Bill Gates já disse o seguinte: “O sucesso é um mestre perverso. Ele seduz as pessoas inteligentes e as faz pensar que jamais vão cair”. O excesso de autoconfiança pode levar à acomodação e ao imobilismo. Lembram-se do clichê que diz para não mexer em time vencedor? Pois é. Isso ocorre também quando, no mundo empresarial, temos uma sucessão de empates e vitórias por placar apertado. Quando nos sentimos no controle de uma situação, mesmo com crescimento moderado ou estabilidade, ficamos relaxados. Afinal, ninguém consegue ficar em estado de prontidão o tempo todo.
É por isso que, quando estamos acomodados, nada como uma crise para nos obrigar a sacudir a poeira. Com o tarifaço, foi assim. Tínhamos saído da pandemia há algum tempo e superado o marasmo que se seguiu à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Mesmo com os juros altos, a economia – de maneira geral – ia bem, com alguns setores bombando e outros sofrendo.
Só que as medidas do presidente Donald Trump dirigidas ao Brasil criaram uma forte incerteza. E quem estava acomodado teve de ser mexer. Passado o primeiro impacto, em que todos os empresários brasileiros ficaram estupefatos, o clima de negócios no país é de agitação: os setores mais afetados estão agindo com a urgência de um médico atuando em pronto-socorro. Há segmentos, como o de frutas e de móveis, em que existem empresas cuja totalidade de suas produções era dirigida ao mercado americano. Com o decreto de Trump, essas portas foram fechadas. Desse modo, tais companhias precisam encontrar novos clientes ou encarar a bancarrota.
Em menor escala, outros empresários estão revendo tudo o que podem: custos, produtos, serviços e estratégia. Alguns ficarão pelo meio do caminho. Mas quem sobreviver vai ficar melhor, mais produtivo e resiliente como um maratonista.
Diante do tarifaço, o setor produtivo aposta no fortalecimento do consumo interno, na diversificação de produtos e na adequação técnica para atender países com menos barreiras comerciais. A diplomacia econômica também entrou em cena, com empresários apoiando acordos internacionais e participando de missões comerciais para abrir novas frentes de exportação.
Outra estratégia que ganha força é a internacionalização da produção. Há grupos que ampliaram suas operações nos Estados Unidos para driblar tarifas, enquanto outros investem em inovação para reduzir custos e alcançar consumidores diretamente. O movimento revela um setor que, mesmo pressionado, responde com criatividade e pragmatismo — ajustando o leme sem perder o rumo.
Lembremos da teoria da evolução das espécies, proposta por Charles Darwin na segunda metade do Século 19. Segundo o raciocínio de Darwin, não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças que surgem no meio ambiente.
A mesma regra vale para o universo dos negócios. O tarifaço foi decretado há algum tempo, mas ainda há empresas paradas e esperando para tomar decisões. Entende-se que é um momento de insegurança, durante o qual é preciso cautela. Mas, na selva competitiva dos empreendedores, quem não se adaptar rapidamente será condenado à extinção.
Essa sacudida pela qual passou o empresariado é ruim, pois trava o mercado e gera incertezas. Mas, por outro lado, injeta uma adrenalina que torna o jogo mais interessante e desafiador. Por isso, mexa-se e não deixe a peteca tombar. Como disse Howard Schultz (imagem), ex-CEO da Starbucks, “acomodar-se é o primeiro passo para a irrelevância”. Portanto, não fique parado – e não se torne irrelevante.