A advogada e consultora jurídica Lia Noleto, secretária executiva da Frente Parlamentar Evangélica, destacou no programa BM&C Visões a importância de fortalecer o debate sobre políticas públicas no Brasil com base em planejamento de longo prazo, ética e representatividade. A entrevista, conduzida por Isabela Takaki, abordou o cenário político atual, o papel das frentes parlamentares e o projeto que propõe a criação da bancada cristã no Congresso Nacional.
Segundo Lia, o país vive um momento de exaustão política após anos de polarização, mas também demonstra busca por novas formas de representação. “O brasileiro ama política, mesmo quando fala mal dela. O que existe é um cansaço dessa disputa permanente e, ao mesmo tempo, uma tentativa de estabelecer padrões mais elevados e uma política pública mais real para o país”, afirmou.
O papel das frentes parlamentares nas políticas públicas
Durante a conversa, Lia explicou que as frentes parlamentares surgem como mecanismos transversais que permitem maior diálogo entre o Congresso e a sociedade civil. Ela citou exemplos como a Frente Parlamentar da Agropecuária, a Frente Evangélica e a Frente do Empreendedorismo, destacando que todas possuem estrutura técnica e redes de voluntários que contribuem para a qualificação das políticas públicas.
“As frentes permitem um incremento técnico no trabalho legislativo. Há uma dedicação mais específica e uma troca constante com institutos e entidades da sociedade civil”, explicou.
Para Lia, esse modelo torna o processo político mais acessível e participativo, permitindo que cidadãos e entidades encontrem canais efetivos de interlocução com o Parlamento, especialmente fora de Brasília. “Nos estados, o diálogo com os parlamentares é mais direto. Em Brasília, as frentes acabam sendo um caminho mais real para o cidadão participar do debate”, completou.
A proposta da bancada cristã e a ampliação do debate público
A entrevistada comentou ainda sobre o projeto que propõe a criação da bancada cristã no Congresso, uma iniciativa que pretende unir as frentes evangélica, católica e de defesa da família e da vida. Segundo ela, o objetivo é integrar pautas e construir consensos, e não ampliar a polarização política.
“Hoje, só existem formalmente a bancada das mulheres e a bancada negra. A ideia é reunir frentes que já atuam em pautas comuns, facilitando o diálogo e amadurecendo projetos antes que cheguem ao plenário”, disse. Lia destacou que a proposta não gera custos adicionais nem cria cargos, sendo uma mudança regimental para melhorar a representatividade e a construção de agendas conjuntas.
Ela acrescentou que o grupo pretende avançar além das pautas morais, abordando também questões econômicas e sociais. “Precisamos discutir políticas que incentivem as famílias, como tratamentos tributários diferenciados para famílias numerosas, debates sobre creches e sobre o papel da mulher no mercado de trabalho. Não se trata apenas de reagir, mas de propor soluções reais para o futuro do país”, pontuou.
Valores, ética e políticas públicas
Ao abordar o papel dos valores cristãos no debate político, Lia ressaltou que o Estado é laico, mas a sociedade brasileira é majoritariamente cristã e carrega princípios éticos que podem contribuir para a administração pública. “Laicidade não é ausência de princípios. Quando você traz ética para a política, ela ganha significado. Sem ética, sobra apenas disputa de poder”, afirmou.
Ela defendeu que a ética deve ser o eixo das decisões públicas, especialmente em um contexto de avanço da tecnologia e da inteligência artificial. “Se não houver princípios éticos, o que vai restar é o poder pelo poder. Precisamos de responsabilidade e propósito para governar”, reforçou.
Planejamento de longo prazo e continuidade das políticas públicas
Lia também destacou a necessidade de o Brasil adotar políticas públicas de longo prazo, que não sejam interrompidas por divergências partidárias. “O que mais prejudica o país é parar obras estruturantes só porque foram iniciadas por adversários políticos. Isso gera desperdício de dinheiro público e descontinuidade de serviços essenciais”, alertou.
Segundo ela, há avanços recentes em mecanismos de responsabilização e transparência, como a vinculação de recursos de emendas de bancada até a conclusão das obras e o fortalecimento das auditorias do Tribunal de Contas da União. “Se resolvermos o desperdício de recursos e a falta de responsabilização, já teremos um ganho considerável como nação”, destacou.
Uma visão de futuro baseada na realidade e no engajamento
Encerrando o programa, Lia Noleto reforçou a importância de realismo e engajamento social na construção do futuro brasileiro. Para ela, é necessário reconhecer os avanços, corrigir as falhas e compreender o papel de cada cidadão no processo político.
“O Brasil é plural e cada pessoa é parte fundamental dessa construção. Precisamos celebrar nossos avanços e ter uma visão realista de onde estamos e para onde queremos ir. A ação diária de cada cidadão impacta o todo”, concluiu.