Segurança pública e juros altos devem trazer dificuldades para a reeleição do presidente
A semana que se encerra trouxe duas boas notícias para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A primeira é local: a aprovação pelo Senado de sua promessa de campanha, a isenção de imposto de renda para quem ganhar até R$ 5.000,00 por mês. A outra veio dos Estados Unidos. Trata-se da eleição de um prefeito socialista para a prefeitura da maior cidade do planeta, Nova York. Uma vitória da esquerda na meca do capitalismo seria uma injeção de ânimo inédita nos lulistas para enfrentar uma campanha difícil no ano que vem.
Mas a mesma semana que revelou fatos alvissareiros ao Planalto também mostrou dois problemas que podem crescer exponencialmente em 2026 – e ambos têm de desafiar a ideologia petista.
Um deles é relativo à segurança. A recente megaoperação policial no Rio, que resultou na morte de 121 pessoas, acendeu um sinal de alerta dentro do governo. A primeira reação governista foi chamar atenção para o caráter letal da ação e condená-la. Entretanto, diante das pesquisas que mostravam a maioria dos brasileiros a favor do uso da força pelos policiais cariocas, houve um recuo. Logo depois, o presidente Lula resolveu fazer críticas explícitas à ação patrocinada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro,
Lula disse: “Houve a matança. Eu acho que é importante a gente verificar em que condições ela se deu. O dado concreto é que a operação, do ponto de vista da quantidade de mortes, as pessoas podem considerar um sucesso, mas do ponto de vista da ação do Estado, eu acho que ela foi desastrosa”.
O PT sempre teve dificuldade de defender qualquer ação policial enérgica, um posicionamento que se vê nas esquerdas de maneira geral. Por isso, os militantes petistas viram atônitos o apoio dado à ação letal pelos cariocas e, em especial, por quem mora em comunidades e convive com o crime organizado diariamente.
Para ter controle da narrativa sobre segurança, o governo quer turbinar a PEC da Segurança Pública e ter maior controle sobre a atuação das polícias estaduais no intuito de coibir o tráfico e outras ilegalidades.
O problema é que a população, cansada de ver a impunidade desfrutada pelos bandidos e o avanço de sua influência, não quer ver propostas que atuem apenas no mundo da diplomacia. O fato de termos mais de uma centena de mortos na operação do Rio de Janeiro é, de fato, lamentável. Mas é o que vai ocorrer quando a polícia entrar nas comunidades e ter diante de si um grupo armado com fuzis defendendo a sua posição. O ideal é realizar essas ações sem mortes – mas isso, na atual conjuntura, parece ser impossível.
A violência já é o tema que mais preocupa os brasileiros e, neste quesito, virou um calcanhar de Aquiles para Lula em 2026 – especialmente porque os governadores que podem se candidatar à presidência têm o que dizer sobre o tema. As estatísticas mostram que a segurança melhorou em São Paulo, Paraná e Goiás nos últimos anos, favorecida por políticas públicas específicas (Minas Gerais também apresenta estabilidade relativa, apesar de aumento pontual em alguns índices).
Outro desafio é o atual patamar das taxas de juros, que mais uma vez foi mantido pelo Banco Central em 15% na última quarta-feira. A manutenção de juros altos por tanto tempo tem esfriado a economia e piorado o ânimo dos empresários. As altas taxas também incomodam o governo. Tanto que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na última terça que, se fosse do BC, iria votar pela queda dos juros na reunião do Comitê de Política Monetária.
Mas o Banco Central está mantendo os juros altos em função da gastança generalizada que se vê na administração federal, que deve produzir um rombo gigantesco neste ano (dependendo do cálculo, entre R$ 25 bilhões e R$ 75 bilhões). Como se sabe, o déficit público gera inflação e é por esta razão que, agora, não há perspectiva para a queda de juros.
Portanto, o que Haddad e Lula fazem é pura demagogia: agem de um jeito que vai fomentar os índices inflacionários; mas, ao mesmo tempo, vociferam contra as taxas altas, um dos únicos remédios contra a alta de preços gerada pelo descontrole do déficit público.
A conta deverá ser cobrada na campanha de 2026 e o roteiro definido pela oposição é simples: o governo gasta demais e causa inflação. Para reduzir a alta dos preços, o Banco Central aumenta os juros. Com isso, a economia sofre e quem perde são os trabalhadores.
Os casos do crescimento da violência e dos juros na estratosfera serão usados pelos candidatos de oposição para bater forte em Lula. Por isso, o governo se prepara agora para tentar ter o que mostrar no ano que vem. Este, no entanto, é um flanco no qual a simples retórica não funciona. É preciso ter números para mostrar e, mais que isso, os eleitores precisam sentir que há uma melhora significativa na segurança pública e na economia.
Sem essa percepção, qualquer malabarismo feito na seara da comunicação não surtirá efeito junto aos eleitores. Por isso, é de se esperar o início de uma nova guerra de narrativas. Preparem-se.
















