O Ibovespa encerrou a sessão desta segunda-feira (17) em queda, girando na casa dos 156,9 mil pontos, depois de várias semanas de forte rali na bolsa brasileira. O movimento foi marcado por um dia de cautela, com ajuste de posições e investidores reagindo ao IBC-Br mais fraco, à alta dos juros futuros e ao dólar acima de R$ 5,30. Além disso, o ambiente externo mais defensivo, com queda nas bolsas de Nova York, ajudou a reforçar o clima de correção no mercado local.
Nesse sentido, o pregão teve cara de “zero a zero com viés negativo”: não houve notícia única capaz de derrubar o índice, mas uma soma de fatores que incentivou a realização de lucros após o rali recente. Enquanto isso, no programa Closing, da BMC News, o economista e sócio da Legado Investimentos, Everton Dias, analisou ao vivo o comportamento do mercado e classificou a correção como um movimento “natural e saudável”, que não muda a visão de médio prazo para a bolsa nem a expectativa de cortes de juros mais à frente.
Realização “natural e saudável”, segundo Everton Dias
Comentando o pregão, Everton Dias ressaltou que o dia de queda era esperado depois de semanas de forte valorização do Ibovespa. Segundo ele, é normal que, em algum momento, o mercado faça pausa para ajuste, permitindo que investidores que entraram no meio do rali realizem parte dos ganhos e reavaliem seus portfólios. Além disso, esse tipo de correção ajuda a devolver um pouco de racionalidade aos preços, especialmente em papéis que subiram demais em curto espaço de tempo.
O gestor destacou que essa realização não invalida a tese de rali de fim de ano, nem altera a leitura de que a bolsa brasileira continua descontada em relação a seus fundamentos. Por outro lado, ele reforçou que o investidor precisa separar o “ruído” diário dos movimentos estruturais, lembrando que ainda há perspectiva de cortes de juros em 2026 e um ambiente global com tendência de alívio monetário, ainda que de forma mais lenta do que o mercado chegou a precificar.
IBC-Br fraco, juros em alta e foco no fiscal brasileiro
No campo doméstico, o destaque foi o IBC-Br de setembro, que apontou queda na comparação mensal e sinalizou desaceleração da atividade econômica. Na leitura de Everton, o dado veio abaixo das expectativas, mas não é suficiente, por si só, para desmontar a tese de recuperação gradual da economia. Nesse sentido, ele avalia que o grande nó segue sendo a questão fiscal, e não apenas a fotografia pontual do indicador de atividade.
Enquanto isso, a curva de juros futuros avançou em praticamente todos os vértices, refletindo prêmio de risco maior e maior cautela com o quadro interno. Everton lembrou que, embora juros de 15% ao ano sejam “excelentes” para quem já tem patrimônio consolidado em renda fixa, o patamar é bastante pesado para empresas que precisam de crédito e para famílias endividadas. Por isso, o mercado continua ansioso por qualquer sinal mais claro de início do ciclo de cortes pelo Banco Central.
BC mais duro, credibilidade e cortes só mais adiante
Ao comentar a atuação recente do Banco Central, já sob comando de Gabriel Galípolo, Everton destacou que a alta “extra” de 0,25 ponto na Selic teve também um forte componente de credibilidade. Segundo ele, o movimento serviu para mostrar compromisso com o combate à inflação e dissipar dúvidas sobre a postura da nova diretoria. Além disso, o fato de as últimas decisões terem sido unânimes reforça a imagem de colegiado alinhado em torno de uma política mais firme.
Por outro lado, o gestor não vê espaço para uma devolução rápida desse 0,25 ponto como gesto simbólico. Na visão dele, o BC deve ser linear e só iniciar o ciclo de cortes quando o IPCA projetado em 18 meses estiver claramente no centro da meta. Everton lembrou que, hoje, essa projeção ainda está acima do objetivo oficial, o que explica o tom duro dos comunicados e da comunicação pública. Assim, o mercado segue mirando principalmente o vértice de março de 2026 como ponto provável para o primeiro corte mais consistente.
