O mercado financeiro brasileiro atravessa uma fase de euforia, com valorizações consistentes nos principais índices, enquanto a base macroeconômica exibe sinais de fragilidade. Para Alexandre Espírito Santo, da Way Investimentos, há um descolamento entre preços de ativos e fundamentos, sobretudo no campo fiscal. Além disso, a combinação de dívida pública crescente, câmbio volátil e déficit externo mantém um pano de fundo que exige cautela na formação de portfólios.
O economista lembra que o déficit em transações correntes ronda 3,5% do PIB, nível que pressiona o balanço de pagamentos e aumenta a dependência de capitais. Nesse sentido, a percepção de risco deveria refletir de forma mais clara as vulnerabilidades do quadro fiscal e cambial. Por outro lado, a precificação recente sugere que parte do mercado está subestimando esses vetores, o que pode ampliar movimentos de correção caso a confiança se deteriore.
Qual é a perspectiva para a política fiscal?
Segundo Alexandre, a confiança do investidor se ancora em uma trajetória crível de ajuste das contas públicas. Além disso, a execução orçamentária precisa sinalizar compromisso com metas e com a contenção das despesas obrigatórias, criando espaço para políticas anticíclicas quando necessárias. “O governo deve voltar sua atenção para o equilíbrio das contas públicas, pois a confiança dos investidores depende disso”, afirma.
Enquanto isso, a dinâmica de dívida/PIB requer monitoramento contínuo: sem crescimento sustentado e sem disciplina fiscal, o prêmio de risco tende a subir, encarecendo o financiamento do setor público e privado. Nesse sentido, reformas que melhorem a eficiência do gasto e ampliem a base de arrecadação, sem sufocar a atividade, tornam-se prioridade para reancorar expectativas.
Como as taxas de juros repercutem no risco fiscal e nos preços dos ativos?
Para o especialista, o patamar elevado de juros restringe crédito, afeta consumo e pressiona o serviço da dívida pública. Além disso, juros altos tornam a renda fixa mais atrativa, deslocando parte dos fluxos que iriam para ações e outros ativos de risco. Por outro lado, caso o Banco Central identifique melhora crível no quadro fiscal e na dinâmica inflacionária, abre-se espaço para aliviar a taxa de juros, reduzindo o custo de capital e estimulando investimentos produtivos.
Nesse sentido, investidores devem acompanhar atentamente as comunicações do Banco Central e o comportamento das expectativas inflacionárias. Uma leitura consistente de convergência da inflação, combinada a avanços no ajuste fiscal, pode reprecificar a curva de juros, com efeitos relevantes sobre valuation de empresas intensivas em capital e setores sensíveis ao crédito.
E o câmbio: quais implicações fiscais e macroeconômicas?
Alexandre observa que a taxa de câmbio tem oscilado de maneira por vezes dissociada dos riscos domésticos, o que aumenta a incerteza na formação de preços. Além disso, uma desvalorização abrupta, caso o quadro fiscal se deteriore ou o cenário externo piore, encarece importações, pressiona custos e pode contaminar expectativas de inflação. Por outro lado, um câmbio estável e ancorado por fundamentos tende a reduzir a volatilidade e a melhorar o ambiente de investimento.
Enquanto isso, choques externos, como mudanças no apetite por risco global, tensões geopolíticas ou revisões de crescimento nas principais economias, podem agravar movimentos cambiais e exigir resposta de política econômica. Nesse sentido, a melhor defesa doméstica é a coerência do arcabouço fiscal, que reduz vulnerabilidades e sustenta o acesso a financiamento em condições menos onerosas.
Quais sinais práticos o investidor deve monitorar no campo fiscal?
Além de acompanhar relatórios oficiais e os comunicados de política econômica, o investidor pode observar alguns indicadores e marcos que costumam alterar a percepção de risco:
- Trajetória de dívida/PIB e custo médio de rolagem da dívida.
- Resultado primário e cumprimento de metas fiscais divulgadas.
- Composição do gasto: evolução das despesas obrigatórias versus discricionárias.
- Calendário de reformas e medidas de aumento de eficiência do gasto.
- Evolução do déficit em transações correntes próximo de 3,5% do PIB.
- Comunicações do Banco Central e expectativas de inflação implícitas na curva.
Qual a melhor estratégia de investimento em tempos de incerteza fiscal?
Para Alexandre Espírito Santo, a palavra de ordem é prudência. Além disso, a diversificação entre classes de ativos ajuda a mitigar choques específicos: combinar renda fixa de qualidade, exposição moderada a renda variável e uma parcela internacional pode reduzir a volatilidade do portfólio. Por outro lado, concentrar-se em poucos vetores aumenta a sensibilidade a mudanças abruptas nas expectativas de juros, câmbio e crescimento.
Nesse sentido, avaliar prazos, liquidez e correlação entre ativos é tão importante quanto buscar retorno. Enquanto isso, a disciplina na atualização do plano de investimento, à luz de dados fiscais e macroeconômicos, permite ajustes táticos sem perder de vista os objetivos estratégicos de longo prazo. Como conclui o especialista, “a informação é uma aliada valiosa quando se trata de tomar decisões de investimento”, sobretudo quando a realidade fiscal ainda exige sinais claros e persistentes de consolidação.