A liquidação extrajudicial do Banco Master, anunciada pelo Banco Central nesta terça-feira (18), reacendeu um tema sensível no sistema financeiro brasileiro: a falência de instituições bancárias e seus efeitos sobre a economia, a confiança dos investidores e a regulação do setor. A quebra de um banco raramente é apenas um evento contábil, ela costuma expor falhas graves de gestão, riscos mal dimensionados e fragilidades estruturais que acabam levando a mudanças regulatórias profundas.
Ao longo das últimas décadas, o Brasil testemunhou episódios emblemáticos de colapso bancário. Alguns deles se tornaram marcos históricos não apenas pelo tamanho dos rombos, mas pelo impacto duradouro sobre correntistas, autoridades regulatórias e sobre a forma como o país passou a supervisionar o sistema financeiro.
A seguir, relembre os principais casos de bancos que deixaram de existir no país, e como cada um desses episódios moldou a regulação vigente.
Banco Nacional (1995): o caso mais simbólico
Fundado nos anos 1940, o Banco Nacional chegou a ser um dos maiores bancos privados do país e estampou seu nome no capacete de Ayrton Senna e em grandes clubes de futebol. O colapso veio à tona em 1995, com a descoberta de 652 contas fictícias e um rombo estimado em R$ 8 bilhões.
A fraude expôs a fragilidade na supervisão bancária da época e impulsionou uma transformação regulatória. O episódio acelerou a criação do Proer, programa de reestruturação do sistema financeiro, e fortaleceu o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), criado naquele mesmo ano para proteger correntistas em situações de quebra bancária.
Banco Econômico (1995): o maior rombo da história
No mesmo ano do colapso do Nacional, outra instituição histórica ruía. Fundado em 1834, o Banco Econômico era o banco privado mais antigo do Brasil, mas não resistiu às mudanças impostas pelo Plano Real.
Investigações revelaram patrimônio fictício e um déficit de R$ 15,8 bilhões. Tentativas de resgate por grandes grupos empresariais fracassaram e o BC decretou a liquidação da instituição.
Bamerindus (1997): um gigante que sucumbiu
Com forte atuação no Sul e expansão pela América do Sul, o Bamerindus era um dos maiores bancos das décadas de 1970 e 1980. A estabilização econômica pós-Plano Real expôs sua fragilidade financeira.
Em 1997, o BC interveio e parte dos ativos foi assumida pelo HSBC. O prejuízo ultrapassou R$ 5 bilhões e o FGC precisou desembolsar mais de R$ 3,7 bilhões (equivalente hoje a cerca de R$ 20 bilhões) para honrar depósitos de clientes.
Banco Santos (2005): maquiagem contábil e intervenção
O Banco Santos, comandado pelo empresário Edemar Cid Ferreira, virou símbolo de contabilidade fraudulenta. O BC interveio em novembro de 2004, após constatar patrimônio líquido negativo de cerca de R$ 700 milhões, além de manipulação de balanços e descumprimento de regras prudenciais.
A falência foi decretada em 2005, encerrando um dos episódios mais conhecidos de gestão temerária no país.
Cruzeiro do Sul (2012): manipulação de dados e rombo bilionário
A liquidação do Banco Cruzeiro do Sul ocorreu após a descoberta de manipulações contábeis e falhas graves de gestão. O rombo superou R$ 2,2 bilhões.
Banco BVA (2013): promessas de rentabilidade e colapso
O BVA se destacou no crédito corporativo e na gestão de recursos, mas desabou após irregularidades contábeis e problemas de liquidez. O FGC realizou pagamentos de aproximadamente R$ 1,2 bilhão a 5 mil investidores, principalmente de CDBs e LCIs. O caso gerou disputas judiciais devido à mudança do teto do FGC pouco depois da intervenção.
PortoCred (2023): o alerta para instituições menores
A falência da PortoCred, em 2023, reforçou os riscos de instituições pequenas que oferecem CDBs de alto rendimento. A liquidação mobilizou cerca de 12 mil credores, com pagamentos realizados por meio do aplicativo do FGC, somando R$ 521 milhões.
BRK Financeira (2025): mais um caso recente
Liquidada em 2025, a BRK Financeira também operava com produtos de risco e enfrentou dificuldades estruturais que resultaram na retirada de sua autorização de funcionamento. Assim como no caso PortoCred, o episódio reacendeu debates sobre governança e transparência.
Um sistema moldado por quebras e o alerta do caso Master
Cada uma dessas falências provocou ajustes importantes na regulação, desde auditorias mais rígidas até o fortalecimento do FGC e mudanças na supervisão prudencial. Em comum, os casos revelam sinais clássicos que costumam anteceder colapsos bancários: fraudes contábeis, gestão temerária, liquidez insuficiente, produtos de risco e supervisão falha.
A liquidação do Banco Master agora se junta a essa lista histórica e deve representar o maior ressarcimento já feito pelo FGC, com R$ 41 bilhões garantidos e cerca de 1,6 milhão de credores.
O episódio é mais um lembrete de que, embora o sistema financeiro brasileiro seja considerado robusto, falhas de gestão continuam sendo capazes de derrubar instituições inteiras e de movimentar órgãos reguladores, investidores e o próprio mercado.
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