A temporada de resultados do terceiro trimestre de 2025 reforçou a percepção de que as companhias listadas na Bolsa brasileira vêm atravessando um ciclo de maior resiliência operacional e eficiência na gestão financeira. A avaliação é do estrategista de ações Raphael Figueredo, da XP, que analisou os números já divulgados pelas empresas e destacou sinais consistentes de força entre vários setores. “Quase 60% dessas empresas estão reportando um lucro acima do esperado por nós aqui na nossa equipe de análise, o que mostra que tomaram decisões importantes lá atrás e que o serviço da dívida, dado a taxa de juro elevada, não tem sido um fator tão negativo para pressionar resultados”, destaca.
Segundo o especialista, a atual safra de resultados não serviu para “filtrar” as companhias vencedoras, mas para confirmar as teses de qualidade que já vinham sendo acompanhadas pela casa. O foco está nas empresas que fizeram ajustes estruturais nos últimos anos e, agora, colhem os frutos dessas decisões. Para ele, esse comportamento confirma que as companhias que ajustaram estrutura de custos, reduziram riscos e priorizaram eficiência na alocação de capital estão desempenhando melhor.
Empresas resilientes seguem na liderança da Bolsa
A XP avalia que grande parte das empresas consideradas “de qualidade”, com boa governança, previsibilidade operacional e geração de caixa consistente, continuam liderando a temporada. Algumas acumulam valorização expressiva no ano, entre 70% e 100%, reforçando a aderência dos investidores a modelos de negócio mais sólidos.
Apesar disso o desempenho não é homogêneo. Companhias em processo de turnaround, ainda dependentes de ajustes profundos ou reestruturações, seguem apresentando números mais voláteis e sinalizações menos conclusivas. O estrategista observa que, nesses casos, a recuperação ainda é incipiente, e os resultados não apontam para uma reversão clara de tendência.
Juros altos deixam de ser obstáculo determinante
Mesmo com a taxa Selic em patamar elevado, a análise da XP mostra que a maioria das empresas líderes conseguiu atravessar o ambiente de juros altos de forma organizada. Figueredo explica que o endividamento deixou de ser um fator crítico para essas companhias, em grande parte devido ao trabalho de reorganização realizado nos últimos anos. Veja análise completa aqui.
Já para empresas mais expostas ao crédito, o efeito dos juros ainda pesa sobre custos e margens, o que ajuda a explicar os desempenhos mais fracos e revisões de guidance ao longo da temporada. Figueredo resume o ano como um período de “investimento sem euforia”, onde a valorização ocorre de forma gradual: “É o investimento mais chato, mas também o mais eficiente. Ver a grama crescer devagar: sem euforia, sem grandes saltos. Foi isso que funcionou em 2025.”
Decepções da temporada
Embora a maior parte das empresas da Bolsa tenha apresentado números positivos nesta temporada, algumas companhias divulgaram resultados que frustraram o mercado e provocaram quedas expressivas nas ações no pregão seguinte à divulgação dos balanços. Entre os destaques negativos estão Banco do Brasil, Hapvida, Marcopolo e Boa Safra Sementes, que enfrentaram forte reação dos investidores.
Hapvida (HAPV3)
A Hapvida protagonizou uma das quedas mais intensas desta temporada. Após divulgar o balanço do terceiro trimestre de 2025, marcado por aumento da sinistralidade para 75,2%, recuo no Ebitda ajustado e fluxo de caixa livre negativo, as ações despencaram cerca de 42% em um único pregão, fechando a R$ 18,89. O resultado abaixo do esperado e a deterioração de métricas operacionais reforçaram a preocupação do mercado com a capacidade de a companhia reverter pressões de custos no curto prazo.
Marcopolo (POMO4)
A fabricante de ônibus também decepcionou. No dia seguinte à divulgação dos resultados do 3T25, os papéis caíram mais de 10%, encerrando perto de R$ 7,89. A empresa reportou queda na receita doméstica, volumes abaixo das projeções e revisão negativa de margens e Ebitda, o que ampliou o sentimento de cautela entre analistas e investidores.
Banco do Brasil (BBAS3)
O Banco do Brasil, embora tenha apresentado números operacionais sólidos, revisou para baixo parte do guidance, o que provocou uma reação negativa inicial do mercado. As ações chegaram a cair cerca de 6% na abertura do pregão seguinte e fecharam o dia em baixa de 1,32%, cotadas a R$ 22,50. O ajuste nas projeções levantou dúvidas sobre o ritmo de redução de despesas e o potencial impacto na política de dividendos.
Boa Safra Sementes (SOJA3)
Apesar do avanço na receita e no lucro, a Boa Safra ficou aquém das estimativas de parte do mercado. A XP destacou que os números vieram fracos em relação ao esperado, o que levou a ações a recuarem aproximadamente 15% no pregão seguinte. A combinação de margens pressionadas e geração de caixa mais fraca impulsionou a correção.
Veja mais notícias aqui. Acesse o canal de vídeos da BM&C News.
















