O Ibovespa encerrou a sessão desta segunda-feira (8) em alta, retomando parte do terreno perdido após o tombo de mais de 4% registrado na sexta-feira anterior. O movimento refletiu um ambiente de maior apetite ao risco, influenciado tanto pelo alívio no câmbio quanto pelo desempenho positivo de grandes companhias listadas.
O principal índice da Bolsa brasileira subiu 0,52%, alcançando 158.187 pontos ao fim do pregão. Apesar da recuperação, investidores seguem atentos aos desdobramentos políticos que catalisaram a forte volatilidade recente, bem como à leitura do mercado sobre a trajetória futura de juros.
Quais setores puxaram a recuperação do índice?
Entre os destaques positivos do dia, os grandes bancos tiveram desempenho sólido. As ações de Banco do Brasil avançaram mais de 2%, enquanto Bradesco, Itaú e Santander registraram ganhos moderados, ajudando a sustentar a recuperação do índice. Além disso, empresas ligadas a commodities colaboraram para o tom positivo, com Vale e Petrobras encerrando a sessão em alta.
No varejo, papéis como Magazine Luiza e Lojas Renner também subiram, refletindo expectativas mais favoráveis para empresas sensíveis ao ciclo econômico. Nesse sentido, o movimento encontrado no setor ajudou a reforçar a rotação de ativos iniciada no início do pregão.
Por outro lado, o maior destaque negativo ficou com os papéis do setor de saúde, especialmente Hapvida, que recuou mais de 5% e figurou entre as maiores quedas do dia, ao lado de nomes como Açaí, Natura e Rumo.
Como ficaram dólar e juros futuros?
O câmbio trouxe um alívio adicional ao mercado: o dólar comercial caiu em torno de 0,2%, aproximando-se novamente da faixa de R$ 5,42. Enquanto isso, as taxas dos DIs recuaram ao longo de toda a curva, em um movimento alinhado à melhora do sentimento global e à reprecificação das expectativas para a política monetária doméstica.
Apesar da queda, os juros futuros ainda refletem cautela. Parte do estresse da sexta-feira foi devolvida, mas a curva segue carregando prêmio diante do ruído fiscal, do calendário eleitoral e da incerteza em relação ao ritmo dos cortes de juros nos próximos anos.
O que explica o humor do mercado?
Além do ajuste técnico após a forte correção da semana passada, investidores reagiram a sinais de menor tensão no ambiente político, especialmente após a percepção de que o mercado exagerou na reação à indicação de Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência. Esse quadro contribuiu para uma sessão de recuperação mais consistente, ainda que longe de reverter integralmente as perdas recentes.
Nesse sentido, também ganhou força a avaliação de que a queda da taxa Selic prevista para 2026 pode favorecer determinados setores. Relatórios de casas de investimento destacam oportunidades em papéis de renda fixa e ativos sensíveis aos juros, o que ajudou a guiar parte do fluxo de hoje. Por outro lado, a combinação entre fiscal pressionado e eleições no radar mantém o prêmio de risco elevado e limita movimentos mais agressivos de alta.
O que dizem os especialistas?
Para Everton Dias, da Legado Investimentos, a queda de sexta-feira teve caráter de overreaction. Ele avalia que o mercado vinha precificando um cenário eleitoral em que Tarcísio de Freitas surgia como candidato natural de centro-direita, e a surpresa com a movimentação em torno de Flávio Bolsonaro acabou “assustando” os investidores e gatilhou uma realização generalizada. Na visão do gestor, o pregão desta segunda mostra que “o mercado deu uma exagerada” e começa a corrigir esse excesso, ao mesmo tempo em que passa a olhar o cenário doméstico “com mais carinho”, focando de novo em política e fiscal.
Everton destacou ainda que o Brasil passou boa parte do ano olhando mais para o cenário externo – dólar, liquidez global e juros americanos – e que, daqui para frente, a política interna tende a fazer mais preço, aumentando a volatilidade à medida que 2026 se aproxima. Ele também chamou atenção para o comportamento setorial: depois de uma queda de cerca de 4% no índice, com todo o mercado indo para baixo, o investidor volta na segunda-feira escolhendo “os papéis que prefere”, com mais fundamento, o que ajuda a explicar por que ações do mesmo setor caminham em direções opostas no dia seguinte à pancada.
Em relação à política monetária, o analista da Legado vê o Banco Central em postura conservadora. Na avaliação de Everton, é “bem pouco provável” que haja corte de juros já na Super Quarta, e o debate real é se o início do ciclo fica para janeiro ou março. Pessoalmente, ele se diz mais cauteloso e enxerga maior probabilidade de cortes a partir de março, possivelmente em doses mais robustas, ressaltando que a prioridade da autoridade monetária continua sendo o combate à inflação, apesar da pressão política por afrouxamento em ano eleitoral.
Já Juquira, especialista da Nelogica, classificou o desempenho do Ibovespa como uma “alta singela” para o tamanho da queda registrada na sessão anterior. Ele lembra que, no pré-mercado, o ETF que espelha as principais ações brasileiras chegou a sinalizar uma recuperação mais forte e, por isso, esperava um repique mais intenso do índice. Ainda assim, ressalta o papel de B3, Petrobras e Banco do Brasil, além da disparada de IRB, como destaques na sustentação do movimento positivo do dia.
Do lado dos juros, Juquira observou que a curva chegou a abrir bastante com o choque político da sexta-feira e que o recuo desta segunda-feira ajuda, mas ainda não foi suficiente para “zerar” o stress. Na leitura dele, a precificação de cortes de juros no exterior contrasta com um cenário local em que o Boletim Focus já aponta Selic mais alta em 2026, o que mantém pressão sobre setores como o varejo e exige cautela redobrada do investidor.
Na análise técnica, o especialista da Nelogica chamou atenção para IRB, que subiu mais de 10% e voltou a negociar acima de regiões de forte volume recente, o que, na visão dele, reforça a leitura de que compradores voltaram a se posicionar no papel. No caso de Banco do Brasil, Juquira vê o ativo ganhando tração para o lado comprador acima da faixa dos R$ 22,50, ainda que mantenha ressalvas em relação ao risco de curto prazo após o último balanço e à exposição do banco ao agronegócio em um ciclo mais desafiador.
Com isso, o fechamento desta segunda-feira combina recuperação parcial após um tombo político-eleitoral, curva de juros ainda estressada, dólar em leve queda e um mercado que volta a separar, com mais critério, os ativos de maior qualidade. Para os dois analistas, o investidor que quiser aproveitar as oportunidades que surgem nesse contexto precisa unir paciência, gestão de risco e atenção redobrada ao noticiário de Brasília e à Super Quarta desta semana.













