O mercado financeiro brasileiro segue sob forte pressão, com a política voltando a ocupar o centro das decisões de preço na última semana cheia do ano. A combinação entre a divulgação antecipada de uma pesquisa eleitoral e o aumento da percepção de risco fiscal provocou uma reprecificação relevante dos ativos domésticos, deixando fatores tradicionais de curto prazo, como Copom e dados de emprego nos Estados Unidos, a um papel secundário.
Segundo análise de Marco Saravalle, estrategista-chefe da MSX, o movimento observado no pregão foi menos uma reação a indicadores econômicos e mais um ajuste à piora na relação risco-retorno para o Brasil no horizonte eleitoral de 2026.
Pesquisa eleitoral muda a leitura do mercado
O principal gatilho do estresse foi a circulação antecipada da pesquisa Genial/Quaest, que alterou a dinâmica percebida no campo da direita. O levantamento mostrou o senador Flávio Bolsonaro como o nome mais competitivo entre os candidatos desse espectro, com cerca de 23% das intenções de voto, mas também com rejeição elevada, em torno de 60%.
Para o mercado, o ponto central não foi a liderança pontual, mas o efeito colateral da pesquisa. A ascensão de Flávio reduz o espaço de Tarcísio de Freitas, até então visto por investidores como o candidato com maior potencial de vitória e melhor interlocução com o mercado. Esse rearranjo elevou a percepção de incerteza e levou investidores a aumentar posições defensivas.
Bolsa cai, dólar sobe e juros longos abrem
A reação foi imediata. O Ibovespa registrou queda próxima de 2,4%, em um pregão de giro elevado, sinalizando ajuste relevante de posições. O dólar avançou, chegando a testar níveis mais altos ao longo do dia, movimento que também foi reforçado por fluxo sazonal de remessas ao exterior.
Na renda fixa, os juros futuros abriram principalmente nos vértices mais longos da curva, em um movimento que destoou do comportamento dos mercados internacionais e refletiu o aumento do prêmio de risco doméstico.
No desempenho setorial, os bancos lideraram as perdas, por serem mais sensíveis à narrativa fiscal e política. As ações da Petrobras recuaram acompanhando a forte queda do petróleo no mercado internacional, enquanto a Vale apresentou desempenho relativamente melhor, sustentada por revisão de preço-alvo e por sua tese própria.
Copom mantém cautela e evita sinalização clara
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) não trouxe uma indicação explícita de corte de juros já em janeiro. O documento reconheceu o avanço do processo desinflacionário e, pela primeira vez, apontou sinais iniciais de acomodação no mercado de trabalho. Ainda assim, manteve um tom cauteloso, com alertas recorrentes sobre o cenário fiscal.
Com isso, o mercado passou a precificar com mais força a manutenção da Selic na próxima reunião, embora sem formação de consenso. O próximo ponto de atenção será o Relatório de Política Monetária, que pode oferecer mais clareza sobre o balanço de riscos para 2026.
Dados dos EUA não alteram cenário-base do mercado
Nos Estados Unidos, o payroll trouxe uma leitura mista. Apesar do número cheio ter vindo acima das expectativas, revisões negativas e sinais de fraqueza em meses anteriores impediram uma mudança relevante no cenário-base. O mercado segue precificando uma pausa do Federal Reserve como principal hipótese para janeiro.
Avanço fiscal ajuda, mas não elimina incerteza
No campo fiscal, o Congresso aprovou um projeto que corta benefícios fiscais, considerado peça-chave para viabilizar o Orçamento de 2026 e a votação da Lei Orçamentária Anual. O pacote inclui corte linear de incentivos e aumento de tributação sobre juros sobre capital próprio (JCP), além de ajustes envolvendo bets e fintechs.
Petróleo e geopolítica voltam ao radar
Após a forte queda da commodity, o mercado passou a monitorar um novo vetor de risco envolvendo a Venezuela. Informações sobre bloqueio total a petroleiros que entram e saem do país reacenderam a possibilidade de recomposição de prêmio de risco no petróleo no curto prazo, o que pode influenciar ações do setor.
Mercado atento a dados e manchetes
Para esta quarta-feira (17), investidores acompanham indicadores como IPC-Fipe, IGP-M e fluxo cambial no Brasil, além de falas de dirigentes do Federal Reserve e dados de estoques de petróleo no exterior. No cenário político, o andamento das pautas no Senado, em especial o PL da Dosimetria, segue no radar, em um ambiente de elevada sensibilidade a manchetes.
Na avaliação da MSX, o recado do mercado foi claro: enquanto a política monetária no Brasil e nos Estados Unidos aponta para um ambiente potencialmente mais favorável à frente, o prêmio de risco eleitoral voltou a ser o principal determinante do humor, e da volatilidade, dos ativos brasileiros.













