A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, a fusão entre Petz e Cobasi, duas das maiores varejistas do setor pet no Brasil. O aval foi registrado no sistema processual do Cade, e a publicação oficial no Diário Oficial da União deve ocorrer nos próximos dias.
A operação será formalizada por meio da incorporação das ações da Petz pela Cobasi, tornando a Petz uma subsidiária integral da nova companhia combinada. Com a conclusão do negócio, os acionistas da Petz passarão a deter 52,6% do capital da nova empresa, enquanto os acionistas da Cobasi ficarão com os 47,4% restantes.
Justificativa da fusão entre Petz e Cobasi: ganhar escala, melhorar margens e aumentar capilaridade
O acordo de associação, anunciado em agosto de 2024, prevê a união de esforços para ampliar a capilaridade dos pontos de venda físicos e digitais, oferecendo um portfólio mais completo de produtos e serviços, além de buscar ganhos de eficiência, diluição de custos fixos e maior poder de barganha com fornecedores.
Segundo o parecer técnico do Cade, a análise da operação revelou que as chamadas “megastores” do varejo pet — como Petz e Cobasi — possuem vantagens competitivas sobre estabelecimentos menores, como maior poder de negociação junto a fornecedores e estrutura logística mais robusta. No entanto, o órgão pondera que tais vantagens são compensadas por custos operacionais mais elevados e pela forte concorrência existente no setor, especialmente no varejo alimentar e no e-commerce.
O documento também destaca que o modelo das grandes redes cresceu de forma proporcional ao mercado, sem eliminar a presença de pequenos pet shops, que continuam abrindo novas lojas e registrando entrada líquida positiva em diversas regiões.
Especialista vê fusão entre Petz e Cobasi como positiva para o mercado
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a fusão representa uma evolução natural do setor e deve ser bem recebida pelo mercado financeiro. “Petz e Cobasi já são, isoladamente, muito maiores do que seus concorrentes. Agora, com a combinação de forças, é possível pegar o melhor de cada modelo de negócio e aprimorar a estrutura da nova companhia”, avaliou.
Apesar do domínio das duas marcas no segmento especializado, Cruz destaca que a concorrência segue firme. “Ainda há muita competição na venda de rações e produtos pet em supermercados, atacarejos e também no digital. A penetração de e-commerce nesse segmento tem crescido rapidamente, o que exige cada vez mais diferenciação das grandes redes”, afirma.
Marcas próprias como diferencial competitivo
Nesse contexto, Gustavo Cruz ressalta a importância da estratégia da Petz em desenvolver marcas próprias para elevar margens e conquistar fidelização do cliente. “A entrada em categorias com maior valor agregado, como tapetes higiênicos e produtos da Zee.Dog, é fundamental para ampliar margem bruta e reduzir a dependência de terceiros.”
Com a fusão, produtos exclusivos de uma marca poderão ser vendidos também nos canais da outra, tanto físicos quanto digitais, ampliando o alcance do portfólio. “Você passa a ter um mix mais completo e complementar, com sinergias logísticas, de estoque e de canais de venda, o que pode gerar eficiência e ganho de escala”, completa Cruz.
Desafios e oportunidades da fusão, segundo analista
Luis Nuim, analista de investimentos, avalia que a fusão entre Petz e Cobasi é uma resposta pragmática a um setor que se mostrou mais desafiador do que o previsto no início da década. Segundo ele, embora ambas as companhias tenham crescido e conquistado espaço relevante no mercado, o cenário atual de margens pressionadas, aumento da concorrência digital e desaceleração do consumo exigia uma reação estratégica de maior fôlego.
“A junção das operações tem potencial para gerar sinergias logísticas, renegociação com fornecedores e otimização de despesas operacionais — o que pode fortalecer a rentabilidade da nova empresa em um setor que vive uma guerra de preços e conveniência”, destaca.
No entanto, Nuim chama atenção para os desafios da integração. Ele observa que o sucesso da fusão dependerá da harmonização de culturas corporativas, da eficiência na gestão das lojas sobrepostas e da capacidade de entregar uma experiência omnichannel superior à dos concorrentes.
“Não basta cortar custos: o mercado pet é cada vez mais relacional, e o cliente valoriza conveniência, confiança e vínculo. A nova companhia terá que mostrar ao consumidor que vale a pena migrar para um novo padrão de serviço”, afirma o analista. Para ele, o movimento é positivo no longo prazo, mas exigirá execução precisa e disciplina financeira.
















