O Ibovespa encerrou o pregão desta terça-feira (4) em alta de 0,17%, aos 150.704 pontos, registrando a décima sessão consecutiva de valorização — sequência que não ocorria desde julho de 2024. No intraday, o índice chegou a 150.887 pontos, marcando também uma nova máxima histórica. O avanço foi sustentado pelo otimismo com os balanços corporativos e pela expectativa de uma sinalização mais branda do Copom na reunião desta quarta-feira (5).
Enquanto isso, o dólar comercial avançou 0,77%, cotado a R$ 5,39, e os juros futuros subiram em toda a curva, refletindo cautela no ambiente doméstico. Apesar disso, o sentimento positivo prevaleceu na B3, com investidores ajustando posições antes da decisão sobre a Selic.
Por que o Brasil segue em alta apesar da cautela global?
Nos Estados Unidos, o clima foi de correção. Os principais índices de Nova York recuaram, pressionados por alertas de executivos do Goldman Sachs e do Morgan Stanley sobre uma possível queda de 10% a 20% nas bolsas nos próximos meses. O movimento foi motivado por avaliações elevadas em companhias de tecnologia e riscos de desaceleração no setor de inteligência artificial.
No cenário doméstico, investidores monitoraram novas falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que destacou que o país deve apresentar o melhor resultado fiscal desde 2015 e voltou a criticar o nível atual da Selic, dizendo que “os juros vão ter que cair”. Além disso, o IBGE divulgou retração na produção industrial de setembro, reforçando a leitura de perda de fôlego na atividade econômica.
“Mercado otimista à espera do Copom”, avalia Leonardo Santana
Segundo Leonardo Santana, especialista em investimentos e sócio da casa de análise Top Gain, o pregão foi marcado por forte volatilidade, com o mercado aguardando ansiosamente o comunicado do Copom. “Espera-se um comunicado mais dovish, já que o comitê vinha adotando um tom mais agressivo nas últimas reuniões, chegando a sinalizar possíveis altas de juros. Agora, o mercado quer um discurso mais tranquilo e, talvez, uma indicação de corte para o início de 2026”, explica.
De acordo com o analista, os últimos indicadores de inflação reforçam essa possibilidade. “A queda da inflação brasileira abre espaço para uma flexibilização monetária mais rápida, o que seria muito positivo. O mercado segue descolado do exterior, com bolsas lá fora em correção e aqui ainda com otimismo, sustentado pelo fluxo de capital e pela expectativa de déficit zero nas contas públicas”, afirma.
Santana observa ainda que, mesmo com os juros em 15%, o Ibovespa se mantém acima dos 150 mil pontos. “Quando os juros caírem, é possível sim vermos um novo movimento de alta. O mercado está com seu prêmio de risco à flor da pele”, comenta.
Correção saudável nos EUA e estabilidade no câmbio
Nas bolsas americanas, segundo o especialista, o dia foi de correção natural. “Não há nada pontual. É uma correção saudável após diversas altas seguidas. O mercado ainda está nas máximas históricas e, portanto, a tendência de alta não foi revertida”, aponta Santana. Ele destaca que o Ibovespa chegou a operar em leve queda durante o dia, mas sem acompanhar a intensidade do recuo observado no exterior.
Em relação ao dólar, Santana destaca que o movimento também foi de correção técnica. “O dólar lá fora começou o dia forte, impactando o nosso câmbio. Houve um gap de alta, mas o movimento não se sustentou. Estamos próximos das mínimas do ano e a moeda encerrou o dia praticamente estável, com alta modesta”, analisa.
Mercado local segue resiliente, mas correção pode vir até o fim do ano
Para Santana, o descolamento entre o Brasil e o cenário internacional pode não durar muito tempo. “Temos um otimismo interno e entrada de capital, mas há uma correção saudável pendente no nosso Ibovespa também”, pondera. Ele acrescenta que, embora o momento ainda seja positivo, o final do ano pode trazer ajustes.
“Não estou tão otimista para o câmbio no fim do ano. É comum ocorrer remessas de recursos ao exterior nesse período, o que pode pressionar o real. Tivemos altas fortes de maio a outubro, então uma realização de lucros agora seria natural”, completa.
Empresas em destaque no pregão desta terça-feira
A temporada de balanços corporativos seguiu ditando o ritmo do mercado, com movimentos expressivos entre as principais ações do índice. Veja os destaques:
- Embraer (EMBR3) caiu 3,60%, após divulgar lucro de R$ 622,6 milhões no terceiro trimestre, uma queda de 37,2% em relação ao mesmo período de 2024.
- Klabin (KLBN11) subiu 2,95%, impulsionada por forte geração de caixa no terceiro trimestre, mesmo com recuo no lucro líquido.
- BB Seguridade (BBSE3) avançou 1,20% após divulgar lucro ajustado de R$ 2,56 bilhões, cerca de 9% acima do esperado, embora analistas apontem desafios à frente.
- Vale (VALE3) recuou 1,12%, pressionada pela queda do minério de ferro na China.
- Petrobras (PETR4) registrou leve alta de 0,50%, acompanhando a estabilidade do petróleo no mercado internacional.
O que esperar dos próximos dias?
O mercado agora volta as atenções à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a taxa Selic em 10,75% ao ano. A grande expectativa recai sobre o tom do comunicado e as sinalizações para 2026. “Um tom mais brando pode sustentar o otimismo local e abrir espaço para mais valorização, mas se o discurso for duro novamente, podemos ver realização de lucros no curto prazo”, avalia Santana.
Apesar da cautela, a percepção é de que o mercado brasileiro segue com fundamentos sólidos, sustentado por fluxo estrangeiro, estabilidade fiscal e perspectiva de redução de juros. Esses fatores devem continuar dando suporte ao Ibovespa, mesmo em meio à volatilidade global.
















