Um artigo publicado ontem pela “Folha de S. Paulo” chama a atenção de leitores interessados em política. Seu título: “Com bolsonarismo em crise, MBL cresce nas redes sociais”. Os autores, Felipe Bailez e Luís Fakhoury, são fundadores da Palver, empresa especializada no monitoramento e análise de redes sociais e plataformas de mensagens. Eles escreveram o seguinte: “No monitoramento de mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp realizado pela Palver, o MBL [Movimento Brasil Livre] aparece ganhando espaço justamente enquanto os políticos da juventude bolsonarista perdem tração”.
O artigo, mais à frente, apresenta números relevantes: “Entre janeiro e agosto de 2025, o MBL oscilava, com média de 25% de participação no debate em comparação a políticos da juventude bolsonarista. Nos dois meses seguintes, porém, o movimento passou a crescer cerca de 10% por semana, até alcançar 50% da atenção entre os políticos da direita jovem”.
O texto aponta para uma direção já percebida pelos analistas políticos: a direita brasileira está se descolando do monopólio bolsonarista. O MBL, por exemplo, voltou a ganhar tração nas redes com um discurso mais racional, menos inflamado. Isso sinaliza que há espaço para uma nova abordagem conservadora, que tenta se reconectar com o debate público, com as instituições e com a realidade.
O estilo beligerante que marcou o bolsonarismo raiz — feito de ataques, xingamentos e teatrinhos de confronto — parece estar perdendo potência. O que antes mobilizava, hoje cansa. E não só o eleitorado médio: empresários, lideranças regionais e até parte da base conservadora já percebem que esse radicalismo virou obstáculo. Ele trava pautas liberais, emperra reformas e afasta aliados estratégicos.
As últimas ações de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo só aprofundaram o desgaste. A articulação com o governo Trump para impor o tarifaço ao Brasil isolou ainda mais o grupo. O custo político disso é alto: setores do agronegócio e do empresariado já não querem se associar a esse tipo de confronto.
O centro e a direita viram como reflexo do radicalismo bolsonarista a recuperação da aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ainda não totalmente consolidada). Os radicais, ao apostarem tudo na guerra cultural e no personalismo, acabaram empurrando uma parte do eleitorado para os braços de quem estava precisando de uma bandeira para chamar de sua (no caso, a defesa do Brasil contra uma eventual ameaça estrangeira).
Que lição tiramos disso tudo? Radicalismo rende engajamento, mas não constrói maioria duradoura. O Brasil real (inclusive o conservador) quer soluções, não confrontos intermináveis. O futuro da política brasileira vai depender da capacidade da centro-direita de se reinventar, abandonar o culto à personalidade e apresentar propostas sérias, viáveis e conectadas com os desafios do nosso país.