O índice de preços PCE dos Estados Unidos, medida de inflação mais acompanhada pelo Federal Reserve, veio dentro do esperado em setembro e reforçou a leitura de que o processo de desinflação nos Estados Unidos segue em curso, ainda que em ritmo moderado.
O núcleo do PCE, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, avançou 0,2% no mês, exatamente em linha com o consenso. Na comparação anual, o indicador desacelerou para 2,8%, ligeiramente abaixo da leitura anterior de 2,9% e alinhado às projeções do mercado.
Já o PCE cheio subiu 0,3% em setembro, repetindo o ritmo de agosto e vindo em linha com o esperado. Na variação anual, o índice marcou 2,8%, um pouco acima dos 2,7% registrados no mês anterior, mas igualmente dentro do consenso.
A leitura reforça o cenário de manutenção do ciclo de desinflação e mantém vivas as apostas de que o banco central americano poderá avançar com cortes de juros nas próximas reuniões, dependendo da evolução dos próximos dados de atividade e emprego.
Análise do PCE: Bruno Corano, economista
A leitura do PCE divulgada nesta sexta-feira, ainda referente a setembro devido ao atraso provocado pelo shutdown, reforça, segundo o economista Bruno Corano, a percepção de que o processo inflacionário nos Estados Unidos segue sob controle, mesmo após dois meses de vigência das tarifas impostas pelo governo Trump.
“O que os números mostram é que a inflação segue relativamente controlada. Há, sim, uma pressão inflacionária, mas tudo indica que ela é pontual, muito provavelmente associada às tarifas, e não um processo persistente que contaminaria a trajetória dos preços no médio prazo.”, destaca.
Esse conjunto fortalece a probabilidade de que o Federal Reserve avance com um corte de juros nas próximas reuniões, já que a inflação não demonstra persistência e o mercado de trabalho continua perdendo tração de forma gradual. Ele pondera que do outro lado do balanço macroeconômico, o mercado de trabalho continua perdendo força, ainda que gradualmente. Não é uma deterioração explosiva, mas é constante, e isso pesa bastante na avaliação do Federal Reserve quando o assunto é política monetária.
“A combinação desses fatores, inflação comportada e emprego enfraquecendo aos poucos, faz com que a leitura principal do PCE de hoje seja relativamente clara: o dado funciona como mais um argumento que reforça a possibilidade de corte de juros por parte do Fed. Não resolve tudo, porque ainda faltam duas leituras acumuladas, mas a direção fica evidente.”, avalia.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue
Para o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, o PCE reforça a leitura de que o processo inflacionário segue controlado e preserva espaço para o Federal Reserve cortar juros nesta reunião do FOMC.
Ele destaca que o núcleo do índice, a métrica mais observada pelo Fed, surpreendeu positivamente ao desacelerar para 2,8% na comparação anual, abaixo do consenso de 2,9%.
O núcleo indicou uma alta mensal de 0,2% em linha com o esperado, só que a taxa anual foi de 2,8%. O mercado esperava 2,9%, que tinha sido o mesmo número registrado em agosto. Então, a maioria das leituras em linha com o esperado, com exceção desses 12 meses do núcleo, que foi positivo.
Além disso, a combinação entre renda pessoal mais forte (+0,4%) e gastos mais moderados indica uma economia perdendo impulso, ao mesmo tempo em que o mercado de trabalho opera em um padrão de “no fire, no hire”, com pouca contratação e poucas demissões.
Segundo Alves, o conjunto dos dados da semana “sacramenta” a expectativa de corte agora em dezembro, mas não elimina a cautela: após a decisão, o Fed deve pausar para avaliar as próximas leituras, já que há divergências entre os membros e incertezas sobre a inflação daqui para frente.













