As redes sociais, desde a semana passada, fervilham com a narrativa turbinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva – a de que vivemos sob um duelo dos ricos contra os pobres. Dentro desta ribalta imaginada pelo PT, o presidente aparece como um vingador dos trabalhadores, que vai diminuir a riqueza dos mais afortunados através da cobrança de impostos.
Lula apostou nessa narrativa exatamente no momento em que estava passando por uma fase aparentemente irreversível de impopularidade. Criou um inimigo (a classe alta) e tentou engajar a sociedade neste antagonismo. Por enquanto, conseguiu apenas botar fogo na militância petista, que ganhou ânimo para botar fogo no parquinho e trabalhar o universo digital.
Mas esses militantes estão errando a mão. O recente caso em que uma menina de cinco anos foi cruelmente atacada nas redes por conta de uma bolsa de grife mostra isso. Apesar da repercussão do caso, os apoiadores de Lula continuam pregando o ódio aos ricos em tudo o que é canto do universo digital. Tome-se como exemplo da propagação desse rancor um post retirado da rede Threads e veiculado no dia de ontem: “Ódio nesse canal só o necessário e fundamental. Ódio de classe à burguesia (aos bilionários ladrões). Solidariedade e união, SEMPRE, só a classe trabalhadora unida vence o fascismo e sua violência”.
A questão é: Lula vai conseguir levar essa ojeriza aos ricos para fora da bolha petista? Por enquanto, não conseguiu. Lembremos: uma pesquisa recente do Datafolha revelou que 59% dos brasileiros preferem trabalhar por conta própria a ter um emprego formal com carteira assinada, enquanto apenas 39% ainda optam pela estabilidade do vínculo tradicional. Esse movimento é especialmente forte entre os jovens da Geração Z (16 a 24 anos) — 68% deles preferem o trabalho autônomo.
Ou seja, a maioria dos brasileiros prefere empreender ou ter mais liberdade em seus horários de trabalho. Esse é um perfil que vai embarcar nessa narrativa? Dificilmente.
De qualquer forma, a campanha empreendida pelos petistas ressuscitou uma discussão há muito não vista: a de que os ricos exploram os pobres e defendem essa prática com unhas e dentes.
O economista Joel Pinheiro da Fonseca se manifestou sobre esse tema ontem em sua coluna na “Folha de S. Paulo”: “Ao contrário do que rezam certas visões de esquerda, o desenvolvimento econômico não ocorre por meio da exploração dos trabalhadores. Se assim fosse, os países mais ricos seriam aqueles com o proletariado mais miserável. Na realidade, o que ocorre é o exato oposto: países mais ricos — inclusive com maior concentração de ricos — costumam ser também países em que a classe trabalhadora vive melhor. Ou o país funciona para todos, com uma lógica de ganha-ganha, ou todos estarão pior”.
Para melhorar a vida dos trabalhadores, não é preciso piorar a dos empresários. É possível criar um país no qual todos podem ganhar com o desenvolvimento econômico – incluindo o governo, que poderá cobrar menos impostos porque vai arrecadar mais. Precisamos criar uma nação que estimule o empreendedorismo e invista em um ambiente de negócios mais livre para atrair capitais internacionais e gerar mais empregos. Só assim é que sairemos dessa sucessão de voos de galinha para nos tornarmos um gigante mundial.