O mercado financeiro iniciou esta sexta-feira (24), em tom mais otimista, com as bolsas internacionais sustentando ganhos e o petróleo estabilizado em torno de 65 dólares o barril. O movimento ocorre após dias de volatilidade e reflete o otimismo com um possível encontro entre Donald Trump e Xi Jinping na próxima semana, o que reacende esperanças de uma trégua comercial entre Estados Unidos e China. Enquanto isso, investidores ajustam suas expectativas diante das falas do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e dos dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos.
As declarações de Galípolo em Jacarta trouxeram um tom mais conservador, reforçando que as expectativas seguem desancoradas e que os juros precisarão continuar elevados por mais tempo, reduzindo as apostas de corte antecipado na taxa Selic.
O que explica a postura mais cautelosa do mercado?
De acordo com Marco Saravalle, CIO da MSX Invest, o petróleo tende a se manter estabilizado entre US$ 65 e US$ 66 o barril, mesmo com o ambiente geopolítico incerto. Segundo ele, o comportamento das ações do setor reflete essa percepção. “As empresas poderiam ter reagido com mais força, mas o mercado parece entender que não há espaço para novas altas expressivas no curto prazo”, afirmou o estrategista, acrescentando que o movimento de ontem foi positivo, porém aquém do esperado.
Nas bolsas internacionais, o sentimento de alívio vem acompanhado pela expectativa com o CPI norte-americano de setembro. O índice deve subir 0,4% no mês, com núcleo em 0,3%, mantendo o ritmo de agosto. Os números podem servir de termômetro para a política monetária do Federal Reserve, que segue avaliando o momento ideal para ajustar os juros diante da resistência da inflação e da força do mercado de trabalho nos Estados Unidos.
Enquanto isso, no Brasil, o Ibovespa encerrou a véspera em alta de 0,59%, aos 145.720 pontos, impulsionado pela valorização do petróleo e pela melhora no apetite ao risco. O volume financeiro totalizou R$ 19,2 bilhões. A expectativa é de um pregão mais estável nesta sexta, com os investidores aguardando a divulgação dos principais indicadores de inflação e produção corporativa.
Quais empresas se destacam neste momento
No noticiário corporativo, a Fitch Ratings elevou o rating da Vale de BBB para BBB+, com perspectiva estável, e reafirmou o rating nacional em AAA(bra). A agência destacou a diversificação do portfólio, o aumento do valor agregado dos produtos e a redução dos riscos ambientais. Para Saravalle, o movimento confirma a força estrutural da mineradora. “A Vale tem uma estrutura de capital muito saudável e baixo nível de alavancagem. É uma companhia de primeira linha, mas no crédito há pouca assimetria, pois seus títulos já negociam praticamente sem prêmio sobre os papéis soberanos”, explicou.
Outro destaque é a Azul, que atualizou seu plano de negócios e projeta emergir do processo de recuperação judicial (Chapter 11) com alavancagem líquida de 2,5 vezes. No terceiro trimestre, a companhia apresentou receita preliminar de R$ 5,73 bilhões e Ebitda ajustado de R$ 1,98 bilhão. Segundo Saravalle, o caso da Azul pode gerar oportunidades pontuais de valorização. “Não é um ativo que colocamos em nossas carteiras principais, mas para quem busca operações táticas de curto prazo, pode haver destrava de valor com a conclusão das negociações com arrendadores e fabricantes”, avaliou.
Já a Petrobras divulga nesta sexta seu relatório de produção e vendas referente ao terceiro trimestre. O mercado espera avanço na produção e resultados operacionais sólidos, mas o foco está no plano estratégico 2026–2030, que será divulgado em breve. O plano atual ainda considera o preço do barril a US$ 83, frente à média recente de US$ 70, o que deve impactar as novas projeções. Saravalle destaca que o mercado acompanha com atenção como a companhia equilibrará investimentos e dividendos em um ambiente de petróleo mais baixo.
De olho no mercado: como as empresas de menor porte vêm reagindo
Entre as companhias de menor capitalização, a Triunfo Participações reportou prejuízo líquido de US$ 16,2 milhões no terceiro trimestre, revertendo lucro de R$ 14,7 milhões de um ano antes. O Ebitda ajustado cresceu 16,8%, para R$ 138,4 milhões. Apesar da melhora operacional, o resultado líquido ainda indica pressão em despesas financeiras. Para Saravalle, o case segue fora do radar da MSX. “Mesmo em carteiras mais agressivas, a Triunfo ainda não apresenta fundamentos sólidos para uma entrada consistente”, avaliou.
No segmento financeiro, a B3 ampliou a Área do Investidor, que agora permite a visualização de ativos de renda fixa como debêntures, CRIs, CRAs e títulos públicos. A ferramenta gratuita também oferece relatórios e calculadoras integradas. Para a MSX, a iniciativa reforça o papel da B3 como hub de infraestrutura financeira e amplia a transparência para o investidor. “A Bolsa está se consolidando como uma plataforma completa de soluções e dados, o que fortalece o ecossistema financeiro brasileiro”, destacou Saravalle.
O que observar no fechamento da semana
O mercado encerra a semana com atenção redobrada aos indicadores de inflação, aos preços das commodities e aos balanços corporativos. Mesmo com o cenário de juros altos e desafios fiscais, o investidor tende a encontrar oportunidades em empresas com estrutura sólida e boas práticas de governança, que seguem como foco das casas de análise e dos fundos institucionais.
O ambiente de incerteza global ainda impõe cautela, mas o ritmo mais previsível das commodities e a resiliência das grandes companhias brasileiras criam espaço para uma leitura mais construtiva do mercado neste fim de outubro.