A valorização de cerca de 30% da Bolsa brasileira em 2025 ocorreu apesar do cenário doméstico ainda pressionado por juros elevados e incertezas fiscais. Segundo o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, o desempenho dos ativos refletiu principalmente o otimismo do cenário externo, e não uma melhora estrutural dos fundamentos internos.
De acordo com economista, o avanço do Ibovespa foi sustentado pelo ambiente internacional mais favorável, com expectativa de flexibilização monetária nos Estados Unidos, melhora do apetite ao risco global e fluxo para mercados emergentes.
“Foi um movimento muito mais puxado pelo cenário externo do que por fatores domésticos”, afirmou.
Para 2026, no entanto, ele avalia que o desempenho da Bolsa dependerá menos do ambiente internacional e muito mais da confiança que a política econômica brasileira será capaz de gerar, especialmente na condução do ajuste fiscal.
Queda da Selic ajuda a bolsa, mas não garante rali estrutural, aponta Mansueto
Mansueto projeta que a taxa Selic deve cair cerca de três pontos percentuais ao longo de 2026, o que tende a aliviar o custo de capital e melhorar, em tese, a precificação dos ativos. Ainda assim, ele pondera que o nível do juro real continuará elevado, mantendo o prêmio de risco exigido pelos investidores.
“Cortar juros ajuda, mas não resolve o problema central. A queda da Selic por si só não é suficiente para destravar uma recuperação mais robusta da Bolsa se o mercado continuar desconfiado da trajetória fiscal.”, afirmou.
Segundo ele, a experiência recente mostra que movimentos de valorização sem ancoragem fiscal tendem a ser curtos e mais dependentes de fluxo externo do que de convicção estrutural.
Confiança fiscal será determinante para os ativos
Na avaliação de Mansueto, a recuperação consistente dos ativos em 2026 estará condicionada à capacidade do governo de sinalizar compromisso claro com o controle do gasto público. Sem essa confiança, o mercado continuará exigindo juros elevados e mantendo múltiplos mais baixos para os ativos brasileiros.
“O mercado reage menos a discurso e mais a compromisso. A política econômica precisa demonstrar, de forma concreta, disposição para desacelerar o crescimento das despesas e estabilizar a dívida pública.“, avalia.
O paralelo com o ciclo de 2016 a 2019, segundo Mansueto
Mansueto fez uma comparação direta com o período entre 2016 e 2019, quando a Bolsa brasileira acumulou uma valorização de aproximadamente 166%. Naquele ciclo, segundo ele, houve uma combinação de fatores que permitiu a forte recuperação dos ativos: compromisso com o ajuste fiscal, implementação do teto de gastos, queda consistente da inflação e redução expressiva da taxa de juros.
“Aquele movimento não foi um acas, foi resultado de credibilidade fiscal.”, analisa.
Para o economista, um ciclo semelhante poderia voltar a ocorrer, desde que haja um compromisso efetivo com o controle do gasto público e a estabilização da dívida. Sem isso, o Brasil tende a conviver com juros estruturalmente altos e desempenho mais limitado dos ativos financeiros.
Fiscal segue como principal entrave para a bolsa
Mansueto destacou que o atual ciclo fiscal representa um desafio maior do que o observado em períodos anteriores. Segundo ele, entre 2014 e 2022, o gasto público cresceu cerca de 9%. Já no atual governo, entre 2023 e 2026, a expansão deve atingir aproximadamente 20%, mais do que o dobro do crescimento registrado nos oito anos anteriores.
Esse ritmo de expansão, na avaliação do economista, pressiona a trajetória da dívida pública e mantém o custo de capital elevado, o que se reflete diretamente na precificação da Bolsa e no apetite por investimento produtivo.
“Com gasto crescendo nesse ritmo, o mercado cobra o preço no juro e nos ativos”, concluiu.












