A recente vitória de Donald Trump nas eleições de 2024 nos Estados Unidos já repercute internacionalmente, incluindo no cenário político brasileiro. Segundo Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, esse triunfo carrega um potencial ‘messiânico’, marcado pelo retorno de um líder que se apresenta como perseguido pelo sistema. Esse tipo de narrativa pode impulsionar a retórica bolsonarista no Brasil, onde Jair Bolsonaro e seus apoiadores já utilizam elementos similares.
Impactos políticos e econômicos da vitória de Trump
Prando enfatiza que, embora seja cedo para avaliar os impactos diretos da vitória de Trump sobre o Brasil, sua política protecionista pode afetar as exportações brasileiras. Politicamente, a vitória fortalece a imagem de Bolsonaro como um líder que poderia retornar ao poder de forma triunfal, caso fosse possível. “A vitória de Trump traz à tona essa comparação, destacando a possibilidade de um retorno messiânico de Bolsonaro”, afirma Prando.
No entanto, Bernardo Livramento, analista político da Fatto Inteligência Política, tem uma visão mais comedida. Para ele, a vitória de Trump não deve ser considerada uma causa de mudanças significativas nas eleições brasileiras, mas sim uma consequência de tendências ocidentais mais amplas. “A eleição de Trump gera uma mobilização positiva entre os representantes da oposição, mas não vemos mudanças práticas que possam impactar diretamente as eleições de 2026 no Brasil”, aponta Livramento.
O conservadorismo e a direita no Brasil
A vitória de Trump pode estimular o conservadorismo e a extrema direita no Brasil, especialmente no contexto de um cenário político populista e digital em crescimento. Prando acredita que um eventual retorno da direita ao poder poderia trazer uma agenda de austeridade fiscal e corte de impostos, contrastando com a abordagem do governo Lula, focada em investimentos sociais. No entanto, Livramento alerta que a influência prática de Trump é limitada. “O impacto direto na formulação de políticas públicas no Brasil é mínimo”, ressalta.
Comunicação política e mobilização digital
A comunicação digital e a capacidade de mobilizar emoções como medo e ressentimento são elementos em que Trump, Bolsonaro e outras figuras da extrema direita se destacam. Prando observa que a vitória de Trump pode servir como modelo de adaptação para campanhas políticas brasileiras, que já utilizam estratégias semelhantes. Entretanto, Livramento destaca que essa influência é mais simbólica do que prática. “Pode haver agitação nas bases de apoio, mas não se espera que isso leve a mudanças concretas nas políticas públicas”, afirma.
Impacto no Judiciário e limites da influência internacional
Livramento também reflete sobre a percepção de que a vitória de Trump poderia influenciar processos judiciais, como os de inelegibilidade de Bolsonaro. Ele considera essa visão limitada: “O nosso Judiciário não responde a pressões internacionais, especialmente de um país como os EUA. Portanto, a ideia de que a eleição de Trump possa ter um impacto direto nesse sentido é bastante improvável.”
O futuro da direita brasileira
Com Bolsonaro inelegível, o discurso trumpista no Brasil pode ser adaptado por outros líderes de direita que herdem a base bolsonarista. Nomes como Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro, Romeu Zema e outros são considerados possíveis sucessores. “A narrativa de retorno triunfal e salvacionista que permeia a vitória de Trump pode inspirar adaptações para o cenário de 2026 no Brasil”, conclui Prando. Já Livramento lembra que, embora a vitória de Trump possa impulsionar o ânimo das bases, ela dificilmente trará impactos práticos significativos.
Essa análise destaca como a vitória de Trump pode influenciar a política brasileira, especialmente a direita, moldando o discurso e as expectativas para as eleições de 2026, mas sem garantir mudanças estruturais imediatas.
