No BM&C Talks desta semana, Carlo Cauti recebeu o jornalista e escritor, Leandro Narloch, para discutir o ambientalismo em ano de COP 30 no Brasil. O convidado apresentou ideias de seu novo livro que busca contestar dogmas e exageros do debate climático. Narloch reconheceu a evidência de aquecimento e a relação com emissões, mas criticou o que chama de catastrofismo e moralismo que afastariam parte da sociedade do tema. O tom da conversa foi o de investigar soluções pragmáticas e produtivas, sem negar problemas ambientais.
“A pauta climática se tornou campo de disputa ideológica e muitas vezes religiosa, com cobrança de penitências e culpabilizações que pouco ajudam a construir consenso“, pontuou Narloch. O autor defendeu que desafios ambientais são de natureza tecnológica e industrial, o que exigiria substitutos eficientes para gasolina, cimento e outras bases do mundo moderno. Além disso, argumentou que o alarmismo repetido compromete a credibilidade de instituições e movimentos que tratam do tema, ao prometer apocalipses que nunca chegam.
O que está em jogo quando o ambientalismo vira moralismo
Narloch afirmou que mortes por eventos climáticos recuaram de forma relevante no último século, em parte porque sociedades ficaram mais ricas e resilientes. Casas mais sólidas, obras de contenção e infraestrutura hidrológica tornaram populações menos vulneráveis. Por outro lado, a crítica central do autor recai sobre a transformação do debate em julgamento moral que coloca cidadãos comuns e empresas como vilões. Nesse sentido, a retórica de acusação produziria reação defensiva e afastamento da agenda ambiental.
Para o escritor, há contradições que precisam ser enfrentadas com honestidade. Ele cita o foco obsessivo em emissões enquanto medidas preventivas locais ficam de lado. O exemplo das queimadas ilustra o ponto. Em vez de somente atribuir tudo à mudança do clima, seria essencial retomar práticas de manejo e queimadas controladas que reduzam biomassa acumulada. Por outro lado, políticas públicas inspiradas em modismos terminam por piorar indicadores que pretendem melhorar.
Existe um ambientalismo compatível com o mercado
Questionado por Cauti, Narloch disse ver espaço para um ambientalismo liberal e ecomodernista. Citou experiências defendidas por centros de pesquisa que combinam incentivos de propriedade e resultados ambientais. O caso de vida selvagem na África foi citado como ilustração de como regras bem desenhadas podem transformar espécies em ativos valiosos para comunidades locais, criando aliança entre conservação e renda. Enquanto isso, no Brasil, a insegurança regulatória e a burocracia desestimulam iniciativas de reflorestamento com espécies nativas.
O debate também abordou o mercado de créditos de carbono. Para Narloch, o mecanismo é promissor quando voluntário e transparente. Há, contudo, distorções regulatórias e protecionismos que reduzem eficácia e preço dos créditos. Além disso, a imposição indiscriminada de metas rígidas a países pobres pode impedir a transição energética mínima para substituir práticas ainda mais danosas ao ambiente e à vida humana, como a queima de carvão vegetal para cozinhar.
Quando a política climática fracassa na prática
Outro eixo da entrevista tratou de políticas públicas que ganham adesão pela estética sustentável e perdem na análise de ciclo de vida. Narloch apontou que o canudo de papel e certas sacolas de papel apresentam pegada hídrica e de carbono superior à de opções plásticas em diversos estudos. O resultado é simbólico e pouco efetivo. Ao mesmo tempo, departamentos de sustentabilidade em empresas se aproximam do marketing e priorizam ações de imagem. Nesse quadro, a pauta perde foco técnico e se distancia de métricas mensuráveis.
O autor criticou ainda o inchaço de grandes conferências internacionais. Caso a emergência fosse levada ao pé da letra, encontros poderiam ser mais enxutos e híbridos, reduzindo deslocamentos e emissões associadas. Para ele, a COP 30 em Belém ilumina um conflito real entre valores de elites urbanas e necessidades imediatas da população amazônica que busca infraestrutura, renda e mobilidade. A ausência de soluções produtivas alimenta o ressentimento social com a agenda ambiental.
Quais caminhos podem reconectar sociedade e agenda verde
O programa avançou para propostas que reconectem a pauta ambiental à vida real. Narloch defendeu foco em pragmatismo, incentivos econômicos e avaliação rigorosa de políticas. Energias de baixa emissão que dependem de inovação privada foram lembradas como parte da resposta. A ideia é trocar proibições generalistas por corredores claros de investimento, com segurança jurídica e competição por eficiência. Ao mesmo tempo, é preciso separar ciência de militância e calibrar comunicação para não prometer catástrofes inverificáveis.
Em síntese, o entrevistado sustenta que a discussão pública precisa abandonar rótulos e penitências para privilegiar resultados concretos. Sem isso, a pauta corre o risco de se tornar um instrumento de animosidade e polarização, com impacto político e econômico desfavorável. O recado final do BM&C Talks foi que a sociedade pode conciliar crescimento, inovação e proteção ambiental, desde que a conversa seja ancorada em dados, custo benefício e liberdade para empreender.
Pontos centrais do debate sobre ambientalismo
- Reconhecimento de aquecimento e defesa de soluções tecnológicas com incentivos adequados
- Crítica ao catastrofismo que corrói credibilidade e afasta a sociedade
- Importância de políticas com base em ciclo de vida e não em símbolos
- Potencial de mercados voluntários de carbono com regras claras e preço eficiente
- Necessidade de segurança regulatória para investimentos em conservação e energia limpa
Ao fechar o programa, Carlo Cauti reforçou que a entrevista não nega a gravidade de desafios ambientais. O objetivo foi mostrar caminhos mais eficientes e factíveis para lidar com eles. O livro de Leandro Narloch chega ao público com a proposta de desafiar unanimidades e estimular debate informado. A partir desse diálogo, o BM&C Talks convida o leitor a refletir sobre políticas que entreguem benefícios ambientais reais com menor custo social e econômico.