Profissionais que participaram do “Advisor Talks 2024” discutiram as mudanças normativas, os desafios da transparência nas remunerações e o papel dos influenciadores digitais nas decisões de investimento. Um dos principais tópicos discutidos no congresso foi a adaptação do mercado às normas 178 e 179 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que buscam aumentar a transparência nas remunerações dos assessores de investimentos e a comercialização de produtos financeiros. Segundo os participantes, o mercado ainda está em fase de entendimento e adequação às novas regras.
Durante o painel, foi destacado que as normas, embora tenham avançado em algumas áreas, ainda apresentam desafios. Um dos pontos levantados foi o possível conflito de interesse gerado pela diferença de transparência entre produtos bancários, regulados pelo Banco Central, e produtos financeiros sob a alçada da CVM. Esse descompasso pode, inadvertidamente, criar incentivos para que determinados produtos sejam priorizados em detrimento de outros, mesmo sem intenção de gerar conflito.
Tito Gusmão analisa Modelo de Remuneração
Tito Gusmão, CEO e fundador da Warren Investimentos, apresentou uma análise crítica sobre o modelo de remuneração dos assessores de investimentos no Brasil. Gusmão comparou o cenário brasileiro com o dos Estados Unidos, onde o modelo de comissão já foi majoritário, mas hoje representa uma parte menor do mercado. Ele defendeu que o Brasil deve seguir nessa direção, adotando um modelo de “fee-based”, que se baseia em taxas fixas, como uma forma de alinhar melhor os interesses entre assessores e clientes.

Segundo Gusmão, o modelo de comissão pode criar incentivos que não necessariamente beneficiam o cliente, uma vez que a remuneração do assessor está diretamente ligada ao volume de produtos vendidos, o que pode levar a decisões de investimento que não sejam as mais adequadas para o investidor. Ele argumentou que um modelo de taxas fixas proporciona mais transparência e previsibilidade, tanto para os assessores quanto para os investidores, contribuindo para um mercado financeiro mais alinhado e eficiente.
Influenciadores Financeiros: Educação ou Risco?
Outro tema relevante abordado no evento foi o impacto dos influenciadores digitais nas decisões de investimento. Dados apresentados indicaram que 73% dos investidores que ingressaram na bolsa de valores foram influenciados por conteúdos vistos na internet, com 60% tomando decisões com base em informações fornecidas por influenciadores.
Os palestrantes discutiram a necessidade de regulamentação mais rigorosa para esses agentes, dado o crescente papel que desempenham na formação de opinião dos investidores. Foi destacado que muitos influenciadores, embora populares, não possuem certificações ou conhecimentos aprofundados, o que pode levar a orientações equivocadas, especialmente quando investimentos são comparados a apostas esportivas.
O evento ressaltou a importância de que investidores busquem informações de fontes confiáveis e certificadas, como a CVM, Anbima e B3, para validar o conteúdo recebido de influenciadores. A transparência sobre os possíveis conflitos de interesse desses influenciadores também foi considerada fundamental para evitar desinformação e proteger os investidores.
O “Advisor Talks 2024” trouxe à tona discussões importantes sobre o futuro do mercado de assessoria de investimentos no Brasil. As recentes normas da CVM e o papel dos influenciadores digitais foram temas centrais, com ênfase na necessidade de maior transparência e alinhamento de interesses para a construção de um mercado mais seguro e eficiente. Tito Gusmão destacou a importância de uma mudança de paradigma no modelo de remuneração, visando melhor alinhamento entre assessores e clientes, enquanto os demais participantes alertaram sobre os riscos potenciais da crescente influência de figuras não certificadas no ambiente financeiro.