A eleição para a presidência do PT vem descortinando a insatisfação crescente dos militantes do partido com o governo e, em particular, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O pleito, marcado para o dia 6 de julho, conta com quatro candidatos, sendo que o nome apoiado pelo Planalto é do ex-prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Além dele, correm por fora o deputado Rui Falcão, o secretário de Relações Internacionais da agremiação, Romênio Pereira, e Valter Pomar, ex-secretário executivo do Foro de São Paulo.
Os oposicionistas criticam o governo pela moderação excessiva, com muitas concessões ao Centrão e a conivência com os juros altos decididos pelo Banco Central (que, pela lei, age de forma independente do Executivo). Pereira declarou ao “Estado de S. Paulo” que “ou o governo muda ou o povo muda o governo”. Já Pomar abriu fogo contra o presidente do BC, Gabriel Galípolo: “Galípolo não é amigo; é inimigo”. Essas críticas somam-se ao outras cutucadas desferidas no passado recente. Falcão, por exemplo, afirmou mais de uma vez que Lula prioriza coalizões amplas em detrimento de pautas históricas do PT.
O terceiro mandato de Lula, de fato, fica em uma espécie de limbo ideológico, com concessões à direita e à esquerda. Boa parte dos petistas, como se pode ver, estão insatisfeitos com o caráter moderado desta gestão. Por outro lado, empresários e economistas criticam medidas consideradas de cunho populista e esquerdista, como os impostos adicionais de quem ganha mais de R$ 50.000,00 mensais ou a recente proposta de taxação do IOF.
Desta forma, temos um governo que faz acenos aos dois lados do tabuleiro político, mas acaba sem agradar a ninguém. O Centrão é importante para a viabilização das propostas governistas no Congresso. Por isso, o governo tem tanta boa vontade em atender às demandas deste grupo. Por outro lado, o eleitorado de esquerda – com petistas e psolistas à frente – é crucial para a reeleição de Lula.
A conjunção entre a escolha do novo presidente do PT e a proximidade das eleições do ano que vem pode gerar uma boa transformação do cenário político ainda em 2025. Edinho Silva pode até ser escolhido para comandar a sigla, mas terá de agradar os militantes que estão insatisfeitos com a complacência do PT com o Centrão. Portanto, seu discurso será menos governista e mais contestatório, cobrando ações mais alinhadas com a esquerda. De outro lado, o Centrão deve se sentir tentado a abandonar o barco lulista a apoiar outra candidatura, como a de um dos cinco governadores que se posicionam como alternativa eleitoral (Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Eduardo Leite).
Se esses dois cenários se confirmarem, teremos inevitavelmente uma guinada à esquerda dentro do Planalto – mesmo que a impopularidade de Lula sugira que os eleitores não estão mais comprando com entusiasmo o discurso populista do presidente.
Se este panorama se confirmar, Lula vai se abraçar à militância e torcer para que um fato novo jogue os eleitores de centro em seu colo. Se nada de novo ocorrer, porém, sofrerá uma derrota amarga que vai encerrar de vez sua carreira política. Caso isso ocorra, com Lula se retirando de cena, é bem possível que o PT se fragmente em duas ou três correntes, diluindo o poder da esquerda e levando a polarização política para outra fase do jogo.
A história política brasileira está prestes a sofrer mudanças estruturais. E tudo pode começar no próximo dia 6.












