Os doze distritos do Federal Reserve relataram uma ligeira diminuição da atividade econômica desde o último Livro Bege, divulgado. O documento divulgado nesta quarta-feira (4), baseado em entrevistas com agentes econômicos e empresários até 23 de maio, revela um cenário de incerteza generalizada e decisões empresariais mais cautelosas, especialmente diante das tensões políticas e comerciais que envolvem as tarifas de importação.
Metade dos distritos reportou quedas leves a moderadas na atividade econômica, enquanto três não observaram mudanças e outros três apontaram crescimentos modestos. No geral, a perspectiva permanece ligeiramente pessimista e inalterada em relação ao relatório anterior, embora alguns distritos já percebam piora no cenário.
Livro Bege mostra consumo e indústria em queda
O Livro Bege mostra que o consumo nos Estados Unidos apresentou desempenho misto, com leve retração na maioria dos distritos. A indústria manufatureira também registrou queda discreta, em meio à pressão de custos provocada pelo aumento de tarifas sobre insumos importados. Apesar disso, setores como o de portos e transporte marítimo seguem aquecidos.
O mercado imobiliário, por sua vez, segue sem grandes mudanças. A construção de novas moradias mostrou estabilidade ou desaceleração leve, o que mantém o setor em compasso de espera. Já os gastos com bens duráveis, que tendem a ser afetados por tarifas, registraram aumento pontual em alguns distritos.
Emprego estável, mas com sinais de alerta, segundo Livro Bege
O mercado de trabalho apresentou poucas alterações. A maioria dos distritos descreveu o emprego como estável, enquanto apenas três relataram crescimento leve e dois apontaram leve queda. A demanda por mão de obra enfraqueceu, refletida na redução de horas extras, pausas nas contratações e início de demissões setoriais pontuais.
Apesar da moderação nas contratações, os salários seguem subindo em ritmo modesto. A inflação elevada segue pressionando os salários, embora haja sinais de arrefecimento nas demandas salariais em algumas regiões.
Tarifas alimentam expectativas de inflação
No campo dos preços, o Livro Bege mostra aumento moderado, com expectativas de aceleração nos próximos meses. O impacto das tarifas sobre aço, alumínio e outros insumos já aparece nos custos de produção e tende a ser repassado parcialmente ao consumidor. Empresas avaliam fazer isso via reajuste de preços, sobretaxas temporárias ou compressão de margens.
O Distrito de Nova York destacou aumento nos preços dos insumos como “forte”, enquanto Boston e Filadélfia projetam pressão inflacionária maior para o verão. A imprevisibilidade das decisões comerciais e políticas segue como um dos principais desafios para o planejamento de preços.
Especialista alerta para risco crescente de estagflação nos EUA
O especialista em análise macroeconômica Fábio Fares observa que os dados mais recentes reforçam um padrão claro de desaceleração da economia americana. “O Beige Book que saiu hoje confirma o que vínhamos observando nos dados dos últimos dois dias: a economia americana está claramente perdendo momentum de crescimento, e isso não é mais ruído estatístico, é sinal”, afirma.
Para Fares, o enfraquecimento simultâneo de indicadores como vendas de veículos, relatório ADP e ISM de serviços, somado à leitura do Fed sobre a atividade, configura um cenário preocupante. “O que mais preocupa é que as pressões inflacionárias seguem firmes, principalmente por conta das tarifas que estão impactando custos em todos os distritos. Isso cria um dilema para o Federal Reserve: cortar juros pode reacender a inflação, mas manter a política atual pode aprofundar a desaceleração. Estamos diante de um risco real de estagflação — um dos cenários mais difíceis de administrar na política econômica”, conclui.















