Cada país tem o governo que merece. Afinal, nas democracias ocidentais, o eleitorado seleciona os ocupantes das posições de liderança após um processo que tende a ser exaustivo. Obviamente que, em muitos casos, a manipulação pelos formadores de opinião pode levar a população a cometer erros graves, muitas vezes ludibriados por aqueles que deveriam ter a responsabilidade, inerente ao sagrado mandato outorgado pelo voto, de esclarecer – e não de enganar – o eleitor.
Muitos dirão que a questão educacional resolveria esta situação. Não é verdade. Já observamos o eleitorado de povos com elevado nível educacional tomarem decisões equivocadas. Um exemplo recente seria a decisão britânica à saída do Reino Unido da União Europeia – o famoso Brexit – resultante de uma enorme manipulação por alguns grupos políticos que levou a uma decisão precipitada e complicada para o país. Talvez por isso que Margaret Thatcher sempre afirmou que plebiscitos eram instrumentos utilizados por demagogos e ditadores, ou Winston Churchill, que dizia que o principal argumento contrário à democracia era uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano.
Ao longo da história, muitas atrocidades foram cometidas pelo poder outorgado pelo voto. O eleitor, muitas vezes insatisfeito, toma decisões que podem piorar – e certamente pioram – a situação de um país. A Venezuela é um destes casos. O país foi dominado, por muitos anos, por uma gerontocracia que pouco oferecia à população, além de combustível barato.
A ascensão de Hugo Chávez, populista, ao poder veio no esteio de melhorar as condições de existência de uma população pobre num país rico. E, de fato, inicialmente, Chávez logrou resultados positivos. A qualidade de vida melhorou, principalmente em razão da elevação do preço do petróleo no período, o que deu asas a um populismo exacerbado. Recorde-se que a renda per capita, quando Chávez assumiu a presidência, era de US$ 4.088,00, enquanto no Brasil era de US$ 3,456.42. Desde que Nicolas Maduro assumiu o poder, a situação da população vem deteriorando substancialmente. A renda per capita caiu – atualmente, em US$ 3.640.81 – enquanto a brasileira subiu para US$ 9.673.09, apesar das desastrosas administrações que o Brasil teve ao longo destes anos.
Nicolas Maduro e Hugo Chávez – líderes populistas com uma agenda política e econômica equivocada – falharam profundamente como lideranças num dos países mais ricos em petróleo do mundo. A população vive numa situação de penúria e enorme vulnerabilidade social e econômica. Na questão política, a liberdade é restrita cada vez mais.
O povo venezuelano assiste, depauperado, a uma situação que não consegue reverter. Chávez e Maduro organizaram um sistema político – resultante – reconheça-se – da péssima qualidade da oposição existente – em que a Suprema Corte e outros órgãos judiciais lhes presta vassalagem. A oposição – como na maioria dos países latino-americanos – é fraca e inconsistente. De fato, a única oposição que existe nestes países são as manifestações nas ruas, que amedrontam os políticos e os influenciadores. Afora isto, a oposição é inexistente.
O Brasil se equivocou no passado ao apoiar Chávez e Maduro. Os milhares de venezuelanos que cruzaram a fronteira deveriam servir de lição para o erro de apoiar àqueles que tanto prejudicaram o país. Infelizmente, o erro está sendo repetido. Triste para os venezuelanos, um embaraço para os brasileiros.
*Marcus Vinícius De Freitas é professor Visitante na China Foreign Affairs University
















