O dia começou com clima positivo nos mercados internacionais e domésticos, sustentado pela combinação entre expectativas mais brandas para a política monetária nos Estados Unidos e a percepção de que o Copom pode iniciar o ciclo de corte da Selic já na reunião de janeiro. No Brasil, a agenda política em Brasília voltou ao centro do radar com o avanço das negociações em torno do Orçamento de 2026.
O movimento de maior apetite a risco ganhou força após o Ibovespa renovar o recorde histórico, encerrando a terça-feira em 161.092 pontos, em alta de 1,56%.
Mercado de olho: acordo entre Planalto e Congresso destrava votação do Orçamento
O governo federal e o Congresso chegaram a um acordo sobre o calendário de pagamento das emendas parlamentares no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026. A negociação prevê a liberação entre 60% e 66% das emendas dentro de um cronograma pré-definido.
O texto será votado nesta quarta-feira na Comissão Mista de Orçamento. Com o impasse superado, os parlamentares devem avançar para a votação do Orçamento de 2026, marcada para amanhã.
Apesar da crise política envolvendo o presidente Lula e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a articulação seguiu nos bastidores. Sem acordo, as emendas ficariam travadas no início de 2026, como ocorreu neste ano.
Sabatina suspensa no radar do mercado
Mesmo após o avanço nas negociações sobre as emendas, o clima político segue deteriorado. Alcolumbre cancelou a sabatina de Jorge Messias, advogado-geral da União indicado ao Supremo Tribunal Federal, alegando “omissão grave” do governo por não enviar formalmente a indicação.
Aliados afirmam que não há ambiente para diálogo entre Lula e Alcolumbre no momento, e a reacomodação política dependerá dos próximos dias.
CAE aprova aumento de tributos para bets, JCP e fintechs
A Comissão de Assuntos Econômicos aprovou, por ampla maioria, o projeto que eleva tributos sobre diversos setores. O texto prevê:
- Aumento da taxação das bets: de 12% para 15% em 2026–27 e 18% a partir de 2028;
- JCP: de 15% para 17,5%;
- CSLL das fintechs: de 9% para 12%;
- Instituições de pagamento: de 15% para 17,5%.
O governo projeta impacto potencial de até R$ 10 bilhões em arrecadação, embora não haja estimativa oficial. A proposta também reacende o debate sobre o imposto mínimo efetivo, que pode sofrer flexibilizações no Congresso.
Projeto Antifacção retorna ao centro da articulação
O governo busca recompor pontos do Projeto Antifacção que foram alterados pela Câmara, em especial os dispositivos que reduzem recursos destinados à Polícia Federal. As negociações com o senador Alessandro Vieira devem definir se o texto voltará para análise dos deputados.
Lula e Trump retomam diálogo direto
Lula conversou por cerca de 40 minutos com o presidente norte-americano Donald Trump. A segurança pública dominou a agenda, e Trump afirmou estar “ansioso” para encontrá-lo em breve, defendendo que “acordos muito bons virão” a partir da aproximação.
No campo comercial, Lula elogiou o recuo dos EUA sobre tarifas adicionais a produtos brasileiros, mas cobrou novos avanços em outros segmentos.
2026 entra no radar eleitoral
Lula afirmou que só decidirá em março de 2026 se disputará a reeleição. O presidente admitiu que a idade pesa na decisão. Pesquisas Atlas Intel/Bloomberg mostram Lula à frente em cenários de primeiro e segundo turno, mas indicam queda na aprovação ao governo.
Agenda global concentra atenção nos EUA
O foco dos investidores hoje está nos indicadores norte-americanos, que podem reforçar a expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve na próxima semana. A probabilidade de redução é estimada em cerca de 90% pelo mercado.
Entre os dados previstos para hoje estão:
- 10h15: ADP (empregos privados);
- 11h15: Produção industrial;
- 11h45: PMI Composto S&P Global;
- 12h00: PMI Serviços ISM;
- 12h30: Estoques de petróleo (DoE).
Na Europa, investidores acompanham a divulgação do PPI e dos PMIs finais de novembro, além do discurso de Christine Lagarde. Na Ásia, os PMIs compostos de China e Japão permaneceram acima de 50 pontos.
Ibovespa renova máxima e fecha acima dos 161 mil pontos
O principal índice da Bolsa brasileira avançou 1,56% e fechou em 161.092 pontos, impulsionado pela combinação de fatores externos e internos:
- Chances elevadas de Fed mais brando;
- Expectativa de corte da Selic em janeiro;
- Queda nos juros dos Treasuries;
- Fluxo positivo para mercados emergentes.
Destaques do pregão:
- Vale (+0,82%): guidance revisado para baixo e capex menor foram vistos como positivos;
- Petrobras: virou para alta mesmo com o Brent em queda;
- Bancos: Itaú liderou as altas do setor (+2,23%);
- Maiores altas do dia:
- CVC (+6,63%)
- Vamos (+6,46%)
- Localiza (+4,74%)
Com um dia marcado por avanço político em Brasília, tensão entre Planalto e Senado e uma bateria de indicadores decisivos nos Estados Unidos, os mercados entram na quarta-feira buscando direção em meio a sinais mistos. A expectativa de cortes de juros pelo Fed e a possibilidade de o Copom iniciar a flexibilização em janeiro mantêm o apetite ao risco elevado, enquanto o cenário político doméstico segue como variável central para investidores que monitoram tanto a agenda fiscal quanto a capacidade de articulação do governo nas próximas semanas.












