A temporada de fim de ano trouxe um novo impulso ao mercado brasileiro com o anúncio simultâneo de dividendos por parte de empresas como Vale e Itaú. Para Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, antecipação dos pagamentos está diretamente ligada à expectativa das mudanças tributárias em 2026, o que tem levado diversas companhias a reorganizarem sua estratégia de remuneração.
“Certamente as companhias estão planejando otimizar a distribuição agora, para tentar não distribuir no ano que vem”, afirmou.
Dividendos respondem por até 70% da valorização de uma ação ao longo do tempo
Saravalle lembrou que o retorno total ao acionista vai além do ganho de capital. Cálculos acadêmicos e históricos mostram que entre 50% e 70% da valorização de uma ação ao longo dos anos vem dos dividendos reinvestidos.
“Bons pagadores de dividendos como Itaú, Bradesco, Vale e utilities seguem sendo procurados. Esse atrativo é decisivo na construção do retorno”, disse.
A busca por um “dividendo de Natal”, segundo ele, explica parte da movimentação observada entre investidores na reta final do ano.
Empresas correm para antecipar dividendos em meio a incertezas tributárias
A tributação sobre dividendos no próximo ano levou empresas a acelerar anúncios. Segundo Saravalle, estudos feitos por bancos, incluindo o BTG Pactual, mostram que algumas companhias já estavam preparadas para antecipar pagamentos diante de diferentes cenários fiscais.
“Todo mundo que está líquido, com bons resultados e alta geração de caixa, vai optar por antecipar. Outras terão que usar instrumentos como recompra de ações em 2025”, avaliou.
O movimento de antecipação não se limita às gigantes do Ibovespa. Além de Vale e Itaú, Allos (ALOS3), Marcopolo (POMO4), Vulcabras (VULC3) e Azzas 2154 (AZZA3) já anunciaram distribuições que, somadas, chegam a R$ 42,2 bilhões. Isso reforça a corrida das empresas para aproveitar a janela de isenção vigente antes de potenciais mudanças tributárias em 2025.
Petrobras perde atratividade e setor financeiro ganha destaque
Saravalle pontuou que a Petrobras não possui condições de acelerar dividendos ou anunciar pagamentos extraordinários no curto prazo, o que gera frustração entre investidores que buscam previsibilidade e retornos regulares.
“O principal atrativo da Petrobras está ficando menor. O investidor começa a preferir o setor financeiro, Vale e empresas de utilities”, afirmou.
Ele também fez um paralelo com o Banco do Brasil, que registrou queda relevante no lucro, reduzindo o dividend yield e distanciando a rentabilidade do banco público em relação aos pares privados.
Ibovespa segue apoiado pelo setor financeiro
O CIO reforçou que 2025 deve encerrar mais uma vez com o setor financeiro respondendo por boa parte da sustentação do índice, movimento recorrente devido à resiliência dos bancos em diferentes cenários de juros e atividade econômica.
Esse contexto, somado à corrida por dividendos antecipados, cria um ambiente de maior competição entre empresas para entregar retornos consistentes antes da virada tributária.
O movimento de aceleração de dividendos no fim de 2025 reflete:
- preocupação com o ambiente tributário;
- preferência do investidor por empresas previsíveis;
- capacidade de geração de caixa de setores como financeiro e mineração;
- e menor atratividade de companhias com restrições, como Petrobras e Banco do Brasil.
Com mais anúncios esperados nas próximas semanas, Saravalle orienta que investidores acompanhem de perto o calendário de proventos, especialmente aqueles que buscam rentabilidade imediata e estabilidade no curto prazo.













