*Por Fernando Saad e Cauê Valim
A Berkshire Hathaway divulgou seu formulário 13F referente ao terceiro trimestre de 2025, revelando uma movimentação que surpreendeu o mercado: uma nova participação de aproximadamente US$ 4,3 bilhões na Alphabet (“empresa-mãe” do Google), tornando-a a décima maior posição no portfólio da holding. O investimento chama atenção particular considerando a histórica resistência de Warren Buffett a empresas de tecnologia de crescimento acelerado, que ele normalmente evita em sua clássica metodologia de value investing.
A Berkshire adquiriu 17,8 milhões de ações da Alphabet, estabelecendo uma posição que representa aproximadamente 1,6% do valor total do portfólio. O timing é relevante: as ações subiram 46% no acumulado do ano, impulsionadas pelo boom da inteligência artificial. Ironicamente, tanto Buffett quanto o falecido vice-presidente Charlie Munger, haviam expressado arrependimento por não terem investido no Google anteriormente. Em 2017, Munger afirmou que “não reconhecer o Google” foi um dos piores erros que cometeu no setor. Tal decisão pode ter sido liderada pelos gestores de portfólio Ted Weschler ou Todd Combs, o que sinaliza a evolução da filosofia de investimento para a próxima geração da companhia.
Simultaneamente, a Berkshire reduziu sua posição na Apple para 238,2 milhões de ações, ante 280 milhões no trimestre anterior – uma redução de 15% equivalente a uma venda de aproximadamente US$ 10,7 bilhões. Apesar da redução significativa, a Apple permanece como a maior posição individual, avaliada em cerca de US$ 60,7 bilhões e representando 23% do portfólio total de ações. Buffett sempre diferenciou a Apple de empresas de “tecnologia pura”, enxergando-a mais como uma empresa de produtos de consumo com ecossistema altamente fidelizado.
O conglomerado também reduziu em 6% sua posição no Bank of America, vendendo 37,2 milhões de ações e deixando a participação em aproximadamente 568 milhões de ações, avaliadas em cerca de US$ 29,3 bilhões. Adicionalmente, a Berkshire vendeu completamente sua posição na D.R. Horton, reduziu a VeriSign em 32%, a DaVita em 5% e a Nucor em 3%. No lado das compras, aumentou sua participação em Chubb Limited em 16%, adicionou posições em Domino’s Pizza (13%), Sirius XM Holdings (4%) e Lamar Advertising (3%).
O portfólio da Berkshire encerrou o terceiro trimestre com 41 holdings — exatamente o mesmo número do trimestre anterior –, com um valor total de US$ 267,3 bilhões. As cinco maiores posições (Apple, American Express, Bank of America, Coca-Cola e Chevron) representam aproximadamente 70% do portfólio. Pelo 12º trimestre consecutivo, a Berkshire foi vendedora líquida de ações, desembolsando US$ 6,4 bilhões em compras e vendendo US$ 12,5 bilhões. Essa estratégia contribuiu para o acúmulo de uma reserva de caixa recorde de US$ 381,7 bilhões, sinalizando a percepção de Buffett de que o mercado está amplamente supervalorizado.
O formulário 13F do terceiro trimestre assume significado especial ao ser um dos últimos divulgados sob a liderança direta de Warren Buffett como CEO. O lendário investidor, aos 95 anos, anunciou que deixará o cargo no final de 2025, sendo sucedido por Greg Abel. As movimentações deste trimestre – particularmente a entrada no Alphabet e o contínuo ajuste de posições – oferecem pistas sobre a evolução da filosofia de investimento da Berkshire na transição de liderança, equilibrando os princípios clássicos de value investing com a adaptação às realidades de um mercado cada vez mais dominado pela tecnologia e inteligência artificial.
*Cauê R. Valim e Fernando Benati são analistas de Alocação e Inteligência da Avenue
Cauê Valim é formado em Engenharia de Produção pelo Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Iniciou sua carreira profissional na gestora Esh Capital, com passagens pelo JP Morgan e Levante. Juntou-se à equipe da Avenue em 2022, onde é responsável por Investimentos Globais.
Fernando Saad é formado em Administração de Empresas no Insper, também teve foco em uma educação internacional, estudando matérias como macroeconomia financeira e negociação na Bocconi (Itália), e participou de um programa de formação de líderes globais no Insead (França). Após uma breve passagem na Turim Multi Family Office, e um projeto temporário na XP, compõe o time de análise de produtos da Avenue, com foco em renda fixa americana.
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