Donald Trump anunciou uma mudança que promete reorganizar fluxos de comércio, abalar cadeias tecnológicas e aumentar a tensão geopolítica entre Washington e Pequim. A administração americana decidiu flexibilizar a venda do chip H200 da Nvidia para clientes previamente aprovados na China, um movimento que reacende a disputa pela liderança em inteligência artificial.
Para o economista Bruno Corano, entrevistado pela BM&C News, a medida tem menos caráter técnico e mais natureza estratégica.
“Trump envia um sinal claro de que os EUA ainda querem preservar determinados canais comerciais, mesmo sob forte pressão geopolítica”, afirma.
Segundo ele, a decisão funciona também como demonstração do estilo de negociação de Trump, que tende a combinar pragmatismo comercial com mensagens políticas diretas. E, no centro desse tabuleiro, está a Nvidia, hoje a empresa mais relevante da cadeia global de IA.
Nvidia ganha espaço enquanto China busca alternativas
A liberação parcial do chip H200 reforça a posição da empresa no mercado global, especialmente num momento em que Pequim tenta acelerar seu ecossistema de semicondutores.
“A NVIDIA, que já é um player central na cadeia global, pode usar essa brecha para consolidar ainda mais sua presença”, avalia Corano.
Ao mesmo tempo, a China tenta reduzir sua vulnerabilidade. Embora o país tenha ampliado investimentos em semicondutores e IA, ainda depende dos chips avançados norte-americanos, mesmo com as restrições impostas pelo governo americano.
“Apesar dos 25% que são retidos pelos EUA, a China ainda depende desses chips porque não alcançou a maturidade tecnológica necessária para total autonomia”, explica Corano.
Pequim tem plena consciência dessa fragilidade. A busca por autossuficiência tecnológica já é tratada como prioridade nacional e mobiliza bilhões em financiamento estatal.
“Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento estão crescendo, e a estratégia é resolver essa equação no médio e longo prazo”, complementa o economista.
Impacto imediato nos mercados: volatilidade no radar
A decisão repercute diretamente no mercado financeiro, especialmente para investidores expostos às tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo. Para muitos analistas, a Nvidia pode ver uma expansão na demanda pelo chip H200, ainda que de forma controlada, ao mesmo tempo em que a China intensifica a busca por substitutos locais.
Corano alerta que o movimento deve ser observado com cautela:
“Essa decisão pode fortalecer relações comerciais, mas ela convive com riscos. O sentimento dos investidores em relação à possibilidade de ações militares ou de novas barreiras comerciais pode aumentar a volatilidade.”
Quais os próximos passos na relação EUA–China?
Apesar da flexibilização, o clima entre as duas potências segue incerto. Os EUA continuam empenhados em limitar o acesso da China a tecnologias de ponta. Pequim, por sua vez, acelera investimentos para reduzir dependências externas e reforçar sua posição na corrida global da IA.
Nesse contexto, empresas como a Nvidia assumem um papel decisivo e pressionado.
“Essa dinâmica precisa ser acompanhada continuamente, porque afeta não só investidores, mas também as estratégias de longo prazo de cada país”, conclui Corano.
À medida que tensões geopolíticas e interesses comerciais se entrelaçam, o mercado global observa uma disputa que já não é apenas por chips, mas pelo controle da próxima era tecnológica.

