Em um cenário de juros reais ainda elevados, a temporada de resultados do terceiro trimestre revelou o poder de adaptação das empresas brasileiras. Segundo Gustavo Cruz, analista da RB Investimentos, “as companhias mostraram eficiência operacional e disciplina de custos, mesmo com o ambiente macroeconômico desafiador”.
Além disso, o especialista avalia que os balanços funcionam como um verdadeiro filtro para o investidor identificar negócios com fundamentos sólidos. “A temporada ajuda a separar crescimento sustentável de ganhos pontuais. É quando se enxerga quem realmente está entregando valor”, pontua Cruz.
Como a temporada de resultados ajuda na seleção de empresas?
De acordo com o analista, os números trimestrais permitem acompanhar margens, endividamento e geração de caixa, pontos essenciais para avaliar a saúde financeira das companhias. “Quando uma empresa consegue expandir margens em meio a juros altos, isso é sinal de gestão eficiente e estratégia de longo prazo”, explica Gustavo.
Além disso, ele reforça que o investidor deve olhar além do lucro líquido. “Lucro pode enganar. O que mostra consistência é a conversão de Ebitda em caixa e a capacidade de financiar crescimento sem comprometer o balanço”, ressalta o analista da RB Investimentos.
Por que o setor imobiliário se destacou nesta temporada?
Entre os setores analisados, o imobiliário teve papel de destaque na temporada de resultados. Gustavo Cruz destaca que empresas como Cury, Tenda e Plano & Plano aproveitaram o impulso das novas regras do programa Minha Casa, Minha Vida. “Essas companhias conseguiram capturar o aumento de demanda e melhorar margens, mesmo com custo de capital elevado”, observa.
Por outro lado, o analista faz um alerta: “Apesar dos lucros recordes, o investidor precisa monitorar o ritmo de vendas e o comportamento dos financiamentos. Se o crédito encarecer, o ritmo de crescimento pode desacelerar.”
Turismo: recuperação lenta e lições da CVC
Enquanto o setor imobiliário avança, o turismo ainda enfrenta desafios. Gustavo Cruz cita o exemplo da CVC: “Mesmo com câmbio favorável e uma retomada internacional, a companhia perdeu espaço e viu queda no take rate. Isso mostra que o setor ainda busca um modelo mais eficiente de monetização.”
Além disso, ele acredita que o segmento precisa se reinventar. “A concorrência digital é enorme. As empresas que usarem tecnologia para melhorar experiência e fidelização do cliente vão sair na frente”, afirma.
Quais pontos observar nos próximos trimestres?
Para o analista da RB Investimentos, os próximos meses serão decisivos para testar a capacidade das companhias de manter rentabilidade com juros altos. “O mercado vai continuar premiando eficiência e punindo improviso. A leitura dos balanços precisa ser cada vez mais qualitativa, não apenas numérica.”
Nesse sentido, ele recomenda acompanhar indicadores como margem operacional, endividamento líquido e evolução do fluxo de caixa livre. “Esses dados dizem muito mais sobre o futuro da empresa do que um lucro pontual”, resume Gustavo.
O que as empresas podem fazer para se manter competitivas?
Segundo o especialista, a adaptabilidade é o principal diferencial neste ciclo. “Empresas que inovam em gestão e usam tecnologia para aumentar eficiência têm mais chance de atravessar períodos de incerteza”, destaca.
Entre as medidas mais importantes, Gustavo aponta:
- Investir em digitalização e automação de processos;
- Reforçar práticas de governança e transparência;
- Expandir portfólio com produtos e serviços de maior valor agregado;
- Controlar custos financeiros e renegociar dívidas em bom momento de mercado.
Conclusão: o que a temporada revelou
De modo geral, a temporada de resultados reforçou o contraste entre setores resilientes e segmentos ainda em recuperação. “Os balanços mostraram quem aprendeu a operar com juros altos e quem depende demais do crédito barato”, afirma Gustavo Cruz.
Para o investidor, a lição é clara: “Olhe para eficiência, caixa e consistência. São esses fatores que indicam o verdadeiro valor de uma empresa na Bolsa”, conclui o analista.
Assista na íntegra:
















