A recompra de ações, também conhecida como buyback, é uma operação em que uma empresa readquire suas próprias ações que estão em circulação no mercado. Esse movimento tem se tornado cada vez mais comum entre companhias de capital aberto, tanto no Brasil quanto no exterior, como uma forma de gestão estratégica de capital e de criação de valor ao acionista.
As empresas recorrem a essa prática por diversos motivos estratégicos e financeiros. Um deles é o entendimento da administração de que as ações estão subvalorizadas, um sinal que, de forma geral, transmite confiança aos investidores e sugere boas perspectivas de crescimento.
O que é um plano de recompra de ações?
Em um plano de recompra, a empresa utiliza recursos próprios (geralmente caixa excedente) para comprar ações que estavam em circulação no mercado. Após executada a recompra, essas ações podem ter vários destinos:
• Cancelamento
Reduz o número total de ações em circulação, aumentando a participação proporcional dos acionistas remanescentes. Com menos ações no mercado, indicadores como lucro por ação (LPA) e retorno sobre patrimônio (ROE) tendem a melhorar, mesmo que o lucro líquido permaneça o mesmo.
A recompra também pode ser o uso mais eficiente do caixa quando a empresa possui liquidez excessiva e poucas oportunidades de investimento com retorno atrativo. Torna-se, assim, uma forma indireta de remuneração aos acionistas, em alguns países, até mais vantajosa que o pagamento de dividendos, dependendo da tributação vigente.
Além disso, ao reduzir o número de ações e reforçar a percepção de solidez, a recompra pode contribuir para reduzir o custo de capital próprio, favorecendo a valorização no longo prazo. Outro uso é ajustar a estrutura de capital, substituindo parte do capital próprio por dívida em momentos de juros baixos, aumentando o retorno ao acionista. Em alguns casos, também pode servir como proteção contra aquisições hostis, já que a redução do free float dificulta a compra do controle por terceiros.
• Manutenção em tesouraria para futura revenda
A empresa pode revender essas ações no mercado, realizando lucro sobre o trade. Esse capital pode reforçar o giro de caixa, financiar capex, reduzir endividamento ou ser distribuído como dividendos.
• Garantia para emissões de debêntures
A manutenção de ações em tesouraria pode ser usada como garantia em emissões de dívida, reduzindo o custo da operação ao melhorar as análises de risco.
• Pagamento de executivos (stock options)
As ações recompradas podem ser usadas para planos de incentivo de longo prazo.
• Remuneração indireta
É pouco comum no Brasil devido à isenção de impostos sobre dividendos. Em países onde dividendos são tributados, companhias podem preferir recompra como forma de gerar valor líquido ao acionista.
Como funciona o processo de recompra de ações?
A sequência costuma ser a seguinte:
1. Aprovação do conselho
O conselho de administração discute e aprova o plano. Na B3, a maioria tem prazo médio de 12 meses. As operações são reguladas pela Resolução CVM 77/2022, que substituiu a antiga Instrução 567.
2. Definição do tamanho e execução
A empresa define o número máximo de ações a recomprar. A execução é gradual no mercado secundário, respeitando limites diários para evitar distorções de preço. O período efetivo de execução costuma durar entre 6 e 9 meses.
3. Finalidade da recompra
É definido se as ações serão canceladas, mantidas em tesouraria ou usadas para fins específicos.
4. Comunicação ao mercado
A empresa deve divulgar Fato Relevante com todas as informações do programa, garantindo transparência.
5. Execução das compras
A companhia realiza as operações por meio de corretora ou banco. A contratação de formador de mercado não é obrigatória, mas comum para manter a liquidez das ações.
Mas nem tudo são flores…
Apesar das vantagens, a recompra exige cautela. Se realizada de forma excessiva, pode comprometer o caixa e reduzir a capacidade de investimento da empresa. Em momentos de preços elevados, a recompra pode destruir valor.
Outro risco é usar a recomprar para mascarar problemas financeiros ao inflar artificialmente indicadores.
Também há situações de alerta:
• Follow-on após recompra
Após um grande cancelamento de ações, um aumento de capital pode ser lançado com condições pouco atrativas, reduzindo a adesão dos minoritários. Assim, controladores conseguem ampliar participação sem disparar mecanismos como tag along.
• Redução proposital do free float
Controladores podem usar o caixa da empresa, que pertence a todos os acionistas, para recomprar ações, aumentando sua participação proporcional automaticamente. Com menos acionistas e menor dispersão, fica mais fácil aprovar decisões estratégicas e até conduzir a empresa ao fechamento de capital via OPA.
A recompra de ações é uma ferramenta poderosa de gestão financeira e criação de valor, desde que usada com estratégia e transparência. Ela demonstra confiança da administração, melhora indicadores, ajusta a estrutura de capital e oferece flexibilidade. Contudo, precisa sempre estar alinhada aos interesses de todos os acionistas e à sustentabilidade financeira da empresa.
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