Algumas pesquisas divulgadas nos últimos dias mostram que a população brasileira, em sua maioria, não morre de amores por uma carteira assinada. Segundo pesquisa do Datafolha, 59% dos brasileiros preferem trabalhar por conta própria do que ter um emprego regido pela CLT. Um outro levantamento, do Instituto Locomotiva, mostra que 58% dos entrevistados acreditam que trabalhar por conta própria seria a escolha preferencial na hora de decidir sobre uma nova atividade profissional. Por fim, um estudo encomendado pela Fiesp conclui que 20,5% das indústrias paulistas procuraram contratar novos funcionários entre o início de 2024 e março de 2025, mas não conseguiram empregar ninguém.
Estes números mostram uma mudança significativa de mentalidade por parte da sociedade. E também corrobora a tese de que os brasileiros economicamente ativos não estão mais sintonizados com o discurso do governo, de reforçar direitos trabalhistas.
Mais do que isso: quando a maioria prefere trabalhar por conta própria, isso quer dizer que o espírito empreendedor aumentou entre nós. E, com essa visão de mundo, estes empreendedores buscam ascensão social. Por isso, se incomodam com o que prega o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta constantemente jogar os ricos contra os pobres em seus pronunciamentos.
Este grupo de trabalhadores não está em busca de mais direitos sociais ou ficar abrigado no guarda-chuva dos sindicatos. Eles não querem que o Estado os proteja dos patrões. Na verdade, eles querem ser patrões e não mais funcionários dos outros.
Dentro dessa lógica, aqueles com veia empreendedora querem ficar ricos. E, assim, se sentem atingidos pelo discurso de Lula e do ministro da Fazendo, Fernando Haddad, que frequentemente criticam a camada mais abonada da população.
Além disso, temos também aqueles que que buscam ser autônomos para ter maior flexibilidade de horário – algo que se vê muito entre os mais jovens. Esses profissionais querem ter mais tempo disponível para o lazer ou mesmo para conviver com a família. São pessoas que não querem os compromissos que vêm em um pacote de carteira assinada, com horários rígidos e inflexíveis.
Um exemplo disso se vê nas empresas de logística, nas quais é comum ver alguém trabalhando em uma companhia por dois dias e em um concorrente no restante da semana. Com isso, esse trabalhador pode adotar horários diferentes durante a semana e ter a opção de se demitir de um dos cargos sem perder totalmente seus vencimentos mensais.
Tais percepções e comportamentos impactam a percepção da sociedade em relação ao governo Lula. Esses eleitores que têm veia empreendedora ou que desejam flexibilidade no trabalho não querem ouvir odes ao sindicalismo ou alfinetadas dirigidas aos mais ricos. Eles querem liberdade ou maiores condições para subir na vida.
O Planalto está preparado para adaptar sua narrativa ao desejo da maioria dos brasileiros? Muito provavelmente não. Até agora, tudo o que observamos foi um governo que insiste nos mesmos argumentos de vinte anos atrás e dobra a aposta na veiculação de seus feitos ou conceitos. O problema, neste caso, não é a frequência com a qual a mensagem é divulgada – e sim com o conteúdo da mensagem em si.
Conseguirá Lula se adaptar a essa nova realidade? A julgar pelos recentes acontecimentos, não há muita dúvida: talvez seja mais fácil fazer um boi voar.












