O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a destituição da diretora Lisa Cook, do Federal Reserve (Fed), alegando irregularidades em hipotecas firmadas por ela em 2021. O gesto é inédito e testa os limites do poder presidencial sobre um banco central historicamente independente, criando incertezas jurídicas e de mercado sobre a autonomia da política monetária americana.
Cook rejeitou a remoção, disse que “não há causa legal” e que Trump “não tem autoridade” para demiti-la. A defesa de Cook prepara medidas judiciais. A Casa Branca sustenta que o Artigo 2º da Constituição e a Lei do Federal Reserve permitem a demissão “por justa causa”, enquanto juristas apontam falta de precedentes e questionam se ações privadas anteriores ao cargo poderiam justificar o afastamento.
Trump afirma que Lisa Cook declarou duas residências como “principal” em Michigan e Geórgia, obtendo condições mais favoráveis, e que isso compromete sua integridade como reguladora. A defesa de Cook nega infrações e ressalta que as transações são anteriores à sua nomeação para o Fed, em 2022.
Como o mercado reagiu ao anúncio de demissão de Lisa Cook?
A notícia acentuou a curva de juros: rendimentos de 2 anos recuaram, enquanto os de 10 anos avançaram, refletindo expectativa de juros mais baixos no curto prazo e dúvidas sobre o compromisso anti-inflacionário no longo. O dólar também oscilou diante do risco percebido à independência do banco central.
Analistas observam que bancos centrais independentes costumam entregar melhor controle inflacionário; interferências políticas elevam prêmios de risco e podem pressionar ativos sensíveis à inflação. Nesse sentido, a tentativa de afastamento de Lisa Cook foi interpretada como mais um vetor de incerteza institucional.
O que está em jogo para o Fed?
Desde os anos 1970, presidentes americanos evitam intervir diretamente na composição do Conselho de Governadores, preservando a credibilidade do Fed. A iniciativa de Trump rompe essa tradição e cria um precedente delicado: se prosperar, futuros governadores poderiam ser pressionados por risco de demissão “por justa causa” ainda nebulosa.
Além disso, a disputa ocorre às vésperas de decisões sensíveis de política monetária. Mesmo que a tentativa de demissão não avance, o litígio pode contaminar expectativas e tornar a comunicação do comitê mais difícil, sobretudo se o mercado passar a precificar cortes de juros por razões políticas e não estritamente técnicas.
Como entender o caso Lisa Cook em duas camadas?
Para o especialista em análise macro, Fabio Fares, há um eixo pessoal e um institucional nessa discussão. “No plano pessoal, se for comprovada fraude nas declarações, trata-se de falta grave que compromete a credibilidade de Lisa Cook como reguladora. No plano institucional, a execução sumária da demissão, sem aguardar investigação independente e processo transparente, abre um atalho político perigoso, pois sugere que desagradar a Casa Branca pode custar o cargo, mesmo sem decisão judicial“.
Nesse sentido, o resultado é duplamente corrosivo. “A consequência é o desgaste da credibilidade do Fed, com potenciais impactos de longo prazo sobre a confiança global no dólar e na condução da política monetária americana“, avalia Fares
Enquanto Cook promete não renunciar e questiona a legalidade do ato, o caso deve escalar judicialmente. O desfecho poderá definir o alcance do Artigo 2º sobre órgãos independentes e o real significado de “justa causa” para membros do Conselho do Fed. Uma decisão de mérito traria jurisprudência inédita para a relação entre Executivo e autoridade monetária.
Quais são os próximos passos?
- Definição do status funcional de Lisa Cook até decisão judicial ou administrativa.
- Eventuais ações na Justiça federal e possível escalada à Suprema Corte sobre “justa causa”.
- Comunicação do Fed nas próximas reuniões, com pressão adicional sobre forward guidance.
- Monitoramento da curva de juros, dólar e condições financeiras à luz do risco institucional.
 
			



 














