O debate sobre uma possível bolha da tecnologia voltou ao centro das discussões do mercado financeiro e tende a ganhar ainda mais força em 2026. Para o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, o principal risco não está em um colapso abrupto dos preços, mas no momento em que o mercado passa a questionar os valuations elevados diante do volume crescente de investimentos, especialmente em inteligência artificial (IA).
Segundo o estrategista, setores de tecnologia de fronteira despertam forte interesse justamente por serem difíceis de precificar.
“É muito complicado estimar o valor dessas tecnologias. Qual é o mercado potencial de robôs domésticos? De carros autônomos? Isso abre espaço para especulação”, afirmou.
Na avaliação dele, esse ambiente lembra outros períodos de excesso de otimismo, como em 2021, quando ativos ligados a novas tendências atingiram máximas antes de uma correção.
Bolha da tecnologia: Hype e paralelos com ciclos anteriores
Castro Alves ressalta que o mercado tende a exagerar em momentos de inovação. Ele cita exemplos históricos como ferrovias, energia elétrica e internet, setores que receberam investimentos vultosos antes de se consolidarem economicamente.
“Investimentos sem retorno vão acontecer. Isso faz parte do processo”, disse.
Para o estrategista, o risco para 2026 está menos ligado à existência de uma bolha clássica e mais à capacidade do mercado de continuar esticando os múltiplos sem que haja retorno proporcional.
“Não é um cisne negro, mas um cisne cinza: algo que pode assustar o mercado porque já está no radar”, avaliou.
Inteligência artificial não é bolha, mas exige entregas
Apesar das preocupações, Castro Alves afirma que a inteligência artificial, isoladamente, não configura uma bolha. Segundo ele, os valuations ainda não atingiram níveis incompatíveis com os fundamentos. O ponto central, no entanto, é a mudança de comportamento dos investidores.
Nos últimos anos, empresas que ampliavam agressivamente seus investimentos em IA recebiam o chamado “benefício da dúvida”.
“O mercado premiava quem investia mais, mesmo sem entregar resultado, sob a justificativa de que poderia ser o vencedor dessa corrida”, explicou.
Esse cenário, segundo ele, começou a mudar.
Mercado passa a questionar retorno sobre capital
Para o estrategista, o ponto de inflexão ocorreu quando executivos do setor passaram a ser questionados sobre a viabilidade econômica de investimentos trilionários frente a receitas ainda concentradas em dezenas de bilhões de dólares.
“Não dá mais para premiar apenas quem investe. Agora o mercado quer retorno”, afirmou.
Esse movimento, segundo ele, deve se intensificar em 2026, com maior cobrança por eficiência, geração de caixa e disciplina na alocação de capital. Mesmo empresas com grande capacidade financeira, como gigantes de tecnologia e infraestrutura, não estarão imunes a esse escrutínio.
Quality investing ganha espaço
Diante desse cenário, Castro Alves observa uma recomendação crescente de diversificação e maior atenção ao chamado quality investing. Esse tipo de estratégia prioriza empresas com histórico consistente, margens elevadas, baixo endividamento e geração estável de caixa.
“Há empresas de qualidade, inclusive de tecnologia, que negociam com desconto quando entregam crescimento e passam por correções pontuais. Isso cria oportunidades mais interessantes do que apostas puramente baseadas em hype”, explicou.
Na avaliação do estrategista, 2026 deve marcar uma transição importante no mercado global: menos tolerância a promessas e mais foco em resultados concretos.
“O dinheiro foi gerado, não alavancado. Mas, se não houver retorno, o mercado vai cobrar a conta”, concluiu.

