A Azimut Benetti — maior grupo global de embarcações de luxo — enxerga o Brasil como peça estratégica de crescimento e de exportação, mas liga o sinal de alerta para mudanças tributárias em discussão no país. Em entrevista ao BM&C Business, Francesco Caputo, CEO da Azimut Yachts Brasil e responsável pela América do Sul, afirmou que a unidade de Itajaí (SC), única fábrica do grupo fora da Itália, já responde por 11% a 12% das receitas globais e posiciona o Brasil como terceiro maior mercado em volume, atrás de Estados Unidos e Europa.
“Temos 700 funcionários na fábrica e produzimos 45 embarcações nos últimos 12 meses”, disse Caputo. Segundo ele, a planta opera com certificação ISO, já fabricou 500+ barcos desde sua inauguração e hoje mantém duas linhas desenvolvidas no Brasil para exportação. O polo catarinense, reforça, beneficia toda a “economia do mar”: marinas, manutenção, tripulações, mecânicos e serviços associados. “É uma cadeia que gera emprego qualificado e renda, com efeito transformador sobre a região.”
Polo industrial e vocação exportadora
Instalada em Itajaí desde 2010 — em contexto de incentivos do programa estadual Pronáutica, logística de porto e mão de obra especializada — a unidade brasileira produz modelos de 51 pés a 27 metros, incluindo embarcações acima de 70 pés. “A logística internacional ainda é o principal gargalo das exportações, por causa do custo de transporte e poucas rotas para barcos. Mesmo assim, as vendas externas crescem”, afirma o executivo.
Caputo destaca ainda a adaptação “glocal” de produtos ao gosto do cliente brasileiro, como áreas gourmet na popa para o tradicional churrasco de domingo, e o avanço em materiais leves (fibra de carbono), reciclados e painéis solares para reduzir consumo e emissões. “Investimos continuamente em P&D para eficiência e menor impacto ambiental.”
Risco tributário: IPVA e “imposto seletivo”
Apesar do momento favorável de demanda, o executivo é taxativo sobre o impacto potencial de novas cobranças. “Estamos num momento de incerteza. Fala-se em IPVA sobre embarcações, fim de incentivos setoriais e inclusão no ‘imposto seletivo’. Se tudo isso avançar, pode se tornar inviável manter o negócio no Brasil”, disse.
Caputo cita a experiência italiana como alerta: quando uma taxa semelhante foi introduzida, “a náutica na Itália caiu cerca de 90%”, com proprietários migrando suas bandeiras para jurisdições mais baratas e uma queda relevante na arrecadação indireta (combustível, restaurantes, serviços e manutenção). “Para arrecadar 10, perde-se 100 em efeitos colaterais”, resume. O temor, segundo ele, é ver fábricas fechando e a demanda por barcos novos minguando no curto prazo caso o custo recorrente seja percebido como “abusivo” pelo consumidor.
“Economia do mar” e impacto regional
O caso de Itajaí ilustra, na visão do CEO, o efeito multiplicador do setor: atração de investimentos, nova malha de fornecedores, marina no centro da cidade e mercado de trabalho aquecido — com relatos de “desemprego negativo” na região. Cidades vizinhas, como Balneário Camboriú, também se beneficiaram da expansão do ecossistema náutico.
“Não é apenas um estaleiro fabricando um bem de luxo. É um ecossistema inteiro de pequenas e médias empresas”, diz. “O Brasil tem clima favorável e 8 mil km de litoral. Há espaço para ampliar infraestrutura e acesso, com ganhos sociais e fiscais.”
Mercado e cliente
Segundo Caputo, não há “crise do luxo” na náutica. Nos últimos cinco anos, o mercado cresceu cerca de 50% em novos compradores, o que sustenta a demanda. O cliente típico é empresário — de faixa etária variada, incluindo 30 a 40 anos em segmentos de tecnologia — que busca “tempo de qualidade com a família” e design de alto padrão.
No São Paulo Boat Show 2025, a percepção foi positiva: público qualificado e apetite pelas novidades. Entre os lançamentos, a Azimut 58 (também produzida na Itália) e um novo modelo de 25 metros feito no Brasil para exportação global.
O que está em jogo
- Competitividade industrial: manutenção de empregos qualificados e expansão de exportações dependem de custo Brasil, logística e previsibilidade regulatória.
- Arrecadação sustentável: risco de efeito bumerangue com impostos recorrentes que desestimulam o uso e achatam cadeias de serviços.
- Política pública: calibrar a reforma para não desestruturar um cluster que já provou capacidade de gerar renda, tributos e investimento privado.
“O setor náutico brasileiro está pronto para competir e exportar. O que precisamos é de regras claras que preservem a viabilidade da cadeia e o emprego de milhares de pessoas”, conclui Caputo.
Veja mais notícias aqui. Acesse o canal de vídeos da BM&C News.