Nesta semana, entrevistei Mansueto de Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, para o programa MONEY REPORT TV. Minha primeira pergunta foi: como se explica um índice recorde de emprego em um país que convive com juros reais de 10% por tanto tempo? A resposta de Mansueto: dinheiro público. O governo chegará ao final de 2025 com gastos 9% superiores aos empreendidos no ano passado.
Na mesma mesa de entrevistas estava Daniella Marques, ex-presidente da Caixa Econômica no governo de Jair Bolsonaro e hoje chairwoman da Legend, empresa de gestão patrimonial. Ela lembrou que as privatizações feitas na gestão anterior priorizaram o investimento obrigatório pelos vencedores dos leilões. O resultado disso? Um investimento recorrente de R$ 830 bilhões em dez anos. Isso também ajudaria a movimentar a economia, pois estamos falando de uma injeção anual de pelo menos R$ 80 bilhões nas empresas privatizadas, destravando projetos e ampliando o emprego.
O governo parece estar preso a uma fórmula ultrapassada, turbinando a economia através do Tesouro: os gastos públicos no Brasil crescem sem freio e a dívida estatal já alcança níveis perigosos. Em 2025, o endividamento bruto chegou a quase 79% do PIB, resultado da incapacidade de conter despesas correntes e da prática de criar exceções fiscais. O peso do serviço da dívida é devastador: em apenas um mês foram mais de R$ 100 bilhões em juros, e no acumulado anual chegamos a quase 8% do PIB. Projeções indicam que o débito público pode chegar a 85% do PIB em 2026 se não houver corte expressivo de gastos.
Por conta deste estímulo artificial, vemos sinais contraditórios. De um lado, por exemplo, Brasil registra atualmente o menor índice de desemprego da série histórica iniciada em 2012 (5,4%), resultado que reflete a expansão do emprego formal, a redução da informalidade e o aumento da renda média. De outro, uma reportagem publicada ontem no jornal “Folha de S. Paulo” mostra que há 40 lojas vazias em cinco quarteirões da rua Teodoro Sampaio, tradicional roteiro comercial paulistano. Embora alguns especialistas digam que isso é efeito da especulação imobiliária que assola a região, os altos juros tornam o varejo uma atividade bastante difícil.
Essas altas taxas também levaram o Brasil a um recorde histórico de inadimplência corporativa em 2025, com mais de oito milhões de empresas em atraso no pagamento de suas dívidas (cada CNPJ negativado acumula em média sete compromissos não pagos). O peso dos juros elevados reduziu a capacidade de fluxo de caixa das companhias e ampliou a vulnerabilidade de setores dependentes de financiamento, como serviços e comércio.
As micro e pequenas empresas concentraram a maior parte desse problema, somando bilhões em dívidas e enfrentando barreiras crescentes para acessar crédito. Essa fragilidade comprometeu investimentos, limitou a expansão produtiva e aumentou o risco de fechamento de negócios, com impactos diretos sobre o emprego e a atividade econômica. O cenário evidencia como a política de juros altos, embora voltada ao controle da inflação, gerou efeitos colaterais profundos sobre a base empresarial do país.
Espera-se uma queda de juros para 2026, mas bastante moderada. Como o governo federal vai continuar gastando desenfreadamente, a única saída do Banco Central é tentar frear a economia com taxas altas para segurar a inflação. Em 2026, haverá um agravante: o descontrole das contas públicas deve ser oficialmente implementado com a saída de Fernando Haddad do ministério da Fazenda. O ministro pode não conseguir controlar totalmente o dispêndio desenfreado do governo, mas faz algum tipo de supervisão. Com sua saída, as chaves do cofre serão com certeza mais generosas em ano de eleição, o que coloca uma dúvida enorme sobre o comportamento dos juros em 2026, principalmente a partir do segundo trimestre.