Cenário externo: Fed, dados represados e techs em correção
No exterior, o dia também foi de ajuste, com índices como Nasdaq pressionados pela realização em grandes empresas de tecnologia e inteligência artificial. Everton lembrou que a incerteza em torno da política de juros do Federal Reserve aumentou após o período de shutdown nos Estados Unidos, que atrasou a divulgação de dados importantes de inflação e emprego. Além disso, a reabertura dessa agenda estatística devolve alguma clareza ao Fed, mas mantém o mercado em compasso de espera até a próxima decisão.
Everton destacou que, há poucas semanas, o consenso era de alta probabilidade de novo corte de juros nos EUA, mas as apostas migraram para manutenção, o que ajuda a explicar a correção recente das big techs. Nesse sentido, ele avaliou que o impacto sobre o Ibovespa vem tanto pela via de sentimento global de risco quanto pela reprecificação de ativos ligados à narrativa de inteligência artificial, que haviam acumulado ganhos muito fortes em 2024 e 2025.
Setores em foco: bancos, consumo, saúde e dólar
Na bolsa brasileira, bancos de grande porte, ações ligadas ao consumo e empresas mais sensíveis à curva de juros engrossaram o lado negativo do pregão. Everton observou que, no caso dos bancos, não há mudança estrutural relevante nos fundamentos, o que abre espaço para oportunidades de entrada em dias de queda mais forte. Além disso, ele chamou atenção para o comportamento de papéis de saúde e varejo, que seguem voláteis, mas ainda fazem parte de teses relevantes de longo prazo.
Enquanto isso, o câmbio voltou a ganhar protagonismo, com o dólar orbitando a casa de R$ 5,33. Everton defendeu a ideia de dolarização gradual do patrimônio, sem tentar acertar o “fundo” da cotação. Na visão dele, quem tem obrigações ou objetivos em moeda forte deve comprar aos poucos, mantendo disciplina e olhando para a rentabilidade em dólar, e não apenas para a oscilação diária da taxa de câmbio em reais.
Como o investidor deve encarar a correção?
Na parte final da análise, Everton reforçou que o investidor não deve confundir uma correção técnica como a de hoje com mudança estrutural de cenário. Para ele, num ambiente em que o CDI ainda é alto, faz sentido manter boa parcela da carteira em renda fixa, mas, ao mesmo tempo, é justamente nas quedas que surgem as melhores oportunidades em renda variável. Além disso, ele alertou que o erro clássico do investidor pessoa física é fazer o oposto: comprar na euforia e vender no medo.
- Reforçar uma base sólida em renda fixa, aproveitando os juros ainda elevados.
- Usar dias de correção para montar posições graduais em ações de qualidade.
- Evitar concentrações excessivas em setores muito sensíveis a ruídos de curto prazo.
- Dolarizar parte do portfólio de forma recorrente, sem tentar adivinhar a cotação perfeita.
Semana “dublada” até a superquarta e atenção aos dados
Por fim, Everton classificou esta como uma semana que tende a ser “mais dublada”, com pregões de pouca direção clara até que o mercado tenha maior visibilidade sobre as próximas decisões de juros aqui e no exterior. Nesse sentido, ele enfatizou que o investidor precisará acompanhar de perto os dados econômicos, especialmente os números americanos represados pelo shutdown e os indicadores de atividade e inflação no Brasil. Enquanto isso, o mais importante é manter a disciplina de carteira e evitar decisões impulsivas baseadas em um único dia de correção.
Assim, a mensagem central que fica da leitura de Everton Dias é de equilíbrio: aproveitar o poder de remuneração da renda fixa, sem abrir mão de construir, com calma e método, uma exposição consistente em bolsa e ativos globais para capturar o potencial de valorização quando o ciclo de juros, finalmente, começar a virar.
















