A última pesquisa Quaest traz um dado intrigante, que é o conjunto de respostas à seguinte pergunta: “para o Brasil hoje, qual seria o melhor resultado da eleição?”. A vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou 33%. Em segundo lugar, porém, tivemos 23% dos entrevistados que preferiram a opção “alguém de fora da política”. Em seguida, temos a alternativa “outro candidato de direita”, com 15%. Por fim, aparece o ex-presidente Jair Bolsonaro, com 14%.
Essas respostas nos permitem alguns pontos de reflexão.
O primeiro é que existe espaço para o surgimento de um fenômeno semelhante ao de Pablo Marçal na campanha à prefeitura de São Paulo em 2014. Uma parte do eleitorado ficou encantada com o estilo agressivo do candidato e suas firulas lacradoras (no final, estes mesmos exageros o levaram à derrota). Mas outra parcela quis votar nele porque estava insatisfeita com as opções que estavam na cédula eleitoral. E, neste caso, o discurso voltado ao empreendedorismo agradou bastante, especialmente às classes C e D.
Hoje, pode-se dizer que a mesma insatisfação ocorre em todo o país. Afinal, estamos falando de quase um quarto dos eleitores que anseiam por um novo nome – o que abre espaço para a candidatura de um novo Pablo Marçal no ano que vem.
Hoje, muitos empresários e representantes estão desanimados com o cenário político, achando que Lula terá um novo mandato a partir de 2026. Mas os números citados no início deste artigo podem mostrar que nem tudo está perdido para a direita brasileira.
Quando somamos as alternativas contrárias ao presidente da República, temos um total de 52%. Este índice está relacionado ao resultado de outra pesquisa do Instituto Quaest também divulgada em outubro: 56% dos entrevistados acham melhor que Lula não se candidate à reeleição em 2026. Portanto, há teoricamente uma maioria insatisfeita com o presidente que pode votar na oposição no próximo pleito.
A questão é: quem poderia aglutinar esses votos no segundo turno? Ainda é cedo para cravar respostas, até porque é preciso antes ver uma definição entre os quatro governadores que se colocam como pré-candidatos para saber quem vai mesmo para a disputa. Mas a solução pode vir do próprio cenário político, como foi em 1989, com o então governador Fernando Collor de Mello, e em 2018, com o deputado federal Jair Bolsonaro.
Em entrevista para o jornal “O Estado de S. Paulo”, o cientista político Luiz Felipe D’Ávila lembrou de um episódio na história recente brasileira que pode se repetir no ano que vem.
“Vou fazer uma analogia com o passado recente. Em maio de 1993, o Brasil enfrentava uma inflação de 60% ao mês. Itamar Franco era presidente da República, e em apenas sete meses já haviam passado três ministros da Fazenda. O único projeto que o presidente parecia disposto a levar adiante era a volta da fabricação do Fusca. Enquanto isso, Lula aparecia com 40% nas pesquisas e era o favorito para vencer a eleição de 1994. Então, em maio de 1993, Itamar chama Fernando Henrique Cardoso para assumir o Ministério da Fazenda. Ele monta uma equipe de especialistas, elabora o Plano Real, a inflação é debelada, e FHC se elege presidente. Ou seja, o Brasil tem esses “golpes de sorte”. Se a direita tiver cabeça, evitar a fragmentação em disputas internas e escolher um ou dois nomes dessa ótima safra de governadores para 2026, teremos uma grande chance de vencer a eleição”, afirmou D’Ávila.
A pergunta que não quer calar, portanto, é: quem seria o Fernando Henrique de 2026?