A alteração nas regras do IOF provocou um movimento intenso de antecipação de aportes no mercado financeiro durante junho de 2025, especialmente no segmento de fundos estruturados. O impacto foi visível nos números divulgados pela indústria: a captação líquida dos fundos em julho alcançou R$ 16,7 bilhões, em contraste com a volatilidade observada nos meses anteriores. O comportamento indica que investidores buscaram ajustar suas posições antes da vigência das novas normas tributárias, acelerando decisões que já estavam em curso.
Dentro desse contexto, a Ouro Preto Investimentos registrou um salto expressivo em um de seus principais produtos. O Ouro Preto FIC FIDC, criado em 2012, passou de cerca de R$ 150 milhões para mais de R$ 550 milhões em patrimônio líquido, aumento de 267% impulsionado pelo fluxo extraordinário do período. O desempenho acumulado entre janeiro e agosto mostra retorno de 10,52%, acima dos 9,02% do CDI no mesmo intervalo.
Captação ganha força com tributação e abertura ao varejo
O crescimento do fundo coincidiu com um aumento generalizado do patrimônio total da gestora e com a ampliação dos canais de distribuição. Em maio — mês em que o governo sinalizou a mudança do IOF — o fundo avançou 11,58%, impulsionado também pela entrada em novas plataformas acessíveis ao varejo. Em agosto, o patrimônio já ultrapassava meio bilhão de reais, apoiado pela estratégia de gestão para otimizar entradas durante a transição regulatória.
Segundo Leandro Turaça, sócio-diretor da Ouro Preto Investimentos, o efeito da tributação mostrou a capacidade de adaptação da indústria. “A mudança do IOF acelerou estratégias que já estavam em construção. O resultado foi transformar uma alteração tributária em vantagem competitiva, com expansão da base de investidores e crescimento do patrimônio”, afirma.
Indústria de FIDCs registra recorde e consolida avanço
O movimento ocorre paralelamente ao crescimento estrutural do setor. No primeiro semestre de 2025, o patrimônio líquido consolidado dos FIDCs atingiu R$ 767,19 bilhões, alta de 47,3% em relação ao mesmo período de 2024. O número de fundos em operação passou de 2.637 para 3.487, avanço de 32,3% em 12 meses. Analistas destacam que a tributação não alterou a essência das decisões dos investidores, mas concentrou aportes, trazendo para um único período uma demanda que se espalharia ao longo de meses.
Para o setor, a combinação entre mudança tributária, ambiente regulatório atualizado e histórico de performance explica por que determinados fundos capturaram de maneira mais eficiente o fluxo positivo de julho. A Resolução CVM 175, que ampliou o acesso do varejo a estruturas antes restritas ao público qualificado, também contribui para o crescimento da base de investidores.
Investidores buscam consistência em meio a incertezas
Segundo Jorge Fernando, sócio e assessor de investimentos da Cultura Capital, a ampliação da acessibilidade reforça a importância da consistência dos fundos. “Em um ambiente de incerteza, o investidor valoriza não apenas o retorno acima do CDI, mas a regularidade com que ele é entregue. A abertura ao varejo amplia o alcance, mas também exige disciplina e transparência”, afirma.
Especialistas observam que a resposta rápida da indústria demonstrou capacidade de adaptação a mudanças de regras e sensibilidade a fluxos provocados por ajustes tributários. Para Turaça, a tendência é que a gestora mantenha crescimento acima de 10% nos próximos meses. “O investidor está mais seletivo e busca casas que entregam consistência de longo prazo. O ritmo atual indica que estamos preparados para crescer acima da média”, diz.
O episódio revela como ajustes regulatórios podem acelerar tendências preexistentes no mercado de crédito estruturado, concentrando aportes, ajustando estratégias e reforçando o papel dos FIDCs como alternativa fortalecida em meio à volatilidade econômica.

