A decisão dos Estados Unidos de retirar a tarifa de 40% sobre uma série de produtos brasileiros, incluindo a carne bovina, gerou reação imediata no mercado agropecuário e levantou dúvidas sobre eventuais efeitos inflacionários no Brasil. Para analistas, a medida tende a fortalecer os preços da arroba do boi, mas não deve alterar o cenário de inflação projetado para este ano e para 2026.
Segundo Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, o anúncio “vem em boa hora”, especialmente após o recente movimento de queda nos preços futuros provocado pelas discussões envolvendo a China.
Ela explica que a retirada das tarifas deve “reduzir a pressão de baixa que observamos recentemente sobre a arroba do boi, principalmente após as medidas antidumping chinesas afetarem o mercado futuro”. Ainda assim, o efeito esperado é moderado: “Com o fim da taxação de 40%, esperamos maior firmeza para os preços até o fim do ano, mas de forma limitada. A base atual na praça de São Paulo gira próxima de R$ 320, e a retirada tende a ajudar a manter esse patamar”, ressalta a estrategista. Ela lembra ainda que as exportações brasileiras de carne bovina seguiram fortes mesmo durante a vigência das tarifas norte-americanas, encontrando outros mercados e contribuindo para impedir quedas mais intensas no mercado interno.
Apesar disso, a Warren não vê impacto relevante sobre a inflação: “O efeito da medida sobre o IPCA deve ser restrito. Mantemos nossas projeções de 4,3% para 2025 e 4,5% para 2026. Para os próximos meses, os números seguem em +0,20% em novembro e +0,31% em dezembro”, afirma Andréa.
Mercado da carne: firmeza no físico, pressão no futuro
A Warren atualizou sua análise sobre a arroba do boi após rumores não oficiais envolvendo novas diretrizes da China para a compra de carne bovina. A divulgação movimentou os contratos futuros e ampliou a pressão negativa, mas não se refletiu no mercado físico.
No mercado spot, o cenário permanece firme:
- Preços entre R$ 320 e R$ 325/@ em São Paulo;
- Escalas curtas e bom escoamento no atacado;
- Exportações de novembro seguem robustas, sem impacto das discussões chinesas.
A consultoria da instituição reforça que os “fundamentos não justificam que a queda observada no futuro se repita no físico”.
Projeções da Warren para o setor bovino
Para 2026, a casa trabalha com:
- Arroba entre R$ 320 no 1º semestre e até R$ 360 no 2º semestre;
- Valor médio de referência: R$ 340/@, usado nas projeções de IPCA;
- Alta esperada para carne bovina no índice: 10%.
Se houver queda da arroba entre 10% e 20% ainda em 2024, o impacto seria até –10 bps no IPCA de 2025, capturado entre dezembro, janeiro e fevereiro devido à defasagem do índice.
Em 2026, o movimento pode ser o inverso: caso haja recuperação significativa no segundo semestre, a alta das proteínas no IPCA poderia subir de 10% para cerca de 13%, com efeito aproximado de +6 bps no índice — concentrado no fim do ano.
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