O setor de varejo segue no radar do mercado. Magazine Luiza, Lojas Renner e Alpargatas divulgaram números que indicam ganho de eficiência, reforço logístico e avanço dos braços financeiros, mesmo diante de um ambiente competitivo intenso e de um consumo ainda sensível. Além disso, o setor conviveu com efeitos climáticos que interferiram no giro de coleções e na dinâmica de demanda nas lojas físicas.
Nesse sentido, os resultados combinam estabilidade operacional com ajustes em mix de receitas e disciplina de custos. Por outro lado, a concorrência no comércio eletrônico e a necessidade de entrega rápida com frete competitivo continuam a pressionar margens e participação de mercado. Enquanto isso, a proximidade da Black Friday e do Natal adiciona um vetor sazonal que pode favorecer a normalização de estoques e o crescimento de vendas no quarto trimestre.
Varejo no radar: Magazine Luiza prioriza eficiência e diversificação de receitas
O Magazine Luiza encerrou o período com lucro líquido de R$84,6 milhões, queda de 17,4% e lucro ajustado de R$ 21,2 milhões, recuo de 69,8%. A companhia comunicou avanço no resultado operacional e preservação de margem em meio a leve retração de vendas totais. Além disso, o braço financeiro contribuiu para suavizar a exposição ao ciclo de consumo mais fraco e à competição no marketplace.
Segundo o consultor de varejo Acilio Marinello, sócio da Essentia Consulting, a empresa vem desde o fim do ano passado perseguindo ganhos de produtividade e redução de custos, com sinais de recuperação operacional em cadência gradual. Ele destaca que a participação de serviços financeiros e de logística ajuda a reduzir a dependência do comércio eletrônico e das lojas físicas, criando uma base mais resiliente. Por outro lado, Marinello avalia que o desafio permanece elevado no ambiente de marketplace.
“A Magalu ainda sofre bastante para acompanhar todo o investimento feito por Amazon, por Mercado Livre, dentro das suas operações, reduzindo o tempo de entrega, o frete, o que torna as vendas nesses outros marketplaces mais atrativas do que dentro do marketplace da Magalu”, destaca.
Apesar disso, Marinello avalia que a companhia entregou um resultado positivo. “Mesmo ainda uma cadência um pouco mais lenta, a Magalu vem mostrando uma boa recuperação”, avalia.
Renner avança em logística e produtividade por loja
A Lojas Renner reportou crescimento do lucro líquido de R$ 279,3 milhões, alta de 9,4% e manutenção de lucro ajustado próximo ao observado um ano antes. O EBITDA ajustado foi de R$ 585,9 milhões, alta de 2,9%. O custo das vendas somou R$ 1,37 bilhão, avanço de 2,2% na base anual, e as despesas operacionais subiram 7,7%, para R$ 1,9 bilhão.
Além disso, o indicador de vendas mesmas lojas registrou variação positiva de 3,1%, sinalizando produtividade por metro quadrado em trajetória de melhora. A margem bruta do varejo evoluiu com gestão mais eficiente de estoques e menor necessidade de descontos.
Para Acilio Marinello, a Renner atravessou um ano desafiador com reposicionamento de sortimento e de preços. Nesse sentido, o novo centro de distribuição em São Paulo elevou a capacidade de atendimento do comércio eletrônico e possibilitou fretes mais competitivos. “Isso facilita a sua oferta no e-commerce, com entregas mais rápidas fretes mais baratos“, avalia.
O consultor ressalta ainda que a irregularidade das estações impactou o giro das coleções de inverno e de verão em momentos distintos. “Isso dificulta muito o giro da mercadoria, o faturamento das lojas físicas“, pontua. E especialista também destaca o contexto econômico e a concorrência internacional. “A inadimplência em crescimento, e as famílias tendo que apertar seus orçamentos domésticos, têm um impacto relevante no resultado“, destaca.
Alpargatas também divulgou resultados
A Alpargatas reportou lucro líquido de R$ 171,3 milhões no terceiro trimestre, com crescimento de 199,2% na comparação anual. O lucro líquido ajustado atingiu R$ 173,8 milhões, avanço de 131,4% frente ao mesmo período do ano anterior. O EBITDA ajustado somou R$ 255,7 milhões, com alta de 86,8% e a margem EBITDA ajustada alcançou 22,9% entre julho e setembro, com ganho de 9,7 pontos percentuais sobre o trimestre de referência de 2024. A receita líquida totalizou R$ 1,1 bilhão, expansão de 7,5% em relação ao terceiro trimestre do ano passado.
“Os patamares alcançados neste trimestre representam o foco e o empenho coletivo da companhia em fortalecer a operação global de Havaianas, com uma gestão equilibrada entre rentabilidade, inovação e disciplina. Seguimos crescendo com consistência, sustentados pela força da nossa marca e por uma estrutura financeira sólida”, afirma Liel Miranda, CEO da Alpargatas.
Segundo avaliação da XP, o resultado veio acima do previsto com o EBITDA ficando 24% acima da estimativa da casa, impulsionado por dinâmica mais favorável de receita e custos no Brasil e no exterior. A XP destacou sinais positivos em todas as frentes, com ganho de participação de mercado no Brasil, recuperação de volumes na Europa e preparação dos Estados Unidos para um novo modelo operacional a partir de 2026.
A análise também mencionou a decisão da companhia de não exercer a compra da participação remanescente da Rothy’s e o plano de investir R$ 220 milhões em Capex em 2025, sendo R$ 55 milhões aplicados no trimestre. Os analistas observaram ainda o desempenho do canal de varejo moderno de alimentos, que contribuiu para o ganho de 1,7 ponto percentual de participação de mercado no país, o andamento do processo de redução de capital de R$ 850 milhões, a estratégia disciplinada de preços e a expectativa de maior investimento em marketing no quarto trimestre.
O quarto trimestre pode acelerar a recuperação das empresas de varejo
A aproximação da Black Friday e do Natal tende a impulsionar tráfego nas plataformas digitais e nas lojas físicas. Além disso, a normalização de temperaturas reduz a distorção observada no trimestre anterior e favorece o giro de mercadorias. Nesse sentido, Magalu e Renner chegam ao período com estruturas logísticas mais robustas e com ênfase em rentabilidade, o que pode ampliar a conversão de vendas sem comprometer margens.
A competição no comércio eletrônico permanece intensa, com foco de rivais em encurtar prazos e baratear entregas. Enquanto isso, o ambiente macroeconômico ainda exige cautela, já que a renda disponível das famílias segue pressionada e a inadimplência, embora em ajuste em alguns portfólios, continua como variável de atenção. A execução operacional no pico sazonal será determinante para capturar demanda, otimizar estoques e sustentar geração de caixa.
Os resultados do trimestre indicam que ajustes estratégicos e disciplina de custos produziram efeitos mensuráveis em ambas as companhias. Além disso, iniciativas de logística e a relevância dos braços financeiros ampliam a resiliência de modelos de negócio expostos a ciclos de consumo e a competição digital. Nesse sentido, a temporada promocional pode funcionar como teste de estresse construtivo para medir elasticidade de demanda, eficiência de entrega e capacidade de preservação de margem.