A sexta-feira (19) começa com os mercados globais ajustando posições diante de três vetores centrais: a alta de juros no Japão, a votação do Orçamento de 2026 no Brasil e a leitura mais branda da inflação nos Estados Unidos. O pano de fundo segue sendo o mesmo: prêmio de risco elevado, cautela com política fiscal e ausência do tradicional rali de fim de ano.
Mercado de olho: CPI dos EUA alivia, mas não resolve
Nos Estados Unidos, o CPI veio abaixo do esperado, elevando marginalmente a probabilidade de um corte de juros já em janeiro. Ainda assim, a leitura é cautelosa. Parte do mercado avalia que o dado pode ter sido impactado por distorções estatísticas ligadas à retomada da coleta em novembro, após o shutdown.
Com isso, cresce a exigência por confirmação nos dados de dezembro antes de uma reprecificação mais consistente da curva.
Congresso vota Orçamento 2026 sob pressão de emendas
No Brasil, o foco absoluto do dia é a votação do Orçamento de 2026. Pela manhã, o texto passa pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) e, ao meio-dia, segue para sessão conjunta do Congresso.
O fator decisivo é político e operacional: sem Orçamento aprovado, não há liberação de emendas. Parlamentares já organizaram o calendário para receber 55% dos recursos até o início de julho, o que acelerou o cronograma.
Fiscal ainda exige esforço adicional
Apesar da aprovação recente de medidas fiscais, como o corte de benefícios e o aumento de tributação sobre JCP, fintechs e bets, o debate segue aberto. O governo sustenta que as ações permitem cumprir o piso da meta fiscal em 2026, mas a Instituição Fiscal Independente (IFI) calcula que ainda seria necessário um esforço adicional de R$ 26,5 bilhões para zerar o resultado primário.
O alerta da IFI recai sobre a composição das receitas, com peso relevante de medidas extraordinárias que podem não se repetir.
Sinalização de Haddad entra no preço do mercado
Outro ponto sensível para os mercados foi a sinalização do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que deve deixar o cargo “no mais tardar em fevereiro” para colaborar com a campanha eleitoral de 2026.
A avaliação entre gestores é que não se trata apenas de uma troca de nome, mas de dúvidas sobre continuidade da agenda, capacidade de execução e coordenação política no início do próximo ano, fatores que tendem a pressionar a curva de juros e o prêmio de risco.
Selic no radar do mercado
Após a divulgação do Relatório de Política Monetária, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reforçou que “não há portas fechadas” para janeiro, mas também evitou qualquer compromisso.
Na prática, o mercado segue trabalhando com março como cenário-base para o início de cortes, enquanto janeiro permanece como uma possibilidade condicionada a dados muito favoráveis.
Mercosul–UE segue travado
No front externo, o acordo entre Mercosul e União Europeia voltou a enfrentar resistência. A Itália se juntou à França e travou a assinatura imediata, empurrando o cronograma ao menos para janeiro.
Embora negativo para as manchetes, o sinal político é claro: a resistência europeia segue forte, especialmente por pressão do setor agrícola.
Japão volta ao centro do debate global
O Banco do Japão elevou a taxa básica em 25 pontos-base, para 0,75%, o maior nível em três décadas. Mais do que a decisão em si, o comunicado chamou atenção por deixar a porta aberta para novos ajustes.
A leitura no mercado é que o Japão volta a influenciar a precificação global, não apenas pelo nível dos juros, mas pelos possíveis efeitos sobre fluxos internacionais, carry trade, iene, Treasuries e o apetite a risco em mercados emergentes.












