Nove entre dez analistas políticos enxergam com desconfiança as chances de vitória da direita em 2026, dada a fragmentação de candidaturas e a falta de sintonia entre os conservadores. A proliferação de nomes que postulam o Planalto diante de um adversário como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa o conservadorismo desanimado – especialmente porque muitas pesquisas apontam uma supremacia do PT na maioria das simulações de segundo turno.
É fato que a direita está mesmo desarrumada e desentrosada. Não há união em torno de um só nome, ao contrário do que ocorre na esquerda. Mas essa desarrumação será fatal para as pretensões da oposição em 2026? Não necessariamente.
Antes de mais nada, porém, devemos olhar com mais cuidado a desordem que reina hoje no campo conservador. Esse desmantelo é estrutural ou é passageiro? Se for estrutural, os desentendimentos vão crescer e tornar inviáveis alianças e apoios. Mas e se o que observamos hoje é apenas o início de um processo? Quando alguém faz uma reforma em casa, por exemplo a primeira etapa é de caos total na residência. Mas, depois, as coisas vão se arrumando e, no final, temos um imóvel em ordem. Este é o caso dos oposicionistas?
Os otimistas parecem acreditar que sim. Para eles, a direita está passando por um momento de desorganização para, em seguida, afinar sua estratégia e ganhar musculatura (lembremos que, para piorar a situação, a grande liderança direitista, o ex-presidente Jair Bolsonaro, está longe dos holofotes após ter sido preso). Um dos sintomas desta confusão seria o número exagerado de candidaturas sem que nenhuma tenha ainda força eleitoral comparável à de Lula. Mas essa quantidade significativa de nomes precisa ser depurada com alguma urgência, para que exista sintonia e união de forças políticas.
Durante o ano de 2025, a pauta da direita sofreu baques com o tarifaço do presidente americano, Donald Trump. Quando viram o quanto esse tema era impopular, muitos políticos direitistas mudaram de direção e passaram a elogiar desenfreadamente as sanções da Lei Magnitsky, impostas ao ministro Alexandre de Moraes. No entanto, o juiz teve seu nome retirado na lista de sancionados na última sexta-feira. E, com isso, a direita se sentiu órfã e o presidente pareceu ainda mais forte aos olhos do eleitorado.
O governo Lula, no entanto, continua com os mesmos problemas que colocaram a desaprovação da presidência em seu nível máximo (57%) em maio deste ano. A inadimplência está alta, a sensação de insegurança pública idem e o mandatário continua dando declarações polêmicas (a única diferença em relação a maio é que a inflação de alimentos caiu bastante em relação aos índices observados naquela época).
Se a direita conseguir transformar o atual alvoroço em um processo de depuração, há espaço para otimismo. A fragmentação pode se converter em força se resultar em uma candidatura única capaz de reunir conservadores, liberais e nacionalistas em torno de uma pauta comum. Mas, para essa equação funcionar, também é preciso trazer o centro para essa coalização de forças e investir em um projeto de comunicação que entenda os anseios dos eleitores e trabalhe bem os pilares da desaprovação de Lula.
Além disso, a direita pode vencer Lula se souber capitalizar o desgaste acumulado do governo e apresentar propostas claras para os problemas mais sentidos pela população. A inadimplência, a violência urbana e a falta de confiança na condução econômica são temas que, bem trabalhados, podem gerar uma narrativa de mudança. Se a oposição conseguir se organizar em torno de um discurso pragmático e mobilizador, a desordem atual pode se revelar apenas uma etapa de transição para uma vitória em 2026.
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