Por Carlos Castro*
O Congresso Internacional Planejar de novembro de 2025 é o momento certo para refletir sobre a evolução da carreira de planejador financeiro no Brasil. Nos últimos cinco anos, o número de profissionais com a certificação CFP®️ mais do que dobrou: passou de 5.400 em 2020 para mais de 11 mil em 2025. Isso mostra que a profissão vem ganhando escala, prestígio e relevância.
O CFP®️ (Certified Financial Planner) é a principal certificação global para quem atua com planejamento financeiro. Ela reconhece profissionais que dominam seis áreas fundamentais: planejamento financeiro, investimentos, aposentadoria, seguros, impostos e sucessão. Mais do que conhecimento técnico, o CFP®️ exige compromisso com a ética e com a centralidade do cliente em todas as decisões.
A partir de 2026, a certificação CFP®️ passará por uma atualização no Brasil. Serão incorporadas duas novas disciplinas ao exame: Gestão Financeira (que antes fazia parte do módulo Planejamento Financeiro) e Psicologia no Planejamento Financeiro, um conteúdo inédito voltado à dimensão comportamental e emocional da relação com o dinheiro. A mudança, segundo a Planejar — Associação Brasileira de Planejamento Financeiro, amplia o escopo técnico e humano da formação — refletindo a evolução das demandas do mercado e dos próprios clientes.
A maturidade do mercado financeiro brasileiro avança em ritmo acelerado — e essa evolução exige profissionais cada vez mais capacitados. Por um lado, os avanços são evidentes: o Pix ampliou o acesso bancário, mais brasileiros começaram a investir, surgiram novos produtos, e as fintechs quebraram barreiras de entrada. O crédito se tornou mais acessível, o open finance permite uma visão integrada da vida financeira, e a digitalização democratizou serviços antes restritos à alta renda.
Mas essa maturidade também trouxe desafios. A inclusão financeira não veio acompanhada, na mesma velocidade, de mais educação financeira. Muitas pessoas passaram a ter acesso ao sistema financeiro sem saber usar crédito de forma saudável ou controlar o consumo. O resultado: o endividamento cresceu. Hoje, mais de 78% das famílias brasileiras estão endividadas, segundo dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
Além disso, o investidor médio enfrenta hoje um mercado muito mais amplo — e confuso. São dezenas de produtos, com diferentes estruturas, riscos, custos e objetivos. Falta clareza na orientação, e os conflitos de interesse em parte da distribuição agravam a insegurança. O excesso de informação, combinado com a falta de formação, gera ansiedade e decisões ruins.
É justamente nesse cenário que o papel do planejador financeiro se torna essencial. Ele atua como um profissional de confiança, que organiza, orienta e ajuda o cliente a tomar decisões consistentes ao longo da vida. O planejador é o elo entre o amadurecimento do mercado e o preparo das pessoas para lidar com dinheiro de forma mais consciente e estratégica — em todas as faixas de renda.
E há espaço de sobra para crescer. No Brasil, temos cerca de 11.600 brasileiros (entre 25 e 69 anos) para cada planejador certificado. Dos 11 mil profissionais CFP®️ ativos hoje, 81% têm entre 30 e 49 anos, o que indica que a profissão está em fase de consolidação. O que falta agora é escala — e mais diversidade no perfil desses profissionais.
Segundo pesquisa da Planejar (out/25), 40% dos certificados recebem mais de R$ 20 mil por mês. Quase metade teve aumento de renda ou foi promovida após conquistar a certificação. Além disso, 92% afirmam estar satisfeitos com o impacto positivo que geram na vida dos clientes. A flexibilidade também é um atrativo: 67% gostariam de atuar como planejadores independentes, e 18% já atuam, mesmo que conciliando com funções em instituições financeiras.
O modelo de atuação independente, aliás, deve ser uma das grandes forças da profissão nos próximos anos. Ele permite mais autonomia, liberdade de escolha e, principalmente, uma relação mais direta e isenta com o cliente. Para muitos, será uma segunda carreira — aquela que começa quando a jornada corporativa termina. Para outros, já é a escolha desde o início.
Mais do que uma profissão do futuro, o planejamento financeiro é uma necessidade urgente do presente. À medida que o mercado amadurece, cresce também a responsabilidade de quem ajuda o brasileiro a lidar melhor com o próprio dinheiro. A certificação CFP®️ é a porta de entrada para esse papel. E os dados mostram que quem entra, fica — e cresce.
O Brasil não tem só espaço para mais planejadores — tem urgência.
*Coluna escrita por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico
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