Flávio agora parece ser uma resposta de Bolsonaro à pressão de todos os setores que vinham colocando o Tarcísio como seu sucessor. Bolsonaro não gosta de ser pressionado e, na cabeça dele, Flávio talvez seja quem melhor o represente“, analisa.
Favetti aponta que a oficialização do nome de Flávio Bolsonaro tem implicações diretas para o futuro político de Tarcísio de Freitas.
“A se confirmar que será Flávio Bolsonaro o pré-candidato do PL, é dizer que o sonho de Tarcísio 26 ou 30 se encerrou. Se Flávio ganha, será candidato à reeleição. Se perde, provavelmente será o nome em 2030.“, pontua.
Favetti ainda afasta a hipótese de que a indicação seja um teste.
“Não vejo como balão de ensaio. Não teria motivo. A escolha apenas torna explícito algo já conhecido nos bastidores, embora desejado pelo agro e pela Faria Lima, Tarcísio nunca foi o preferido de Jair Bolsonaro.“, conclui.











