O mercado de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) continua em forte expansão e já figura entre as classes mais relevantes do sistema financeiro brasileiro. Somente no primeiro semestre de 2025, o setor alcançou R$ 687 bilhões em Patrimônio Líquido, alta de 10% em relação ao fim de 2024. Além disso, registrou captação líquida de R$ 20,7 bilhões, consolidando-se como a segunda classe de fundos que mais recebeu recursos no país, atrás apenas dos produtos de renda fixa.
No mesmo período, as aplicações líquidas somaram R$ 22,5 bilhões e as ofertas de FIDCs chegaram a R$ 52,4 bilhões entre janeiro e agosto. Nesse cenário de Selic estabilizada em 15% ao ano, os fundos de recebíveis tornaram-se ainda mais decisivos ao oferecer previsibilidade e retornos superiores, além de funcionarem como alternativa robusta ao crédito bancário tradicional. O movimento, porém, traz um ingrediente adicional: uma mudança geográfica que está redistribuindo o protagonismo financeiro no Brasil.
O crédito estruturado tem novo mapa?
A concentração histórica de operações entre Faria Lima e centros financeiros tradicionais começa a perder espaço para polos regionais com alto grau de sofisticação. O exemplo mais emblemático é o Grupo IOX, criado em Sorocaba (SP), que já figura entre os 10 maiores FIDCs multicedente/multisacado do país, segundo dados da CVM referentes ao 1º semestre de 2025. Com Patrimônio Líquido estimado em R$ 1,865 bilhão e crescimento de 91,7% nos últimos 10 meses, a gestora simboliza a força de um interior que aprendeu a competir em escala nacional.
“O crédito deixou de ter CEP. Uma operação estruturada em Sorocaba pode ter a mesma governança que uma feita na Faria Lima. A diferença é que aqui estamos mais próximos das empresas e entendemos melhor seus riscos e oportunidades”, afirma Richard Ionescu, CEO do Grupo IOX.
Por que os FIDCs regionais avançam?
Os FIDCs de perfil multicedente/multisacado têm ganhado espaço ao atender justamente empresas médias e grandes que necessitam de liquidez em um ambiente de crédito bancário apertado. O modelo permite:
- Maior diversificação de risco;
- Previsibilidade de fluxo de pagamento;
- Taxas mais competitivas;
- Operações estruturadas próximas às cadeias produtivas locais.
Nesse sentido, as gestoras regionais se destacam ao operar perto da realidade empresarial do interior, entendendo ciclos de pagamento, gargalos operacionais e oportunidades específicas. “A interiorização do crédito não é apenas geográfica, é estratégica. Quem conhece o ciclo financeiro local estrutura operações com mais segurança e retorno”, complementa Ionescu.
Descentralização é tendência irreversível?
O avanço dos FIDCs fora dos grandes centros reflete uma reconfiguração mais ampla do mercado de crédito brasileiro. A digitalização das operações, a consolidação de bases de dados de risco e o aumento da sofisticação regulatória impulsionada pela CVM criaram condições para uma verdadeira descentralização do financiamento. O resultado é um ambiente que amplia a concorrência, fortalece economias regionais e reduz a dependência das linhas tradicionais de funding bancário.
“O interior paulista está mostrando que é possível gerar crédito de qualidade com base em proximidade e inteligência, não apenas em capital concentrado. Essa é uma nova etapa da maturidade do mercado de capitais brasileiro”, conclui o CEO do Grupo IOX.
















