O programa Money Report desta semana reuniu grandes executivos para discutir os efeitos do tarifaço imposto pelos Estados Unidos e seus desdobramentos na economia global e para as empresas. Entre os convidados estavam Gustavo Werneck (Gerdau), Gilberto Tomazoni (JBS), Diego Barreto (iFood), Simoni Morato (Safra National Bank of New York), Vanderson Aquino (Mêntore Bank) e Arthur Gonçalves (Asper). O debate abordou não apenas os impactos diretos das tarifas, mas também temas como inovação, competitividade, juros e governança.
As falas dos executivos revelaram como diferentes setores estão se adaptando ao cenário de protecionismo crescente. Enquanto companhias como Gerdau e JBS reforçam operações locais para reduzir riscos, outras destacam a necessidade de inovação tecnológica e defesa comercial para preservar a competitividade brasileira.
Como as empresas reagiram ao tarifaço?
Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, explicou que “a estratégia da siderúrgica foi operar localmente nos EUA para mitigar os efeitos das barreiras“. Segundo ele, a decisão de separar as operações brasileiras das americanas já vinha sendo amadurecida desde a primeira gestão de Donald Trump, com medidas como a seção 232 do Trade Act. “Assim, a sobretaxa ao aço semiacabado não impacta diretamente a empresa“, avalia.
No setor de proteínas, Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, reforçou que a diversificação geográfica ajuda a compensar os ciclos de baixa. “Apesar de o Brasil exportar 15% da produção para os EUA, o impacto global da tarifa é limitado, mas algumas fábricas específicas podem sentir maior pressão“, destaca.
Inflação e juros: preocupação nos EUA e no Brasil
Simoni Morato, do Safra National Bank em Nova York, destacou que o maior impacto é sentido pelos compradores americanos, sobretudo em setores como papel e celulose. “O repasse das tarifas ao consumidor final eleva preços e pressiona a inflação, o que aumenta o dilema do Federal Reserve entre controlar preços e manter empregos“, afirma.
No Brasil, Vanderson Aquino, do Mêntore Bank, alertou que a alta dos juros compromete tanto famílias quanto pequenas e médias empresas. Ele citou que hoje o empresário paga em torno de 40% de juros, tornando inviável investir em tecnologia e produtividade. “A falta de uma política de longo prazo mantém o país preso ao papel de exportador de commodities“, critica.
O papel da inovação nas empresas em um cenário adverso
Diego Barreto, do iFood, ressaltou que o crescimento do delivery e de segmentos como farmácias e supermercados está ligado à inovação tecnológica e não apenas à pandemia. “O uso de dados e segmentação individualizada permite estratégias de marketing mais eficientes, transformando branding em vantagem competitiva“, avalia.
Na Gerdau, Werneck mencionou que a transformação digital e a inteligência artificial podem elevar o EBITDA em até 20%. Já na JBS, Tomazoni destacou investimentos em biotecnologia e produtos inovadores, como linhas de alta proteína, alimentos para air fryer e parcerias estratégicas para atender mudanças de hábito do consumidor.
O tarifaço é conjuntural ou estrutural?
Essa questão foi levantada por Isabela Xavier, da BVA Advogados, e dividiu opiniões. Para Werneck, a tendência é de longo prazo, com um mundo cada vez mais desglobalizado e voltado para a autossuficiência, especialmente diante do protagonismo da China. Já Tomazoni e Simoni acreditam que haverá uma adaptação gradual, com maior peso para relações bilaterais em vez de acordos multilaterais.
Diego Barreto acrescentou que, no longo prazo, apenas empresas e países produtivos sobreviverão sem depender de subsídios. Para ele, o exemplo da SpaceX nos EUA mostra como a disrupção tecnológica é chave para competitividade global.
Cybersegurança e produtividade: uma nova prioridade
Arthur Gonçalves, da Asper, trouxe dados sobre o impacto da falta de investimento em segurança digital. Segundo ele, o Brasil perde cerca de R$ 40 bilhões ao ano com ataques cibernéticos, o equivalente a 8% do PIB, mas investe apenas uma fração disso em defesa. Já os EUA investem quase 40% do que perdem, limitando o impacto no PIB a 1%. “Investir em cybersegurança é uma forma concreta de aumentar eficiência e mitigar riscos em momentos de crise“, alerta.
O debate convergiu na necessidade de o país adotar uma política de Estado de longo prazo, capaz de reduzir juros, melhorar a educação e estimular investimentos em tecnologia. O exemplo citado foi o plano “Ceará 2050”, que sobreviveu a diferentes governos e transformou o estado em uma das economias mais dinâmicas do país.
No encerramento, Simoni destacou que a COP 30 pode ser uma oportunidade para o Brasil retomar protagonismo em energia limpa e alimentos, mas alertou que o discurso deve ser pragmático, empresarial e focado em produtividade. A mensagem final foi clara: sem inovação, governança e estratégia de longo prazo, o Brasil continuará vulnerável às oscilações externas como o tarifaço.